Homilia de Dom Henrique Soares da Costa – XII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Zc 12,10-11;13,1
Sl 62
Gl 3,26-29
Lc 9,18-24

A Palavra que hoje escutamos coloca-nos diante da questão fundamental de nossa fé: quem é Jesus de Nazaré? Sejamos espertos; estejamos atentos a um detalhe importantíssimo: Jesus distingue a pergunta sobre a opinião do mundo, daquela outra, sobre a fé dos discípulos. “Quem diz o povo que eu sou?” E as opiniões são humanas e, portanto, incompletas, parciais, superficiais: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. Ainda hoje é assim: o mundo não poderá jamais compreender Jesus em sua profundidade e verdade última. Uns acham-no um sábio; outros, um iluminado, ou um filósofo, ou um humanista, ou um revolucionário romântico, do tipo Che Guevara; outros acham-no, sinceramente um alienado ou um falso profeta… Em geral, o mundo atual, vê-lo quase como um mito, bonzinho, romântico, mas sem muita serventia prática…

Mas, Jesus, pergunta aos discípulos, pergunta a nós: “E vós, quem dizeis que eu sou?” A resposta de Pedro é perfeita, é completa: “Tu és o Cristo, o Ungido, o Messias de Deus”. Esta resposta não veio da lógica humana, da inteligência ou da esperteza de Pedro. Em Mateus, Jesus afirma-o claramente: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne ou sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está no céu” (Mt 16,17). A afirmação do Senhor é clara, direta e gravíssima: carne e sangue, isto é, a só inteligência humana, não pode alcançar quem é Jesus! Somente na revelação do Pai, isto é, somente na experiência da fé da Igreja, nós podemos ter acesso ao mistério de Cristo, à sua realidade profunda. Portanto, não nos deve surpreender se o mundo tem dificuldade de crer realmente, de aceitar seriamente o Cristo e as exigências do seu Evangelho! Não devemos nos importar muito com o que as revistas e as ciências (história, sociologia, antropologia…) dizem a respeito de Jesus. Elas não conseguem penetrar no núcleo do seu mistério; ficam sempre no limiar, na soleira. Então, é na escuta fiel e devota da Palavra, na oração pessoal, na vida da comunidade eclesial, no empenho sincero e sacrificado de viver o Evangelho com suas exigências e, sobretudo, na celebração dos santos mistérios que podemos fazer uma experiência autêntica de quem é Jesus. Não cremos simplesmente no Jesus que a ciência ou a história podem apreender; cremos no Cristo crido, adorado, experimentado e anunciado pela Igreja, a partir do testemunho dos Apóstolos!

Mas, tem mais! O núcleo do mistério de Cristo é o mistério de sua Cruz. Observe-se bem: assim que Pedro afirma que Jesus é o Messias, ele precisa, esclarece que tipo de Messias ele é: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado… deve ser morto e ressuscitar ao terceiro dia”. Somente na Cruz o discípulo pode reconhecer em profundidade o seu Senhor. Mas, a Cruz não é uma teoria; é uma realidade em nossa vida e na vida do mundo: a Cruz da solidão, do fracasso, da doença, das lágrimas, da pobreza, da morte… Somente quando abraçamos na nossa Cruz a Cruz de Cristo, podemos, então, compreendê-lo: “Se alguém me quer seguir, quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome sua Cruz cada dia, e siga-me!” Fora da Cruz, fora do seguimento de Cristo até o fim, não há verdadeiro conhecimento do Senhor, não há a mínima possibilidade de uma verdadeira comunhão com ele. São Paulo nos emociona, quando afirmou: “O que era para mim lucro eu o tive como perda, por amor de Cristo. Mais ainda: tudo eu considero perda, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por ele, eu perdi tudo e tudo tenho como esterco, para ganhar a Cristo e ser achado nele.. para conhecê-lo, conhecer o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte, para ver se alcanço a ressurreição” (Fl 3,7-11). É preciso que rejeitemos claramente um cristianismo bonzinho, almofadinha, burguês, bem comportadinho, que agrade ao mundo! O cristianismo é radical, é escandaloso, na sua essência, é incompreensível ao mundo “A linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se perdem!” (1Cor 1,18) – Será que não andamos meio esquecidos disso? E, no entanto, “para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1,19). Na fé, contemplamos a Cruz do Senhor, tão dura para ele e para nós, e vemos nela a fonte de purificação e de vida de que fala a primeira leitura da missa de hoje (Zc 12, 10 -13). Do coração amoroso e ferido do Cristo, brota a vida do mundo e o sentido último da nossa existência. As palavras são impressionantes: “Derramarei um Espírito de graça e de oração… Eles olharão para mim. Quanto ao que traspassaram, haverão de chorá-lo, como se chora a perda de um filho único, e hão de sentir por ele o que se sente pela morte de um primogênito. Naquele dia, haverá uma fonte acessível para a ablução e a purificação”.

Eis o escândalo: não cremos na tocha olímpica, não cremos que a globalização trará a salvação, não cremos que a ciência salve o ser humano dos demônios e monstros do seu coração, não cremos que a tecnologia nos faça mais felizes, não cremos que o esporte traga a paz universal, não esperamos que o prazer e o poder nos saciem o coração! Não somos idólatras para a perdição! Cremos que Jesus é o Cristo; cremos que pela sua Encarnação, Cruz e Ressurreição ele nos deu uma vida nova, uma torrente de vida na potência do seu Espírito Santo. Cremos que Jesus é a nossa verdade, o nosso caminho e o sentido último da realidade. Por isso nele fomos batizados, dele nos alimentamos e nele queremos viver.

Quando levarmos isso a sério, seremos cristãos e iluminaremos o mundo. Que o Senhor no-lo conceda por sua misericórdia. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

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