A arte de celebrar a liturgia

Por D. Alfred C. Hughes, Arcebispo Emérito de New Orleans, Louisiana, Estados Unidos.

Artigo publicado no Clarion Herald, jornal oficial da Arquidiocese de New Orleans, em 08/08/09. Original em inglês disponível em: http://www.clarionherald.org/pdfs/2009/08_08_09/header/page02.pdf

Tradução: Fabiano Rollim

O Arcebispo Malcolm Ranjith (Ex-) Secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, recentemente proferiu uma palestra na Gateway Liturgical Conference em St. Louis. Ele tocou na questão central que precisamos enfrentar se quisermos realizar a visão expressa na Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II: a arte de celebrar a Sagrada Liturgia.

Primeiro, ajuda-nos reconhecer que o termo arte geralmente se refere a habilidades criativas que contribuem com a beleza. Entretanto, da forma como isso se aplica à Sagrada Liturgia, as habilidades humanas são subordinadas à realidade divina que está acontecendo. Quando o foco é no humano, separado do divino, a celebração da Liturgia sofre.

Não deve haver qualquer tensão entre a arte de celebrar e a plena, ativa e frutuosa participação de todos os fiéis.

Infelizmente, no primeiro estágio de implementação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio Vaticano II, uma grande ênfase foi dada no aspecto externo da participação do povo. Como resultado, o foco na plena participação pendeu mais na direção do envolvimento de ministros leigos na Liturgia do que nas disposições interiores requeridas para fazer a participação mais frutuosa. Na Sagrada Liturgia é Cristo quem age. O que é incrivelmente importante é que nós somos interiormente unidos a Ele na oferta sacrifical que Ele fez uma vez historicamente e que é re-presentada na celebração sacramental da Liturgia. O Senhor é o artista. A nossa parte é estar unidos a Ele.

Logo, a arte de celebrar bem não é apenas questão de executar uma série de ações reunidas em uma unidade harmoniosa, mas uma comunhão profundamente interior com Cristo e sua ação auto-sacrifical e salvífica. Isto significa que o sacerdote precisa entrar em uma atitude profundamente reverente, totalmente concentrada e humilde, de fé e oração. Seu senso de temor tem que ser tangível. Seu desejo de viver o que está celebrando tem que ser reconhecido em sua vida.

Mais ainda, a Sagrada Liturgia é uma ação que foi confiada à Igreja. O celebrante não é dono da Liturgia. Ela não é sua para que possa alterá-la. A Liturgia é um presente, um tesouro, a ser respeitada e recebida com senso de reverência e protegida contra uma secularização inapropriada.

O próprio Cristo é o principal celebrante. O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis (N.23), afirma esta verdade vigorosamente: “É necessário que os sacerdotes tenham consciência de que, em todo o seu ministério, nunca devem colocar em primeiro plano a sua pessoa nem as suas opiniões, mas Jesus Cristo. Contradiz a identidade sacerdotal toda tentativa de se colocarem a si mesmos como protagonistas da ação litúrgica. Aqui, mais do que nunca, o sacerdote é servo e deve continuamente empenhar-se por ser sinal que, como dócil instrumento nas mãos de Cristo, aponta para ele. Isso exprime-se de modo particular na humildade com que o sacerdote conduz a ação litúrgica, obedecendo ao rito, aderindo ao mesmo com o coração e a mente, evitando tudo o que possa dar a sensação de um seu inoportuno protagonismo”.

Um dos grandes riscos ao celebrar a Missa voltado para o povo é que o sacerdote será tentado a atrair a atenção para si mesmo. Somos todos humanos. Mas o centro da ação é Cristo. A forma como falamos e agimos tem que atrair a atenção para esta verdade. Logo, um senso de temor e mistério deve perpassar a celebração com o silêncio apropriado e num espírito de oração. O que fazemos é Liturgia Divina. É eclesial em sua forma. Não deve estar sujeita a ajustes pessoais. É por isso que a correta arte de celebrar envolve aderência fiel às normas litúrgicas em toda a sua riqueza.

O Santo Cura D´Ars certa vez escreveu: “Todas as boas obras juntas não se igualam ao valor do sacrifício da Missa, porque elas são boas obras de homens, e a santa Missa é a obra de Deus. O martírio não é nada em comparação a isso; ele é o sacrifício que o homem faz de sua vida a Deus; a Missa é o sacrifício que Deus faz ao homem de seu Corpo e seu Sangue”.

Deus nos conceda a todos nós que somos sacerdotes a graça de realizar e cumprir este papel maravilhoso de tal forma que verdadeiramente propiciemos a “plena, ativa e frutuosa participação de todos os fiéis”.

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