Homilia do Mons. José Maria – V Domingo de Páscoa – Ano B

Permanecer em Cristo!

No quinto Domingo da Páscoa, a Liturgia apresenta – nos a página do Evangelho de João (Jo 15, 1 – 8), onde Jesus, falando aos discípulos na Última Ceia, exorta – os a permanecer unidos a Ele como os ramos à Videira. Jesus compara-se a uma árvore à qual precisamos estar unidos para produzir frutos. Trata – se de uma parábola verdadeiramente significativa, porque expressa com grande eficiência que a vida cristã é Mistério de Comunhão com Jesus: “Quem permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 5). O segredo da fecundidade espiritual é a união com Deus, união que se realiza sobretudo na Eucaristia, justamente chamada também “Comunhão”.

Jesus é o tronco e nós somos os ramos! O ramo que não der frutos é cortado e lançado ao fogo. O ramo que dá frutos é podado para que dê mais frutos. Jesus convida os apóstolos a permanecerem n’Ele:” permanecei em Mim, como Eu em vós”. Como o tronco da videira transmite a vida aos ramos e os ramos são vivificados quando permanecem ligados ao tronco, assim se dá com Cristo e os cristãos. Os ramos assim ligados ao tronco é que produzem fruto. Para produzir frutos, os ramos precisam de seiva da videira e da poda.

Precisa da seiva da videira, que é Cristo, pois “sem Mim nada podeis fazer”. O texto fala oito vezes em “permanecer em Cristo” e sete vezes em “dar frutos”. Se não permanecermos unidos a Cristo, recebendo essa seiva, nos tornaremos ramos secos e estéreis, que serão cortados e lançados ao fogo.

Jesus diz: “Sem Mim nada podeis fazer”. Não disse: sem mim não podeis fazer muito. Disse: sem Mim nada. Só nEle, com Ele, podemos produzir frutos bons, de alcance eterno. Sozinhos produziremos frutos de egoísmo, de ganância, de vaidade.

Ter vida interior, união com Deus: permanecer em Jesus é condição para darmos fruto! É preciso buscá-Lo, encontrá-Lo, tratar com Ele. É preciso ser instruído pela Palavra de Deus para poder instruir; é preciso ser iluminado pelo Espírito Santo para iluminar, ter proximidade com Deus para levá-Lo aos outros. Ninguém dá o que não tem. Essa vida de união com Deus se consegue pelos auxílios espirituais que Ele deixou, e são os mesmos para todos: oração, sacramentos e doutrina da fé. Precisamos aproveitar esses meios para seguir vivos e não ter uma existência estéril e egoísta. Acima de tudo, precisamos do alimento que é a Eucaristia.

Os nossos trabalhos pastorais não serão eficazes se não houver a seiva dessa videira e o contato com Jesus, através da Oração.

A Vinha verdadeira de Deus, a Videira verdadeira é Jesus que, com o seu Sacrifício de Amor, nos oferece a salvação, nos abre o caminho para fazermos parte desta Vinha. E do mesmo modo como Cristo permanece no Amor de Deus Pai, assim também os discípulos, sabiamente podados pela Palavra do Mestre (cf. Jo 15, 2 – 4), se estiverem unidos de modo profundo a Ele, tornam – se ramos fecundos, que produzem uma colheita abundante. São Francisco de Sales escreve: “ O ramo unido e vinculado ao tronco produz fruto não pela sua própria virtude, mas em virtude do cepo: pois bem, nós fomos unidos pela caridade ao nosso Redentor, como os membros à cabeça; eis por que motivo… as boas obras, haurindo o seu valor d’Ele, merecem a vida eterna” (Tratado do Amor de Deus).

Só unidos ao tronco podem viver e frutificar os ramos; do mesmo modo, só permanecendo unido a Cristo pode o cristão viver na graça e no amor e produzir frutos de santidade. Isto manifesta a impossibilidade do homem em tudo o que se relaciona com a vida sobrenatural e a necessidade da sua total dependência de Cristo; mas manifesta também a vontade positiva de Cristo de fazer com que o homem viva a Sua própria vida.

Quem não está unido a Cristo por meio da graça terá, o mesmo destino que as varas secas: o fogo. Diz Santo Agostinho: ”os ramos da videira são do mais desprezível se não estão unidos ao tronco; e do mais nobre se o estão (…).  Se se cortam não servem de nada nem para o vinhateiro nem para o carpinteiro. Para os ramos há duas opções: ou a videira ou o fogo: para não irem para o fogo, que estejam unidos à videira”.

Estejamos atentos! O Senhor nos faz um apelo: ”produzir frutos…”. Para os ramos, não há outras hipóteses: ou a videira ou o fogo. Se não estão na videira, vão para o fogo: para não irem ao fogo, unam-se à videira. Não podemos nos conformar em levar a etiqueta de cristãos. Devemos realmente viver vida interior e vida exterior de acordo com Jesus. Quem não está unido a Cristo terá o mesmo destino que os ramos secos.

Para dar frutos agradáveis a Deus, não é suficiente ter recebido o batismo e professar externamente a fé, viver de sentimentos ocasionais, ou ter a fé como uma roupa que se veste de vez em quando. É preciso participar da vida de Cristo pela Graça e colaborar com sua obra redentora.

Embora seja certo que a fé é o começo da salvação, e sem fé não podemos agradar a Deus, também é verdade que a fé deve dar frutos. “Uma fé sem obras é morta”. E ouvimos de São João: “Não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18). A graça divina não substitui a decisão humana. Faltando a nossa parte, há frieza no coração, ações mecânicas, palavras e cânticos vazios.

Porém, impõe uma condição: “permanecer unido a Ele”. Para isso precisa: gastar tempo com Ele! Nenhum trabalho, mesmo pastoral, justifica o abandono do encontro pessoal com Cristo, na Oração. Jesus nos adverte: ”sem mim nada podeis fazer”.

Devemos antes falar com Deus… para depois falar de Deus…

Alimentar a nossa espiritualidade com esta “seiva divina”, que é a graça de Deus, na escuta da Palavra, na pratica sacramental… Dizia São João Paulo II: ”A oração é para mim a primeira tarefa, como o primeiro anúncio; é a primeira condição de meu serviço à igreja e ao mundo”.

São Francisco de Assis ensinava que “do homem que não reza não se pode esperar nenhum bom fruto”.

“A senda que conduz à santidade é a senda da oração; e a oração deve vingar, pouco a pouco, como a pequena semente que se converterá mais tarde em árvore frondosa”. (São Josemaría Escrivá).

O senhor nos adverte: ”se não permanecerdes em mim, não podeis dar frutos”. Tornar-se-à “um galho seco” que será cortado e jogado ao fogo… Isso acontece com aqueles que se separam de Cristo. “A vida de união com Cristo transcende necessariamente o âmbito individual do cristão para se projetar em benefícios dos outros: daí brota a fecundidade apostólica, já que o apostolado, seja ele de que tipo for, consiste numa superabundância da vida interior” (Amigos de Deus, 239).

Para dar fruto é preciso ser podado! Jesus diz: “todo ramo que dá fruto, Ele o limpa, para que dê mais fruto”. Na vida cristã, há que podar: tirar coisas que afastam da verdadeira meta, egoísmos, ressentimentos e mágoas, ambições e projetos puramente mundanos, paixões desordenadas, comodismos e preguiça, falta de sobriedade no comer, no beber, no falar, no vestir. É preciso ter a valentia de fazer escolhas santas. “Aí onde está o teu tesouro, está o teu coração”.

Intensifiquemos a nossa vida de oração, pois sem uma profunda relação de amor com Jesus seremos um sal que não dá sabor, uma comunidade cristã estéril, sem alegria e sem vida.

“Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós”(Jo 15,4).

Como discípulos, também nós, com a ajuda dos Pastores da Igreja, crescemos na vinha do Senhor, vinculados pelo seu amor: “Se o fruto que devemos produzir é o amor, o seu pressuposto consiste precisamente neste ‘permanecer’, que tem profundamente a ver com aquela fé que não deixa o Senhor” (Bento XVl, Jesus de Nazaré, 2007, 305). É indispensável permanecermos sempre unidos a Jesus, dependermos d’Ele, porque sem Ele nada podemos fazer (Jo 15,5).

Queridos Irmãos, cada um de nós é um ramo, que só vive se fizer crescer cada dia na oração, na participação nos Sacramentos e na caridade a sua união com o Senhor. E quem ama Jesus, videira verdadeira, produz frutos de fé para uma abundante espiritual. Supliquemos à Mãe de Deus, a fim de permanecermos solidamente enxertados em Jesus, e para que cada uma das nossas obras tenha n’Ele o seu início e o seu cumprimento. 

 

Mons. José Maria Pereira

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