Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – XVI Domingo do Tempo Comum (Ano A)

 A Parábola do Joio e do Trigo

Mt 13,24-43

Caros irmãos e irmãs,

As leituras bíblicas que compõem a Liturgia da Palavra deste domingo nos convidam a refletir sobre a paciência e a misericórdia de Deus. A primeira leitura (cf. Sb 12,13.16-19), nos fala de um Deus que, apesar da sua força e onipotência, é indulgente e misericordioso para com todos, mesmo quando os homens praticam o mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos a terem um coração misericordioso e também indulgente, semelhante ao seu próprio coração. Sequenciando este mesmo tema está também a segunda leitura, que sublinha a bondade e a misericórdia do Senhor.

No Evangelho deste domingo continuamos a escutar o Senhor que, sentado na barca, prossegue nos falando do Reino dos Céus. Assim como aquela multidão estava à beira do mar a ouvir o Senhor, estejamos também nós atentos aos seus ensinamentos.

O texto evangélico nos apresenta três parábolas contadas por Jesus: O trigo e o joio, o grão de mostarda e o fermento na massa. Jesus pregava usando a imagem rica e expressiva das parábolas, breves narrações utilizadas para anunciar os mistérios do reino dos céus.  A partir das  imagens e situações da vida quotidiana, o Senhor nos indica o verdadeiro fundamento de todas as coisas. Ele nos mostra o Deus que entra na nossa vida e quer nos guiar pelo caminho do amor, do bem e da salvação.

O joio queimado no fogo, a fornalha ardente, o choro e o ranger de dentes são os símbolos utilizados para impressionar os crentes, obrigá-los a repensar os seus esquemas de vida e a voltar à fidelidade a Deus. Portanto, o evangelista apresenta um convite urgente à conversão.

A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio (vv. 24-30). Trata-se de um quadro da vida quotidiana: há um senhor que semeia a boa semente no seu campo, mas um inimigo, visando prejudica-lo semeia também o joio, uma erva da família dos gramíneos, cujas espécies são conhecidas pelos frutos infestados por fungos, que prejudicam as plantações.  A ordem do senhor é para deixar crescer o trigo e o joio lado a lado, a separação do bem e do mal será feita apenas no momento da colheita.

Essa parábola deve ser entendida no contexto do ministério de Jesus. Ele conviveu com os pecadores, com os marginais, com os que levavam vidas moralmente condenáveis. Sentou-se à mesa com gente desclassificada, deixou-se tocar por pecadoras públicas, convidou Mateus, um publicano, para fazer parte do seu grupo de discípulos. Com esse comportamento, Jesus quis dizer que todos são convidados a fazer parte da sua família.

Os fariseus consideravam inaceitável esta atitude de Jesus. Para eles, quem não cumpria a Lei era excluído do Povo de Deus.  Nesta parábola, Jesus mostra que o pensamento dos homens é diferente do pensamento de Deus.  O agir de Deus tem como base a paciência e a misericórdia; e oferece sempre ao homem todas as oportunidades para refazer a sua existência e integrar plenamente à comunhão com o seu Criador, que tem um plano de salvação a todos: bons e maus. No tempo oportuno, serão identificados os maus e os bons; e então irá ocorrer a separação.  Segundo o texto bíblico o trigo e o joio podem crescer juntos, mas no Juízo Final irá ocorrer a divisão dos bons e dos maus. São Mateus insiste que o “dia da colheita”, imagem utilizada pelos profetas, se identifica com o dia do “juízo de Deus” sobre os homens e o mundo, os bons receberão a recompensa e os maus receberão o castigo.

Na parábola do trigo e do joio encontramos duas atitudes: Por um lado, a impaciência dos homens que querem a destruição: “Queres que arranquemos o joio?” (v. 28); e, por outro lado, a paciência de Deus: “Deixai crescer um e outro até a colheita!” (v. 30).  Certamente nós gostaríamos que Deus se mostrasse mais forte, que vencesse imediatamente o mal e fizesse o bem prosperar, para termos um mundo melhor. Muitas vezes sofremos com a paciência de Deus, mas esquecemos que também nós temos necessidade dessa paciência. Esquecemos que também nós erramos e precisamos sempre do seu perdão e da sua misericórdia.

Jesus explica no Evangelho: “O inimigo que semeou o joio é o diabo” (v. 39). O inimigo de Deus e das almas sempre lançou mão de todos os meios humanos possíveis para instabilizar a vida do homem e a sua unidade com a importância da família estavelmente constituída, a unidade e a indissolubilidade do matrimônio, e a vida humana respeitada e protegida desde o momento da concepção. 

Jesus compara o Reino dos céus a um campo de trigo, para nos levar a compreender que dentro de nós foi semeado algo de pequeno e escondido que, no entanto, possui uma força vital e perene. Mesmo com os eventuais obstáculos, a semente irá se desenvolver e o fruto amadurecerá. Este fruto só será bom, se o terreno da vida for cultivado em conformidade com a vontade divina. Isto significa que devemos estar prontos para conservar a graça recebida desde o dia do Batismo, continuando a alimentar a fé no Senhor; isto nos fortalece e impede que o mal ganhe raízes em nós. 

Deus é sempre paciente com cada um de nós, os pecadores. A paciência de Deus com o joio nos convida a rejeitar toda atitude de rigidez, intolerância, incompreensão e vingança nas nossas relações com os outros. O senhor da parábola não aceita a intolerância, a impaciência e o radicalismo dos seus servos que pretendem cortar o mal pela raiz e arrancá-lo, correndo o risco de serem injustos, de se enganarem, colocando o mal e o bem no mesmo ambiente. Às vezes, somos demasiados ligeiros em julgar e condenar. A Palavra de Deus nos convida a moderar a nossa dureza, a nossa intolerância, a nossa intransigência e a contemplar os irmãos, com as suas falhas, defeitos, diferenças e comportamentos. Saibamos olhar as pessoas com os olhos benevolentes, compreensivos e pacientes de Deus.

Para que possamos transformar o joio em trigo, devemos ser a semente de mostarda, pequena, insignificante, mas que cresce até aninhar os pássaros em seus ramos. Devemos ser o fermento, que leveda toda a massa da farinha, o mundo em que vivemos.  O fermento é também a figura de cada um de nós. Vivendo no meio do mundo devemos conquistar com o nosso exemplo e com a nossa palavra novas almas para o Senhor.  O joio e o trigo estão presentes em toda parte. Frequentemente nos deparamos com o joio da desunião, da inveja, das fofocas. Fiquemos atentos pois, dentro de cada um de nós, há trigo e joio.

Que o Senhor nos faça ser o trigo do amor, da dedicação e da colaboração. Que seja afastado de nós o joio do ódio, da discórdia, da calúnia… É preciso saber valorizar a semente de trigo presente no coração de cada pessoa; cultivá-la com paciência e amor. Respeitar o processo de amadurecimento de cada pessoa, sendo paciente e misericordioso.   A Palavra de Deus nos convida, contudo, a não perder a confiança e a esperança.

Peçamos a intercessão da Virgem Maria, para que ela nos ajude a seguir sempre o Senhor Jesus, na oração e na caridade, colocando em prática os seus ensinamentos e semeando em todos os lugares a semente da unidade, do bem e da paz.  Assim seja. 

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ.

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