Homilia de Pe. Matheus Pigozzo – Ascensão do Senhor – Ano C

“O Senhor subiu ao toque da trombeta, porque é o grande rei de toda terra” (Cf. Sl 46)


Nos lembra a oração coleta dessa solenidade que nossa humanidade, em Cristo, chegou ao alto dos céus. Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, no céu eleva a dignidade dos seres humanos. Por ter assumido a natureza humana, esta está, como escreve São Paulo aos Efésios, no trono da glória acima de toda autoridade, poder e potência do mundo (Cf. Ef 1,20-21). Contemplando o mistério da Ascensão podemos fazer nossas as palavras do Salmo 112 – “do lixo Ele retira o pobrezinho para assentar-se com os nobres…”. Deus, em seu plano salvífico, resgatou o homem de sua baixeza e o elevou.
O Filho de Davi, o Logos que assumiu nossa história, que se fez um de nós, sobe glorioso aos céus. Romano Guardini, nos faz pensar na condição da casa de Davi, que por sua infidelidade estava sem glória e deixada na pobreza e obscuridade (Cf “O Senhor – reflexões sobre a pessoa e a vida de Jesus Cristo). A família de Davi, escolhida para sediar o Messias, poderia, nesse sentido, representar a humanidade pecadora, que abdicou de seu caminho nobre de ascensão pela amizade divina. A casa de Davi, em Cristo – o pobre de Nazaré – e, também, a humanidade é elevada ao trono celeste.
No batismo, recebemos a unção na fronte. Uma vez inseridos em Cristo, a dignidade régia está em nós! O Rei glorioso nos tornou n’Ele, filhos do Pai das luzes. A Carta aos Efésios nos traz a palavra “herança” (1,18), o que nos pode fazer refletir que essa realeza espiritual objetivamente adquirida por Cristo a nós, tem algo de tarefa subjetiva, pois, para recebermos a herança devemos viver como membros da família do Rei.
Como dizem os franceses noblesse oblige – a nobreza obriga. A nobre dignidade de filhos de Deus, nos reclama um modo de ser elevado, redimido, o modo de ser cristão, regido pelo amor e pela verdade. São Paulo é claro aos Colossenses – “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus.” (3,1-2). Essa é a grande tarefa de nossa vida: imitar e se unir a Cristo Senhor, permitindo que constantemente Ele nos tire de nossa baixeza e nos eleve com sua graça.
O “homem novo”, herdeiro do céu, consciente do amor de Deus por ele e da alta dignidade na qual foi inserido, sabe que em todas as circunstâncias deve viver como filho de Deus. Aberto à graça de Cristo, esforça-se a buscar as coisas do alto. O óleo real com o qual foi marcado traz um perfume, sinal que lembra sua missão de espalhar no seu olhar, nas suas palavras e ações, no perdão, na misericórdia, na audácia e piedade, o bom odor de Cristo.
Olhar Cristo no céu deve nos fazer pensar que Ele “quer que todos os homens sejam salvos, e venham ao conhecimento da verdade.” (1 Timóteo 2,4). Desse modo, devemos tomar para nós a exortação dos anjos na ascensão “por que ficais aqui parados…?” (Cf At 1,11). Ir ao mundo como filhos de Deus e eleva-lo a Deus! O bom odor de Cristo, a nobreza da vocação cristã espalhada nas fábricas, no campo, nas cidades, nas casas, nos círculos sociais e famílias, nas favelas e vilas. Essa nobreza celeste promove a ascensão do mundo a Deus à sua vocação de redimido. Esse desejo de tornar as pessoas conscientes da herança celeste e motivadas para viverem no caminho faz parte de um coração que busca as coisas do alto.
Sem medo do mundo, pois é filho do Dono, o cristão quer reordená-lo, limpá-lo, amá-lo, e isso não por guerras e imprecações, mas com postura digna, com testemunho coerente, com exemplo, com caridade ardente, com amizade e alegria, com anúncio da verdade que liberta e redime. Uma pessoa nobre inspira os demais, os cristãos por amarem a Cristo e receberem sua graça e sua unção, devem inspirar a todos ao seguimento de Jesus e a desejar o Reino dos Céus.
Recorramos à Virgem Maria, ela, Rainha do Céu, nos ajuda a abrir-nos ao Espírito Santo para sermos bons filhos de Deus. Amém!

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