Roteiro Homilético – V Domingo da Quaresma – Ano B

RITOS INICIAIS

Salmo 42, 1-2

ANTÍFONA DE ENTRADA: Fazei-me justiça, meu Deus, defendei a minha causa contra a gente sem piedade, livrai-me do homem desleal e perverso. Vós sois o meu refúgio.

Não se diz o Glória.

Introdução ao espírito da Celebração

Iniciamos neste 5º Domingo da Quaresma a última etapa desta caminhada catecumenal para a Páscoa da Ressurreição.

A Igreja, na Liturgia da Palavra destes Domingos, foi-nos propondo temas fundamentais para a fé e renovação interior.

A Penitência e conversão – com passagem inevitável pelo Sacramento da Reconciliação – é caminho a percorrer para a renúncia a Satanás e renovação das Promessas do Baptismo, na noite da Vigília Pascal. Deste Sacramento nos falam as leituras deste Domingo.

Acto penitencial

Custa-nos aceitar, na prática e com todas as consequências, que somos pecadores e reconhecer os pecados concretos em que nos deixamos cair. É, porém, o que o Senhor nos pede, neste momento: que confessemos com sinceridade que pecámos muitas vezes contra este aquele mandamento, por pensamentos, palavras, obras e omissões.

Reconheçamo-lo com humildade e confessemo-lo com sinceridade.

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)

•   Para a leviandade com que Vos ofendemos, tantas vezes,

sem nos lembrarmos que somos maus filhos e ingratos,

Senhor, misericórdia!

Senhor, misericórdia!

•   Para a indiferença com que olhamos os pecados dos outros,

como se tudo isso fosse normal e sem qualquer problema,

Cristo, misericórdia!

Cristo, misericórdia!

•   Para a nossa falta de contrição e de propósito de emenda

que nos leva a cair sempre, sem luta, nos mesmos pecados,

Senhor, misericórdia!

Senhor, misericórdia!

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

ORAÇÃO COLECTA: Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de viver com alegria o mesmo espírito de caridade que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte pela salvação dos homens. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: Deus fez com o Seu Povo Alianças progressivas: em Noé, com toda a criação; em Abraão, com o Povo de Deus; em Moisés, antes de empreender a caminhada para a Terra da Promissão.

Jeremias, – que profetizou nos tempos em que o império da Babilónia começava a constituir uma ameaça para Israel –, fala profeticamente de uma Aliança nova e definitiva. Por ela se há-de gravar a Lei no coração de cada um de nós.

 

Jeremias 31, 31-34

31Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova. 32Não será como a aliança que firmei com os seus pais, no dia em que os tomei pela mão para os tirar da terra do Egipto, aliança que eles violaram, embora Eu exercesse o meu domínio sobre eles, diz o Senhor. 33Esta é a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, naqueles dias, diz o Senhor: Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34Não terão já de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas.

O nosso texto insere-se num conjunto de anúncios de restauração, tanto política como religiosa, o chamado Livro da Consolação de Jeremias (Jer 30, 1 – 33, 26). Os versículos da leitura são fulcrais na obra do profeta de Anatot: os seus apelos para «uma aliança nova» são considerados como o pivot da reforma religiosa do piedoso rei Josias, por isso se pensa que foi pronunciado logo no início da sua actuação como profeta. Este oráculo, tem uma importância central na Teologia do Novo Testamento, como uma das grandes profecias messiânicas. O povo de Israel tinha violado a aliança, não observando a Lei de Deus que no Sinai solenemente se comprometera a observar (Ex 24), por isso Deus já não estava, por assim dizer, obrigado a proteger este povo que se negava a ser de Yahwéh. Mas Ele não volta atrás no seu amor misericordioso, e anuncia que vai oferecer aos homens uma aliança «nova», isto é, definitiva, interior, pois gravada «no íntimo da alma… no coração» (v. 33) e que estabelece uma nova relação afectiva, de sincero e fiel amor, como o amor perfeito entre os esposos: «Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo» (v. 33; cf Os 2, 21-22.25). Esta aliança de amor teve o seu pleno cumprimento em Jesus Cristo que selou a nova, definitiva e universal aliança com o seu próprio sangue (Hebr 9, 12; Lc 22, 20), tornando antiquada a aliança do Sinai (Hebr 8, 6-13).

34 «Vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas». Trata-se de uma aliança que, além de nova, é renovadora, pois implica «a remissão dos pecados» (cf. Mt 26, 28). A Liturgia, ao propor este texto em pleno tempo da Quaresma, presta-se a lembrar-nos o perdão que Deus concede no Sacramento da Reconciliação.

Salmo Responsorial

Salmo 50 (51), 3-4.12-13.14-15 (R. 12a)

Monição: O Senhor convida-nos a implorar do Senhor a purificação dos nossos pecados e a renovação do coração. Sente o peso deles como a dor de uma doença. Além da cura desta doença, sinal do perdão do pecado, pedimos que renove o mais íntimo do nosso ser, como se fora uma nova criação.

Refrão: DAI-ME, SENHOR, UM CORAÇÃO PURO.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,

pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.

Lavai-me de toda a iniquidade

e purificai-me de todas as faltas.

 

Criai em mim, ó Deus, um coração puro

e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.

Não queirais repelir-me da vossa presença

e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

 

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação

e sustentai-me com espírito generoso.

Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos

e os transviados hão-de voltar para Vós.

 

Segunda Leitura

Monição: O autor da Carta aos Hebreus fala da nossa redenção operada por Jesus Cristo o Qual, sendo Deus, não quis ser isento de sofrimento, mas resgatou-nos pela Cruz.

Hebreus 5, 7-9

7Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por causa da sua piedade.8Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento 9e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna.

Este texto pequeno, mas deveras impressionante – há mesmo estudiosos que o consideram um extracto de um antigo hino a Cristo –, é tirado da parte central do célebre sermão, que é esta epístola (Hebr 4, 14 – 7, 28), onde se desenvolve o tema do sacerdócio de Cristo, o sumo sacerdote perfeito, que supera completamente o sacerdócio levítico.

7 Este versículo parece evocar o relato da agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras (cf. Mt 26, 36-44). «Preces e súplicas»: estas duas palavras sinónimas correspondem a uma expressão grega da época usada nos pedidos a uma alta autoridade; o uso do plural sugere a insistência na oração, segundo o «prolixius orabat» deLc 22, 43. «Com um grande clamor e lágrimas»: os ensinos rabínicos sobre a oração referem três graus ascendentes: a prece (em silêncio), os gritos, e as lágrimas (como a forma mais elevada da oração). Os Evangelhos só falam de um forte brado de Jesus, na Cruz (Lc 23, 46), mas é de supor que se conhecessem pela tradição oral, pormenores da oração no horto que justificariam tão impressionante expressão.

«Foi atendido», em quê? É difícil de dizer, a tal ponto que Harnack pensa numa corrupção do texto original: «não foi atendido». Limitamo-nos a referir as explicações mais viáveis. Jesus não obteve a libertação do cálice de amargura, mas alcançou a coragem para enfrentar a sua Paixão identificando-se plenamente com a vontade do Pai. Ou então, como pensam outros, Jesus foi atendido ao ser livre da morte pela sua ressurreição, o que lhe permite exercer o seu sacerdócio eterno (cf. 7, 24; 10, 10), com efeito, «a sua morte era essencial para o seu sacerdócio, pois, se Ele não fosse salvo da morte pela ressurreição, não seria agora o sumo sacerdote do seu povo» (J. H. Neyrey).

8 «Aprendeu a obediência no sofrimento», ou, melhor, «por aquilo que sofreu», ou também, «aprendeu de quanto sofrera, o que é obedecer». Trata-se de uma aprendizagem não teórica, mas experimental, existencial. Aprender através do sofrimento era um lugar comum na literatura grega, e até havia esta máxima: «os sofrimentos são lições». O que aqui há de particular é a aplicação à aprendizagem da obediência. No entanto, a obediência de Jesus na sua Paixão só é referida em mais dois lugares do N. T.: Rom 5, 19 e Filp 2, 8. Não se pense que a Jesus, por ser Deus, Lhe custava menos o sofrimento, antes pelo contrário, pois o sofrimento é directamente proporcional à dignidade da pessoa que sofre.

9 «Tendo atingido a sua plenitude». Esta tradução não deixa ver uma das ideias centrais da epístola, que é a de «perfeição», pelo que seria preferível a tradução do Cón. Falcão, «tendo chegado à perfeição» ou a da Difusora Bíblica, «tornado perfeito». Note-se que a perfeição de que aqui se fala não é a do amadurecimento na virtude, mas a que advém a Jesus pelo exercício do seu sumo sacerdócio com a consumação da obra salvadora pela oferta do sacrifício da nova aliança: «a obediência de Jesus leva-o à sua consagração sacerdotal, que, por sua vez, O torna apto para salvar aqueles que Lhe obedecem» (The new Jerome Biblical Commentary, p. 929).

Aclamação ao Evangelho

Jo 12, 26

Monição: Se participarmos da Cruz de Cristo nesta vida mortal, tomaremos também parte na sua glória por toda a eternidade.

Alegremo-nos com esta divina promessa que dá sentido aos sofrimentos desta vida e aclamemos o Evangelho que no-la anuncia.

Refrão: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.                        Repete-se

Se alguém Me quiser servir, que Me siga, diz o Senhor,

e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.

Evangelho

São João 12, 20-33

Naquele tempo, 20alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, 21foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». 22Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. 23Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. 24Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. 25Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. 27Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.28Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O». 29A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». 30Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. 31Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. 32E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». 33Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.

Estamos na parte final da 1ª parte do IV Evangelho, do chamado «livro dos sinais». Ouvem-se os últimos apelos de Jesus à fé, mas a multidão permanece dividida (v. 29), e a sua entrega à morte está iminente (vv. 31-33).

20 «Gregos»: não deveriam ser judeus de língua grega, nem prosélitos, mas simples tementes a Deus ou adoradores de Deus, isto é, uns gentios convertidos ao único Deus de Israel, sem no entanto se sujeitarem aos ritos judaicos como o da circuncisão (cf. Act 10, 2; 13, 16.26.50; 16, 14; 17, 4.17; 18, 7).

21-22 «Filipe… André». Filipe é nome grego, bem como o de André, o que ajuda a explicar a mediação de ambos para um encontro com Jesus, pessoas mais acessíveis e compreensíveis para com os estrangeiros. Filipe, tendo em conta que Jesus só se dirigia aos judeus (cf. Mt 15, 24; Mc 7, 27), teve a prudência de tratar do assunto com o conselho de André. «Betsaida» não era rigorosamente da Galileia, mas da Gaulonítide, tetrarquia de Filipe, ficando a oriente da entrada do Jordão no lago de Genesaré. Alguns, para evitar que S. João pudesse ser acusado dum indesculpável erro geográfico, imaginam uma outra Betsaida ocidental. O mais natural é que os habitantes judeus de Betsaida se considerassem galileus, como o próprio Apóstolo Filipe, dando assim lugar a que se pudesse falar, impropriamente, de Betsaida da Galileia.

23-26 A «hora» da «glória» não é de modo nenhum a da glória humana, como poderia ser a da entrada triunfal em Jerusalém, mas a hora de dar a vida, de morrer para dar fruto; e, para o seguidor de Cristo, também já não lhe resta outra alternativa (cf. Jo 15, 18-20). O sentido da morte de Jesus fica esclarecido com a comparação do «grão de trigo», que deve morrer para dar fruto; nisto está a sua glória e a glória dos seus seguidores. «Desprezar a vida», à letra, odiar: de acordo com o uso semítico, odiar em oposição a amar, significa não dar grande valor ou amar menos (cf. Gn 29,31-33; Dt 21,15; Mt 6,24; Lc 14,26; 16,13).

27-28 «A minha alma está perturbada… Pai, salva-me…». Esta passagem faz pensar na agonia do Getxemaní relatada nos Sinópticos e a que S. João mal alude (18, 11), a fim de que o leitor não se fixe em tão grande humilhação do Senhor no momento em que Ele avança para a glória da Cruz. Tenha-se na devida conta que em S. João glorificar tem frequentemente um sentido «manifestativo» (cf. 17,1-6.24-26), e o nome equivale à pessoa, por isso «glorifica o teu nome» equivale a manifesta a tua glória.voz vinda do Céu era um grande motivo de credibilidade na época, a chamada bat-qol; esta ilumina com o sentido optimista da fé a Paixão e Morte do Senhor.

30-31 «Agora, vai chegar a «hora» de Jesus, a hora da glória, que é ao mesmo tempo de vida e salvação e, simultaneamente, de julgamento e condenação (cf. Jo 16, 11). Ao terminar a primeira parte do Evangelho, esta alternativa, a que não se pode fugir, é posta em relevo (vv. 35-36.45-48): ninguém pode ficar na penumbra; tem de optar entre a Luz e as trevasMundo aqui identifica-se com os que rejeitam a fé e se situam no domínio tenebroso de Satanás (cf. Lc 4, 5-6).

32 «Erguido da terra, no sentido físico – na Cruz – encerra um segundo sentido espiritual de exaltação e glória, que S. João quer acentuar (cf. Jo 3, 14; 8, 28; 18, 32). Há manuscritos que têm atrairei tudo, em vez de todos: Jesus crucificado exerce um poderoso atractivo sobre todas as almas sinceras, provocando uma resposta de amor incondicional, até que Ele venha a tornar-se o centro de tudo, de todas as actividades humanas e de todo o universo criado por Deus.

Sugestões para a homilia

• Acolhamos o apelo à conversão

É preciso a mudança de vida

Piedade de filhos

Fortaleza para mudar

• A conversão e a confissão

Desejo do encontro com Deus

Glorificar Cristo em nós

Renascerá a alegria

1. Acolhamos o apelo à conversão

a) É preciso a mudança de vida. «Dias virão em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova.»

Cristo foi atendido, como nos ensina o autor da Carta aos Hebreus. É Ele que ora em nós ao Pai. Por isso, temos a certeza de que levaremos avante esta mudança de vida, por Ele está connosco.

Não devemos perder demasiado tempo a olhar para o passado, para a situação em que nos encontramos, mas alimentar a esperança de que seremos renovados.

Poderíamos ser tentados a alimentar a falta de esperança, pensando que a nossa vida já não tem remédio, por causa dos nossos muitos pecados; ou que os nossos defeitos estão já muito enraizados em nós e já não somos capazes de nos emendarmos; ou porque nos domina a preguiça ao empreender o trabalho da mudança.

Apoiemo-nos filialmente numa grande confiança em Jesus Cristo para chegarmos ao Pai.

b) Piedade de filhos. «Hei-de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração»

A piedade é a virtude que regula as relações entre pais e filhos. Quando a desdobramos, encontramos o amor, o respeito e a obediência.

Deus quer libertar-nos das nossas fealdades e restituir-nos a beleza recebida no Baptismo. (Quando a mãe encontra o filho cheio de sujidade e com a roupa em trapos não deixa de gostar dele. O seu amor materno, ao contrario, move-a a restituir-lhe a beleza quando antes). De modo semelhante, o Senhor deseja ardentemente a nossa conversão pessoal, seja qual for a situação em que nos encontremos. Basta – para nos convencermos desta verdade – ler as três Parábolas da misericórdia narradas por S. Lucas – ovelha tresmalhada, dracma perdida e filho pródigo – para compreendermos esta «impaciência» divina.

Na verdade, a maior alegria que podemos dar a Deus é deixá-l’O perdoar os nossos pecados, libertar-nos dos nossos defeitos para nos revestir de novo do esplendor de filhos de Deus.

c) Fortaleza para mudar. «Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas

É verdade que encontramos em nós apegos de que temos de nos libertar e hábitos que é urgente combater até os eliminar.

(Qualquer tratamento a que nos submetemos exige de nós sofrimento, disponibilidade e mudança de hábitos. Até por razões de desporto os atletas submetem-se aos maiores sacrifícios).

A Sagrada Escritura apresenta-nos Deus como a águia que esvoaça sobre o ninho os seus filhos, incitando-os a tentar o voo (cf Cântico de Moisés, Deut 32, 11). Podemos imaginar o nosso Pai do Céu animando-nos continuamente a deixar a preguiça e a comodidade, para empreender a conquista das alturas da santidade.

Os milagres de lemos no Evangelho enchem-nos de esperança. O Senhor está disponível para nos ajudar. Basta uma pequena diligência da nossa parte.

Jesus Cristo é fonte de Vida e de Salvação. Quando recebemos um Sacramento, vamos à fonte das águas vivas.

2. A conversão e a confissão

a) Desejo do encontro com Deus. «Havia alguns gentios […]. Foram ter com Filipe, […], e fizeram este pedido: ‘Senhor, nós queremos ver Jesus.’»

A Confissão sacramental é um encontro pessoal com Jesus Cristo. Ele está misteriosamente presente no sacerdote que nos acolhe, seja qual for a sua situação espiritual.

O Senhor estabeleceu esta mediação por misericórdia para connosco. Se fosse Ele visivelmente a acolher-nos, talvez nos sentíssemos dominados pelo sentimento de indignidade do centurião romano de Carfarnaúm, quando implorou a cura do servo, mas não queria que Jesus entrasse em sua casa.

Coloca-nos perante um sacerdote – homem com experiência do que é a fraqueza humana – para nos ajudar fraternalmente.

Este homem «empresta-Lhe» uma visibilidade. Se não fora este sinal externo, quando poderíamos saber que havíamos já preenchido todas as condições para sermos perdoados?

b) Glorificar Cristo em nós. «Então, Jesus tomou a palavra e disse-lhes: “Chegou a hora de o Filho do homem ser glorificado

Glorificamos Jesus Cristo na medida em que aceitamos a Sua vontade, ao estabelecer as condições para a conversão e consequente perdão dos nossos pecados.

Temos de estar dispostos a morrer, como o grão de trigo, para que ressuscite em nós o homem novo e demos fruto. Esta morte concretiza-se:

– na humildade, reconhecendo, sem descontos nem desculpas, os nossos pecados. Somos tentados a procurar uma desculpa no comportamento dos outros, no nosso modo de ser, etc., mas devemos renunciar a tudo isso para carregar generosamente a responsabilidade dos pecados cometidos.

– Na sinceridade. Trata-se de acusar os pecados segundo o número, a espécie e as circunstâncias que mudam a espécie. O Senhor pede-nos que encaremos o sacerdote que nos atende como um médico. Ele precisa saber a nossa situação concreta, não por curiosidade, mas para nos ajudar na libertação.

– Na verdade com que fazemos um propósito de lutar para não recair em tentação e nos apresentamos arrependidos dos passos mal dados. Há quem, por uma falsa noção de sinceridade, se afaste da confissão: «Não vou, porque voltarei, talvez, a cair… e não quero ser mentiroso!»

O que verdadeiramente prometemos não é não cair, mas lutar para que isso não volte a acontecer. Para conseguir esta finalidade, propomo-nos rezar com maior frequência, frequentar mais o Sacramentos e fugir das ocasiões.

c) Renascerá a alegria. «É agora o julgamento deste mundo. É agora que o Príncipe deste mundo vai ser lançado fora

Muitos empobrecem, de algum modo, a riqueza do Sacramento da Reconciliação, reduzindo os seus frutos exclusivamente ao perdão dos pecados. Na verdade, por ele é expulso o Demónio. Este é para o Inimigo o mais doloroso exorcismo.

Mas não fica por aqui a magnanimidade do nosso Deus, ao restituir-nos a graça baptismal ou ao purificar-nos das manchas contraídas. Entre outras graças podemos recordar:

– A alegria e a paz, fruto deste encontro pessoal com Jesus Cristo. Qual de nós não sentiu já este dom? A festa com que o pai do filho pródigo acolhe o jovem tresmalhado sentimo-la também dentro de nós.

– A graça sacramental. Todos os sacramentos têm uma graça própria. A deste Sacramento é uma ajuda especial para vencer as resistências que nos dificultam o caminho da santidade. Sentimos maior força para perdoar, abandonar as ocasiões, mais devoção para rezar…

– Oportunidade para receber um bom conselho. Sentimo-nos inibidos de partilhar os nossos problemas e dificuldades com outras pessoas, porque não confiamos na sua discrição, receamos a sua imparcialidade ao aconselhar-nos, etc. Encontramos na confissão um sigilo sacramental que coloca uma rocha sobre o que apresentámos que ninguém mais poderá remover, nem mesmo depois da nossa morte. E confiamos que o sacerdote nos aponte o que Deus quer para a nossa vida.

À semelhança de Filipe que diligenciou para que estes gregos se encontrassem com Jesus, também nós havemos de procurar que muitas e bem preparadas pessoas se aproximem do sacramento da reconciliação e Penitência.

Maria, como a melhor das mães, olhará com particular carinho os que ajudam os seus filhos e nossos irmãos a este encontro pessoal com Jesus Cristo.

LITURGIA EUCARÍSTICA

Introdução à Liturgia Eucarística

Na Mesa da Palavra, o Senhor proclamou diante de nós a Sua misericórdia infinita para connosco, ao oferecer-nos generosamente o Seu perdão.

Continua agora a manifestar-nos a Sua liberalidade, transubstanciando os nossos dons do pão e do vinho no Seu Corpo e Sangue, para Alimento de todos nós.

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Ouvi-nos, Senhor Deus omnipotente, e, pela virtude deste sacrifício, purificai os vossos servos que iluminastes com os ensinamentos da fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

SANTO

Saudação da Paz

A paz começa no coração de cada um de nós como dom gratuito de Deus.

Reconciliemo-nos connosco mesmos, aceitando-nos como frágeis que somos; com Deus, pedindo humildemente perdão dos nossos pecados e aceitando ser perdoados das ofensas que fizemos aos irmãos.

Com esta disposição interior,

Saudai-vos na paz de Cristo!

Monição da Comunhão

Vamos purificar-nos à Confissão Sacramental para podermos tomar parte no Banquete da Eucaristia.

Agradeçamos o perdão generoso do Senhor e peçamos-Lhe ajuda para vivermos em graça. Conservando pura a veste baptismal.

Jo 12, 24-25

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará fruto abundante,

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Deus omnipotente, concedei-nos a graça de sermos sempre contados entre os membros de Cristo, nós que comungámos o seu Corpo e Sangue. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

RITOS FINAIS

Monição final

No final desta Celebração da Eucaristia que desejamos continuar na vida, agradeçamos o dom da confissão sacramental.

Sejamos, junto dos irmãos, arautos da misericórdia de Deus cuja maior alegria é perdoar os nossos peados.

CÂNTICO FINAL: DEUS É PAI, DEUS É AMOR, F. da Silva, NRMS 90-91

HOMILIAS FERIAIS

5ª SEMANA

2ª Feira, 26-III: Conversão e perdão de Deus.

Dan 13, 41-62 / Jo 8, 1-11

Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém Senhor. Também eu não te condeno. Vai e doravante não tornes a pecar.

Susana foi acusada injustamente de um pecado de adultério e foi salva de morte certa pela intervenção do profeta Daniel (cf Leit). Jesus não só salva uma mulher adúltera da morte como também da morte eterna, ao perdoar-lhe os pecados (cf Ev).

Apesar dos nossos pecados, aumentemos a nossa esperança, porque Jesus ofereceu a sua vida para nos salvar da morte eterna. Como Filho de Deus tem o poder de perdoar os nossos pecados, exerce esse poder «os teus pecados são-te perdoados» e confia-os aos sacerdotes.

3ª Feira, 27-III: A Cruz, esperança de salvação.

Num 21, 4-9 / Jo 8, 21-30

Faz uma serpente de bronze e prende-a num poste. Todo aquele que, depois de mordido, olhar para ela, terá a vida salva.

Esta serpente é a imagem da Cruz de Cristo no Calvário. «Já no Antigo Testamento

Deus ordenou a instituição de imagens, que conduziriam simbolicamente à salvação pelo Verbo encarnado: por exemplo, a serpente de bronze (cf Leit)» (CIC, 2130).

Olhamos especialmente para a Cruz de Cristo na celebração eucarística: «Pela sua santíssima paixão no madeiro da Cruz, Ele mereceu-nos a justificação – ensina o Conc. de Trento –, sublinhando o carácter do sacrifício de Cristo, como fonte de salvação eterna. E a Igreja venera a Cruz cantando: Ave, ó Cruz, esperança única» (CIC, 617).

4ª Feira,28-III: A Verdade nos libertará.

Dan 3, 14-20. 91-92. 95 / Jo 8, 31-42

Bendito seja o Deus de Sidrach… Mandou o seu Anjo, para livrar os seus servidores, que tiveram confiança n’Ele.

Os três jovens foram salvos e libertados pela confiança em Deus (cf Leit), que é Verdade. Jesus recorda-nos igualmente que quem nos libertará é a Verdade (cf Ev).

Também hoje precisamos ter uma fé muito forte para enfrentarmos o ambiente, que nos quer escravizar. Precisamos ter uma atitude crítica para resistirmos às seduções da cultura actual. Devemos procurar influir eficazmente nos diversos sectores culturais, económicos e sociais, para construirmos uma cultura cristã que se oponha aos valores pagãos (cf João Paulo II).

5ª Feira, 29-III: Fidelidade à Aliança.

Gen 17, 3-9 / Jo 8, 51-59

É esta a minha Aliança contigo: serás pai de um grande número de nações.

Deus chama Abraão para estabelecer com ele uma aliança (cf Leit). Este confiou em

Deus e venceu todas as provações, tornando-se um exemplo de fidelidade. Se confiarmos na palavra de Deus seremos igualmente salvos: «se alguém guardar a minha palavra nunca mais verá a morte» (Ev).

A Aliança estabelecida com Abraão foi renovada, de uma vez para sempre, por Cristo na Cruz. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo e também um sacrifício, que se verifica nas palavras da consagração. Sejamos fiéis aos compromissos assumidos no Baptismo.

6ª Feira, 30-III: A vitória alcançada na Cruz.

Jer 20, 10-13 / Jo 10, 31-42

Mas o Senhor está comigo como herói poderoso e os meus perseguidores cairão vencidos.

Este herói poderoso (cf Leit) é o próprio Cristo, que veio à terra para vencer o demónio. No entanto, os judeus querem dar-lhe a morte, apedrejando-o (cf Ev).

Esta luta contra o demónio continuará até ao fim dos tempos. Mas temos motivos de esperança, porque Cristo o venceu e nada temos a temer, porque a derrota já está consumada. Esta vitória foi alcançada na Cruz: «A vitória sobre o ‘príncipe deste mundo’ foi alcançada de uma vez para sempre, na hora em que Jesus se entregou livremente à morte para nos dar a sua vida» (CIC, 2853).

Sábado, 31-III: Meios para conseguir a unidade.

Ez 37, 21-28 / Jo 11, 45-56

Vou reuni-los de toda a parte… Farei deles um só povo.

O Senhor, através de Ezequiel, já prometera reunir os filhos de Israel, dispersos por toda a parte (cf Leit). E Caifás afirma que a unidade dos filhos de Deus será fruto da morte de Jesus na Cruz (cf Ev). Mas é também dom do Espírito Santo que, no dia de Pentecostes, reuniu uma enorme multidão, de diferentes línguas.

oração do Pai-nosso também ajuda à unidade: «Rezar o Pai-nosso é orar com e por todos os homens que ainda não o conhecem, para que sejam ‘reunidos na unidade’ (cf Ev)» (CIC, 2793).

Celebração e Homilia:          FERNANDO SILVA

Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO

Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO

Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA

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