Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva – Festa do Batismo do Senhor

O BATISMO DO SENHOR

Mt 3,13-17

 

Caros irmãos e irmãs,

Com a Festa do Batismo do Senhor conclui-se o tempo de Natal e somos convidados a irmos, como peregrinos até às margens do Rio Jordão para participar de um misterioso acontecimento:  o Batismo de Jesus por parte de João Batista. 

Jesus foi ao encontro de João, para ser batizado por ele, embora não necessitasse deste símbolo de purificação.  Jesus quis ser batizado porque ainda não se manifestara como o Messias. Não convinha, pois, que fosse diferente dos outros.  Jesus faz-se batizar não por necessidade, mas para dar um grande exemplo de humildade. Com isto Jesus santifica a água, instituindo o batismo, cuja necessidade mais tarde mostraria a todos.

O batismo de Jesus, que hoje recordamos, insere-se nesta lógica da humildade: é o gesto daquele que quer tornar-se um de nós, que se põe em fila juntamente com os pecadores. Ele, que é isento do pecado, deixa-se tratar como pecador (cf. 2Cor 5,21), para carregar nos seus ombros o peso da culpa da humanidade inteira. A sua humildade é definida pelo desejo de estabelecer uma comunhão plena com a humanidade, pelo desejo de realizar uma verdadeira solidariedade com o homem e com a sua condição.

No momento do batismo de Jesus, vimos que o Espírito Santo desceu em forma de pomba.  Uma grande luz brilhou no céu, como se o céu se abrisse. Todos viram o Espírito Santo descer sobre Jesus na forma de pomba.  A pomba é o símbolo da paz, do amor puro, da inocência e da simplicidade (cf. Ct 2,14). O Espírito Santo ilumina os corações, transmite a luz divina, restaura a paz, ensina a vida de simplicidade e inocência.  E o símbolo dessa realidade toda é a pomba.

Na cena do batismo de Jesus, aparece claramente que em Deus há três pessoas realmente distintas:  Pai, Filho e Espírito Santo. O Filho é batizado. Deus pai apresenta seu Filho e dá testemunho: “Este é  o meu Filho”. Com isto percebemos que é diante da multidão que o Pai proclama sua filiação divina. O Espírito Santo desce sobre Jesus em forma visível, em forma de pomba.  Jesus em seu batismo recebeu o Espírito como nós o recebemos. Mas a aparição do Espírito Santo tornou visível o estado da alma de Jesus. O Espírito Santo habitava nele, em plenitude, desde o instante de sua concepção divina.  Jesus é o Messias esperado, o Filho de Deus que inicia sua missão de paz entre os homens. E nesta missão as três Pessoas divinas intervém para realizar a obra da redenção.

Esta festa do Batismo de Jesus é, portanto, um marco importante.  Mas não só no calendário litúrgico. Significa a entrada de Jesus para sua vida pública, depois de trinta anos de vida oculta em Nazaré.  Em muitas Igrejas, principalmente as mais antigas, muitas vezes podemos ver um painel na parede do batistério a cena do Batismo de Jesus, exatamente para que possamos sempre lembrar o dia do nosso batismo, o que em que entramos para a Igreja através do santo batismo.  

E a Igreja, celebrar esta festa, quer chamar a atenção para a realidade, tantas vezes esquecida, de nosso batismo, do qual o de João Batista era penas um humilde prelúdio, como ele próprio o diz:  “Agora eu batizo com água, as já vem Aquele que é mais poderoso do que eu, a quem eu não sou digno de desatar a correia das sandálias, Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 3,16).  É uma referência ao fogo purificador profundo, que penetra a alma para libertá-la de toda a maldade, em oposição àquele batismo de água, puramente exterior. Aliás, línguas de fogo apareceram em Pentecostes, essa solene descida do Espírito Santo, que se pode considerar como sendo o batismo da Igreja.

Possamos hoje reconhecer uma vez mais o valor e o significado do batismo.  Como para os israelitas, pela circuncisão, eram agregados ao antigo Povo de Deus, assim o batismo nos faz agora “concidadãos dos santos” (Ef 2,19).  O cristão é alguém que deve sentir e viver essa realidade sublime: ele entrou para o mundo de Cristo. Deixou para trás o mundo dos valores puramente terrenos e recebeu o Espírito Santo para viver uma vida nova.  A água que se derramou sobre ele no rito do batismo não significa apenas ablução, purificação. Significa vida, e vida nova. O batismo é um “renascer”, um nascer de novo: “Quem não renascer pela água e pelo Espírito Santo, não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). 

Quem se batiza assume um compromisso para ser cumprido ao longo de toda a vida.  Existe uma estreita relação entre o Batismo de Cristo e o nosso Batismo. No Jordão o céu se abriu (cf. Mt 3,16) para indicar que o Salvador nos descerrou o caminho da salvação e nós podemos percorrê-lo precisamente graças ao novo nascimento “da água e do Espírito” (Jo 3,5) que se realiza no Batismo. Nele nós somos inseridos no Corpo místico de Cristo, que é a Igreja, morremos e ressuscitamos com ele e revestimo-nos dele, como o Apóstolo Paulo salienta várias vezes (cf. 1Cor 12,13; Rm 6,3-5; Gl 3,27). Por conseguinte, o compromisso que brota do Batismo consiste em “ouvir” Jesus, ou seja, em acreditar nele e em segui-lo, cumprindo a sua vontade. É deste modo que cada um de nós podemos tender para a santidade, uma meta que constitui a vocação de todos os batizados.

Que o Senhor nos conceda a reta compreensão do dom do Batismo, para que saibamos vivê-lo com coerência, testemunhando a todos o amor do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ajude-nos Maria, a Mãe do Filho predileto de Deus, para que possamos ser sempre fiéis ao nosso Batismo. Assim seja.

 

Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento/RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros