Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – Domingo de Ramos – Ano C

Domingo de Ramos

Caros irmãos e irmãs,

 Com o domingo de Ramos iniciamos a Semana Santa e somos chamados a reviver os últimos momentos de Cristo em sua peregrinação terrena. A celebração consta de dois momentos: Inicialmente temos o relato da sua gloriosa entrada na cidade de Jerusalém e, em um segundo momento, a leitura da sua gloriosa paixão.

Logo no início da celebração temos a descrição da entrada de Jesus em Jerusalém montado em um jumentinho.  Os mantos são estendidos diante dele e uma voz faz ressoar: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Lc 19,38).  Em um clima de alegria os ramos são agitados em um sinal de festa, e também nós somos chamados a agitar os nossos ramos e somos convidados a seguir o Cristo.  Caminhamos com ele. Jesus entra em Jerusalém mostrando a sua condição de rei e Senhor, mas com o objetivo de subir ao calvário e para morrer pregado em uma cruz: o seu trono glorioso, pois ele passa pela morte para chegar à ressurreição. 

No relato da Paixão de Jesus temos a descrição do evangelista São Lucas, que nos apresenta o Cristo Senhor que vem ao nosso encontro, para manifestar a todos, em gestos concretos, a bondade e a misericórdia de Deus.  Essa ideia está presente no gesto de curar o guarda ferido no Jardim do Getsêmani (cf. Lc 22,51) e no perdão conferido aos seus adversários.  Isto quer mostrar que o discípulo de Jesus não pode agredir ninguém, mas deve estar sempre disposto a curar as feridas provocadas pelos outros e a perdoar mutuamente. 

Em um outro momento da narração observa-se um detalhe.  Pedro, após haver negado o Mestre, saiu para fora e começa a chorar.  São Lucas narra que o “Senhor, voltando-se, fixou o seu olhar em Pedro” (Lc 22,62).  Um gesto comovente que mostra a compreensão de Jesus pela fraqueza do seu discípulo e é também o sinal do perdão que lhe concede.  Jesus é compreensivo e misericordioso e a todos lança o seu olhar misericordioso e repleto de amor.

No relato da Paixão, podemos ainda testemunhar os sofrimentos de Jesus, em particular a sua angústia na agonia no monte das Oliveiras.  Contudo, mesmo diante deste sóbrio quadro, o Evangelista São Lucas relata com uma certa sutileza a misericórdia do Pai, ao transcrever em seu Evangelho algumas frases de Jesus. Nossos olhos se voltam para os momentos finais de Cristo na cruz, quando diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,24). Jesus não se limita a perdoar, vai mais longe. Ele sabe que a fonte de todo o amor e de todo o perdão não está nele, mas no Pai. Ele se apresenta diante do Pai como o intercessor a quem o Pai nada pode recusar. Ele se apaga, para que vejamos que é a vontade do Pai que se está a cumprir. É a oração de Jesus por nós.

Jesus foi crucificado no meio de dois criminosos, considerados perigosos bandidos, em razão dos erros praticados.  Um deles zombava do Cristo, enquanto o outro, após repreender o seu companheiro, disse a Jesus: “Lembra-te de mim, quando estiveres no teu reino” (Lc 23,42).  E Jesus, mesmo agonizante, lhe respondeu: “Em verdade, vos digo, hoje estarás comigo no paraíso” (v. 43).  O ladrão, que a tradição conhece como São Dimas, passou a ser conhecido como o Bom Ladrão e deixou para nós um exemplo de uma oração simples, onde pede apenas para ser lembrando, mas  o Senhor lhe concede muito mais: estar na nova humanidade dos redimidos.

Todos os evangelhos sinóticos falam da requisição de Simão de Cirene para auxiliar Jesus levar a sua  cruz (cf. Mt 27,32; Mc 15,21); no entanto, só o evangelista São Lucas sublinha que Simão transporta a cruz “atrás de Jesus” (cf. Lc 23,26). Este dado quer nos mostrar o modelo do discípulo de Cristo: é aquele que toma a cruz de Jesus e o segue no seu caminho, pois ele mesmo já havia dito: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e siga-me” (Lc 9,23). Possamos também nós acompanhar o Cristo neste momento.  E com a atitude de Cireneu, que se coloca junto de Jesus, para auxiliá-lo a carregar a cruz, a dividir com ele este peso, possamos também lembrar de tantos que necessitam do nosso auxílio e da nossa ajuda, pois ele mesmo disse: “Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25,40).

Logo no início da celebração litúrgica deste dia, a Igreja antecipa a sua resposta ao Evangelho, dizendo: “Sigamos o Senhor”. É o seguimento. Somos chamados a considerar o caminho de Jesus Cristo como o caminho justo: uma peregrinação, um ir juntamente com Jesus Cristo. Um ir naquela direção que Ele nos indicou e nos indica.  Jesus caminha diante de nós, e vai para o alto. Ele seguiu adiante. Ele sobe a Jerusalém. Ele também quer nos conduzir para Deus, mas, ao mesmo tempo, deseja  habitar entre nós, estar totalmente conosco.

O seu caminho conduz para além do cume do monte do Templo até à altura do próprio Deus. É esta a grande subida à qual Ele nos convida a fazer.  Assim, na amplitude da subida de Jesus tornam-se visíveis as dimensões do nosso seguimento a meta para a qual Ele nos quer conduzir: até às alturas de Deus, à comunhão com Deus. É esta a verdadeira meta. É a comunhão com Ele. É o caminho. A comunhão com Ele é um estar a caminho, uma subida permanente rumo à verdadeira altura da nossa chamada.

A cruz faz parte da subida para a altura de Jesus Cristo, da subida até à altura de Deus. Jesus sobe à altura de Deus através da cruz. A cruz é expressão daquilo que o amor significa: só quem se perde a si mesmo, se encontra.

E como a multidão que segue Jesus rumo ao calvário, possamos viver estes dias participando das celebrações em clima de oração e de unidade com Ele.  E que ao longo desta santa semana, que nos leva à Páscoa, possamos trafegar por este caminho que nos faz lembrar a humilhação de Cristo. É o caminho da humildade. Percorrendo este caminho Jesus se fez servo.  Ele esvaziou-se de si mesmo para ser o servo de todos.

Possamos pedir a intercessão da Virgem Maria para que tenhamos sempre o desejo de caminhar com Cristo.  E junto com Maria, possamos contemplar ao pé da cruz Aquele que deu a sua vida por nós.  E saibamos ser no mundo um sinal expressivo e eficaz do seu amor, expresso no sofrimento, visando a nossa salvação. Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros