Comentário Exegético – XXIV Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Epístola (1 Tm 1, 12-17)

(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)


INTRODUÇÃO: As duas cartas a Timóteo, junto com a de Tito, formam um conjunto chamado de cartas pastorais. Pois não estão dirigidas às igrejas, mas aos pastores das mesmas. Não são propriamente dogmáticas, mas contêm instruções com respeito à conduta dos ministérios correspondentes. Quando foi escrita? Devemos falar de probabilidades. Paulo fundou a Igreja de Éfeso na sua terceira viagem, prolongando-se aí sua estância pelo tempo de três anos (55-57). Logo passou a Macedônia na Turquia europeia e finalmente a Corinto. Daí partiu para Jerusalém onde foi preso. A carta não poderia ter sido escrita antes desse seu primeiro cativeiro, pois a situação descrita (Timóteo como chefe da igreja e Paulo em Macedônia com intenção de ir pronto a Éfeso) não pode ser a desta carta. Assim, temos que admitir que Paulo saiu livre de Roma, visitou a Espanha e voltou ao Oriente, e da Macedônia escreve a carta entre os anos 64-67. Conteúdo: Nas instruções podemos ver um início do Direito Eclesiástico: é a organização que brota da primitiva igreja, palavra que Paulo usa três vezes nesta carta (3, 5.15;5, 16), e não uma igreja carismática mas hierárquica e fortemente organizada em que há superiores e súditos como em toda sociedade com classes. Timóteo aparece com poderes especiais, encontramos os nomes de bispos (3,2), presbíteros (5,17) e diáconos (3, 8) com funções muito concretas e diferentes com respeito aos simples fiéis. Porém não existe uma diferença entre bispo e presbítero, sendo praticamente sinônimos. Do conteúdo devemos ressaltar os falsos doutores e o modo de combatê-los. Timóteo: Foi um dos colaboradores de maior confiança de Paulo, nomeado 6 vezes no livro dos Atos e 18 nas epístolas paulinas. Tinha nascido em Listra (perto de Icônia na Turquia asiática) de pai gentil e mãe judia, convertido por Paulo na sua primeira viagem, e tomando-o como seu auxiliar na segunda, se tornando um companheiro inseparável, até a primeira prisão romana. Parece que era de caráter tímido e de saúde precária. Foi bispo em Éfeso e a tradição fala de seu martírio. No trecho de hoje, temos uma digressão pessoal de Paulo, relatando em sua própria vida o plano salvador, misericordioso e sábio, de quem é o dono do Universo, o Deus, Rei Sempiterno.

ESCOLHA DE PAULO: E dou graças a quem me fortaleceu, a Cristo Jesus, ao nosso Senhor; porque me avaliou como fiel, estabelecendo-me para o ministério (12), e sendo inicialmente blasfemo e perseguidor e insolente; mas teve misericórdia porque sem saber procedi na incredulidade (13). Gratias ago ei qui me confortavit Christo Iesu Domino nostro quia fidelem me existimavit ponens in ministeri, Qui prius fui blasphemus et persecutor et contumeliosus sed misericordiam consecutus sum quia ignorans feci in incredulitate. FORTALECEU [endynamösanti<1743>=confortavit] na realidade, temos o particípio ativo de aoristo do verbo endynamoö, derivado de dynamis [força] que significa fortalecer, como em At 9, 22: Paulo, porém, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus. E foi contado ou AVALIADO [ëgësato<2233>=existimavit] do verbo ëgeomai, que sai 70 vezes no NT, e que tem o significado de liderar, como em Lc 22, 26: entre vós …aquele que dirige seja como o que serve. Mas também tem o significado de considerar, contar, estimar avaliar, como em At 26, 2: eu me considero tanto mais feliz, rei Agripa. A TEB traduz como julgou digno de confiança. FIEL [pistos<4103>=fidelis], de fato o sustantivo pistis que é traduzido por fé nas cartas paulinas, tem o significado primordial de fidelidade [emunah hebraico]. Fiel é quem cumpre o contrato, digno de confiança, pois procura cumprir o prometido com sua palavra. Paulo foi considerado digno de confiança para exercer o ministério como apóstolo. Para isso foi necessária uma conversão, fruto da misericórdia. Assim, de perseguidor e blasfemo, por negar a dignidade de Cristo, e de INSOLENTE [Ybristës<5197>=contumeliosus] insolente, alguém que, soberbo, usa uma linguagem insultante, ou faz coisas que humilham e envergonham os outros. Somente sai de novo em Rm 1, 30: Caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, que a TEB traduz por provocadores e Nácar por ultrajantes. Paulo carrega as tintes pretas sobre si mesmo antes de sua conversão, até que a misericórdia de Deus o retirou de seu PROCEDER NA INCREDULIDADE que, do ponto de vista moral, era impecável (Fp 3, 9), mas como remido por Cristo totalmente oposto por falta de fé.

PELA GRAÇA DE DEUS: Superabundou, pois, a mercê do nosso Senhor por meio da fidelidade e do amor o qual [está] em Cristo Jesus (14). Superabundavit autem gratia Domini nostri cum fide et dilectione quae est in Christo Iesu. SUPERABUNDOU [yperepleonasen<5250>=superabundavit] de super [sobre] e pleonazö <4121>[abundar, ou desbordar] é um apax mas que relembra o mais frequente e simples onde abundou[epleonasen] o pecado superabundou [ypereperisseusen] a mercê [charis] (Rm 5, 20). MERCÊ [charis<5484>=gratia] um benefício, um ato de bondade, um favor ou mercê e por parte de Deus, misericórdia, perdão. FIDELIDADE [pistis <4102>=fides] originalmente fidelidade, qualidade de quem é confiável, para ser usada no NT como crença, fé, especialmente em Cristo como o Logos feito homem. O latim também admite o significado de fidelidade. Aqui se trata de um atributo de Deus que é descrito como fiel e amoroso com um amor manifestado em Jesus Cristo. Podemos também traduzir por fé, como sendo a base dessa atitude divina que responde com amor à fé de quem se entrega a Cristo. Porém no versículo seguinte, vemos que pistis<4102> [substantivo] se traduz em pistos<4103> [adjetivo] e que esta fidelidade é a palavra de Deus.

A PALAVRA FIEL: Fiel (é) a palavra e digna de toda aceitação, porque Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais principal sou eu (15). Fidelis sermo et omni acceptione dignus quia Christus Iesus venit in mundum peccatores salvos facere quorum primus ego sum. Neste versículo, Paulo, como sempre, concatena ideias e deriva para o objeto principal do cristianismo:Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores [o que estava perdido] e olha para sua vida e exclama: eu sou um deles, o PRINCIPAL [Prötos <4413>=primus] primeiro em tempo ou lugar, em rango, em influência: chefe, principal. Temos Mt 20, 27: quem quiser ser primeiro entre vós, será vosso servo. Palavras que repete Mc 10, 44. Uma outra citação é Mt 22, 38: Este é o principal e grande mandamento. Vemos como aqui, Paulo a si mesmo se situa como o mais importante entre os pecadores, devido precisamente ao que ele escreveu no versículo 13. Todos os santos, especialmente se convertidos, têm-se declarados os piores pecadores do mundo. E não mentiam, pois a luz do Espírito iluminava suas vidas e com extremo detalhe eles compreendiam a diferença entre a santidade divina e a fragilidade humana. Esta era como um ponto vazio dentro da imensidade de Deus, que a Escritura chama de majestade ou doxa. Assim veem sua impotência na frente da supremacia divina e qualquer pequena falha é uma imensa culpa merecedora do máximo castigo.

MISERICÓRDIA: Mas por isso recebi misericórdia, para que em mim, primeiramente, mostrasse Jesus Cristo toda tolerância, para exemplo dos que estariam a crer nEle para vida eterna (16). sed ideo misericordiam consecutus sum ut in me primo ostenderet Christus Iesus omnem patientiam ad deformationem eorum qui credituri sunt illi in vitam aeternam. RECEBI MISERICÓRDIA [ëleëthën <1653>=misericordiam consecutus] O verbo eleeö significa ter compaixão, compadecer-se, ter misericórdia, esta última própria de Deus, como o elison dos Kyries que ainda a igreja mantém de sua liturgia grega original. Como o tempo é aoristo e passivo, devemos traduzir por fui objeto de misericórdia. Temos um exemplo em Mt 5, 7: Ditosos os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia (eleëhesontai) [o mesmo tempo que nosso atual versículo]. Paulo insiste no milagre de sua conversão em Damasco. TOLERÂNCIA [makrothymia <3115>=patientia] com o significado de paciência, firmeza, constância, perseverança, resignação e até lentidão em vingar agravos, ou seja, tolerância, que é a acepção que temos escolhido, pois ante um inimigo como era Paulo antes de Damasco, Jesus teve essa tolerância e paciência diante de um pecador. Por isso, a conduta de Jesus serve de paradigma para todo pecador ou infiel que, a exemplo de Paulo, se tornaria  fiel, aceitando a fé para sua salvação ou seja, para a vida eterna.

DOXOLOGIA: Ao rei dos séculos imortal, invisível, ao só sábio Deus, reverência e glória nos séculos dos séculos. Amém (17). Regi autem saeculorum inmortali invisibili soli Deo honor et gloria in saecula saeculorum amen. SÉCULOS [aiön<165>=saeculum]. Temos a doxologia final, dirigida a Deus a quem Paulo chama rei dos séculos, ou  seja, da eternidade como deve ser traduzida a palavra aiön, um tempo o mais comprido, sem limites, para sempre, que o latim traduz pelo tempo mais longo de seu vocabulário que era o século e em geral pelos séculos  ou pelos séculos dos séculos. É como se atualmente disséssemos por milhões de anos luz. A tradução dos séculos é um tanto imprópria e assim alguns preferem eterno (RA), que é realmente o sentido exato da frase. Os adjetivos ou atributos divinos são especiais: imortal, invisível, sábio. É o louvor como ação-de-graças, que em termos hebreus não existe tal ação como de gratitude. A frase final eis tous aiönas tön aiönön [pelos séculos dos séculos] era o término doxológico das orações latinas: per omnia saecula saeculorum. É o para sempre  ou por toda a eternidade.

Evangelho (Lc 15, 1-32)

PARÁBOLAS DA MISERICÓRDIA

(Pe Ignácio, dos padres escolápios)

INTRODUÇÃO: Neste domingo podemos ler a leitura breve de Lucas 15, 1- 11 ou a longa em que encontramos a parábola, talvez a mais bonita, dos evangelhos: a parábola chamada do filho pródigo. Como esta parábola já foi comentada no IV Domingo da quaresma deste ano, dedicaremos o comentário de hoje à explicação das duas parábolas precedentes: a da ovelha e da dracma perdida.

OS OUVINTES: Todos os publicanos e pecadores estavam se aproximando de Jesus a ouvi-lo (1). erant autem adpropinquantes ei publicani et peccatores ut audirent illum. Sabemos quem eram os publicanos: Os arrecadadores de impostos, mal vistos pelos judeus, por serem julgados como colaboradores de um poder que tinha o César como dono de um império, no qual ele era o representante de deuses pagãos. Os publicanos cobravam um dinheiro que pertencia ao único Deus, Javé, dono da terra das promessas. Os pecadores são os sujeitos da ruptura voluntária com esse mesmo Deus, especialmente se o pecado é de idolatria, como no caso do antigo Israel, dado ao culto dos Baal ou deuses cananeus, culto especialmente praticado pelos reis, tanto do Norte como do Sul, após Salomão. Em Lucas, a palavra pecador [amartolos] tem por vezes o sentido que tem em Mateus a palavra gentil [ethnikós]. Tal é o caso do amor que em Lucas vemos oferecido aos amigos pelos pecadores (6, 32-34), esses pecadores que em Mateus são chamados publicanos e gentios (5, 46-47).  No caso atual, já fizemos questão de afirmar que os gentios eram considerados pecadores de modo especial. Pelo que diz respeito às mulheres de vida pública, temos que dizer que as etairas ou cortesãs eram consideradas em grande estima entre os gregos. Eram diferentes, tanto das concubinas como das esposas, pois as etairas alegravam os banquetes aos quais nunca acudiam as esposas e possuíam conhecimentos dos quais uma mulher honrada se envergonhava, como saber ler e escrever. Essas mesmas qualidades tinham as geishas entre os japoneses. Mas também existiam as de classe inferior, chamadas porné, que é o nome usual  da Escritura e que  Lucas emprega no evangelho de hoje como sendo as mulheres com as quais o filho menor dissipou sua herança (30). Existiam também as hieródulas, escravas sacerdotisas da deusa Afrodita [Vênus latina], deusa do amor. De modo especial em Corinto eram as prostitutas sagradas em número muito grande que iniciavam os jovens no amor. No Gênesis temos o relato de Judá que se acostou no caminho com uma mulher que ele pensou ser prostituta cultual [Kedeshá] e em 2 Rs 23, 7 o rei Josias demoliu a casa dos Kadeshim (sic) ou prostitutas sagradas, que o texto dos setenta não traduz, mas deixa com o nome plural de kadesh no masculino. No NT aparece a palavra pornés traduzida por meretriz [a que ganha] embora os romanos tinham as pallaca [cortesãs], as pala [abertamente] e as meretrizes todas elas sob o nome de prostitutas [oferecidas]. Se entre os romanos o adultério estava proibido sob pena de morte, isso era mais devido às consequências sociais que acarretava o filho ilegítimo, do que ao ato em si considerado como pecaminoso. O filho legítimo de uma matrona romana era livre e tinha seu status derivado da classe social do pai. Um filho ilegítimo era um escravo, seja qual fosse o pai, que se considerava o único elemento a proporcionar a vida. O óvulo feminino só foi encontrado no fim do século XIX. Para evitar que os jovens pudessem pôr em perigo a honra dos lares vizinhos, é que o adultério estava penalizado com a pena de morte,  que o pai deveria cumprir se o marido não o fizesse, segundo a lei Julia. Por isso os prostíbulos eram considerados como serviços sociais necessários. Para distingui-las as prostitutas estavam obrigadas a vestir uma toga curta e escura que as diferenciava das outras mulheres. Os soldados romanos não podiam se casar durante os 25 anos que durava seu alistamento. Daí o número grande de cortesãs que acompanhavam os exércitos.

QUE BUSCAVAM ELES EM JESUS? E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo que este recebe pecadores e come com eles (2). Et murmurabant Pharisaei et scribae dicentes quia hic peccatores recipit et manducat cum illis. A doutrina do Mestre era bem acolhida por um povo que era desprezado pela classe social governante, saduceus e fariseus, porque Jesus acolhia os publicanos e pecadores e até comia com eles, coisa inaudita e que feria a consciência da época, fundada na separação dos dois povos e inimizade entre ambos, como dirá Paulo em Ef 2, 14. Daí que murmurassem contra Jesus, acusando-o de recebê-los e de comer com eles, fato este que implicava uma certa intimidade e até amizade.

JESUS SE DEFENDE: Então lhes disse esta parábola dizendo: (3). Et ait ad illos parabolam istam dicens. Que homem dentre vós tendo cem ovelhas não deixa as 99 no descampado e vai à perdida até que a encontra (4). Quis ex vobis homo qui habet centum oves et si perdiderit unam ex illis nonne dimittit nonaginta novem in deserto et vadit ad illam quae perierat donec inveniat illam. E encontrada, a põe sobre seus ombros gozoso (5). Et cum invenerit eam inponit in umeros suos gaudens. E chegando em casa convoca os amigos e os vizinhos dizendo-lhes: regozijai-vos comigo porque encontrei a ovelha, a perdida. (6) Et veniens domum convocat amicos et vicinos dicens illis congratulamini mihi quia inveni ovem meam quae perierat. Digo-vos, assim haverá gozo no céu por um pecador que se arrepende do que por 99 justos os que não têm necessidade de arrependimento (7). Dico vobis quod ita gaudium erit in caelo super uno peccatore paenitentiam habente quam super nonaginta novem iustis qui non indigent paenitentia. 1A PARÁBOLA. É a parábola da ovelha perdida. Todo pastor que tem 100 ovelhas é capaz de deixar 99 no descampado [eremos grego], ou seja, sem que ninguém as cuide para buscar a perdida. Mateus, em lugar paralelo, fala dos montes que para o caso é o mesmo, pois os pastos estavam situados na faixa montanhosa da Judeia ao leste de Jerusalém entre ela e o mar Morto (Mt 18, 12). Mas a particularidade da parábola, a coisa que da pé para rebater seus inimigos, é a alegria do pastor, uma vez encontrada a ovelha desgarrada: a coloca sobre seus ombros e na volta à sua casa chama amigos e parentes para narrar um fato extraordinário, o encontro da ovelha que estava perdida. Jesus termina afirmando que o que é feito na terra é pálido modelo para céu. As coisas perdidas têm mais valor que as que todos os dias usamos. Uma ovelha desgarrada pesa mais na balança do sentimento do que 99 para as quais não é necessária vigilância. Por isso haverá (mais) alegria no céu sobre a conversão de um pecador que muda de conduta, do que sobre 99 justos que não precisam mudar suas vidas (7). O grego segue, neste caso, o comparativo semítico e por isso é necessário introduzir o mais entre parêntesis. A expressão no céu aponta para o habitante principal do mesmo que é o próprio Deus. Na segunda parábola, os exultantes serão os habitantes do mesmo: os anjos. Com isso, Jesus indica que o fenômeno não é unicamente humano, mas se estende até ser aprovado pela vontade última, como é a divina. Para ela também é motivo de máxima alegria a conversão de um pecador.

2A PARÁBOLA. A DRACMA PERDIDA. Ou que mulher, tendo dez dracmas, se perder uma dracma não acende uma lucerna e varre a casa e busca diligentemente até a encontrar (8). Aut quae mulier habens dragmas decem si perdiderit dragmam unam nonne accendit lucernam et everrit domum et quaerit diligenter donec inveniat. E tendo-a achado, reúne as amigas e as vizinhas dizendo: regozijai-vos comigo, porque achei a dracma a que tinha perdido(9). Et cum invenerit convocat amicas et vicinas dicens congratulamini mihi quia inveni dragmam quam perdideram. Assim, digo-vos: haverá gozo diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende (10). Ita dico vobis gaudium erit coram angelis Dei super uno peccatore paenitentiam agente. É um paralelismo perfeito da parábola anterior. Uma coisa perdida que tem um valor extra quando é encontrada, pois alegra o coração de quem a busca até tal ponto que deseja compartir seu gozo com os vizinhos. Na realidade, as 10 moedas não eram uma quantidade notável como para constituir uma fortuna. É possível que o valor da moeda derivasse do fato de formar parte das arras ou moedas com as quais as mulheres adornavam o véu nupcial. Porém o texto não dá indício algum para esta interpretação. De fato uma dracma era equivalente ao denário, ou seja, o salário de um dia. E considerando que o valor  de uma coisa depende da estima que seu dono da à mesma, podemos afirmar que uma mulher cujo único tesouro são as dez moedas tem um apreço muito grande a esse pequeno tesouro que constitui parte de sua vida feliz. O termo final da parábola é o mesmo que o da parábola anterior: alegrai-vos comigo porque encontrei a dracma que tinha perdido.  Assim vos digo que haverá gozo entre os anjos de (sic) Deus por um pecador que se arrepende.

3A PARÁBOLA. É a conhecida como do Filho Pródigo, que por ter sido comentada no IV DOMINGO DA QUARESMA deste ano não comentaremos aqui.

PISTAS: 1) Jesus dá uma lição de como devemos ver as pessoas que aparentemente estão fora do círculo da moralidade social em que pensamos encontrar-nos. São os marginados pela sua conduta pecaminosa. Jesus afirma que a sua conversão deve ser causa de alegria verdadeira. É por isso que ele toma a atitude do pastor que vai atrás da ovelha desgarrada ou a mulher que varre e limpa a casa para encontrar a moeda perdida de sua coleção.

2) Além dessa conclusão, Jesus mostra o autêntico rosto do Pai que é o de procurar o que estava perdido, pois ao encontrá-lo a alegria produzida é muito maior e duradoura que a tristeza da perda, nunca definitiva. Jesus dirá de si mesmo que veio buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19, 10). Várias congregações religiosas abundam na mesma teoria para delimitar sua vocação.

3) Pelo que diz respeito a nós, a notícia implícita na parábola é de grande ânimo e consolação. O pecado não nos afasta definitivamente de Deus. Ele espera nossa conversão que é como um achado após uma intensa busca. Um pecador arrependido vale mais que 99 justos, e sua conversão enche de alegria um Deus que espera sempre. A conversão é a maior alegria de quem deu a vida para os que intentam a volta, após se afastar do caminho.

4) Deus não tem inimigos, mas desgarrados ou extraviados. Por isso sua maior virtude é a espera, como espera o amor pela pessoa amada. Como deveríamos aprender dessa sua maneira de esperar para que o mal se transforme num bem, causando maior alegria do que a tristeza originou a primeira ausência!

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