Advento: Cuidado! Ficai Atentos!
Um novo ano litúrgico tem início neste domingo. O Ano Litúrgico é a evocação e atualização (isto é, memória e presença) de toda a História da Salvação “já” realizada e é, ao mesmo tempo, promessa e antecipação da História da Salvação que “ainda” deverá realizar – se. A Igreja nos põe de sobreaviso com quatro semanas de antecedência a fim de que nos preparemos para celebrar de novo o Natal e, ao mesmo tempo, para que, com a lembrança da primeira vinda de Deus feito homem ao mundo, estejamos atentos a essas outras vindas do Senhor: no fim da vida de cada um e no fim dos tempos. Por isso o Advento é o tempo de preparação e de esperança.
Na Igreja, todos os anos têm Advento, Natal, Quaresma e Páscoa. Por que isso?
A palavra ADVENTO significa “Vinda”, chegada: nos faz relembrar e reviver as primeiras etapas da História da Salvação, quando os homens se preparam para a vinda do Salvador, a fim de que também nós possamos preparar hoje em nossa vida a vinda de Cristo por ocasião do Natal. Advento significa, portanto, fazer memória da primeira vinda do Senhor na carne, significa reconhecer que Cristo presente entre nós se faz nosso companheiro de viagem na vida da Igreja que celebra o seu mistério. Esta consciência, alimentada pela escuta da Palavra de Deus, deveria ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes, a interpretar cada um dos acontecimentos da vida e da história como palavras que Deus nos dirige, como sinais do seu amor que nos garantem a sua proximidade em cada situação; nesta consciência, sobretudo, deveria preparar-nos para O acolher quando “vier de novo na glória para julgar os vivos e os mortos, e o seu reino não terá fim”, como repetimos no Credo.
Assim, no Advento, vivemos realmente a espera do Messias. Jesus vem especialmente aos que o amam, esperam e se preparam para recebê-lo. Por isso, a liturgia convida a pedir a graça de aguardá-lo como se deve. Cristo está próximo, cada ano com novos dons e com uma maior exigência. Como Ele tantas vezes repetiu: quem tem ouvidos ouça!
Os textos bíblicos deste primeiro domingo nos permitem descobrir o que é o Advento: é memória, presença e espera, como, aliás, toda a liturgia da Igreja: Memória e espera. Vejamos Isaías, o profeta que viveu setecentos anos antes de Cristo: Sois vós, Senhor, o nosso pai, nosso Redentor (… ). Por que, Senhor, desviar – nos para longe de vossos caminhos (…). Voltai, por amor de vossos servos e das tribos de vossa herança! A lembrança da bondade de Deus nos faz descobrir a tristeza da situação presente, mas nos leva a esperar, para o futuro, uma nova intervenção divina.
O Evangelho (Mc 13, 33 –37) convoca os cristãos à vigilância: “Cuidado! Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento”. “ Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o dono da casa vem…” Chegou a hora de acordar, para que não nos encontre dormindo! É preciso deixar as trevas e ser iluminados pela luz do dia, pela luz de Cristo. Trata-se da conversão: deixar as obras das trevas e fazer o bem revestindo-se do Senhor Jesus Cristo.
Preparemos o caminho para o Senhor que chegará em breve; e se notarmos que a nossa visão está embaçada e não distinguimos com clareza essa luz que procede de Belém, é o momento de afastar os obstáculos. É tempo de fazer com especial delicadeza o exame de consciência e de melhorar a nossa pureza interior para receber a Deus. É o momento de discernir as coisas que nos separam do Senhor e de lançá-las para longe de nós. Um bom exame de consciência deve ir até as raízes dos nossos atos, até os motivos que inspiram as nossas ações. E logo buscar o remédio no Sacramento da Penitência (Confissão)!
Arrumar as estradas do relacionamento com Deus foi a missão de São João Batista e é a missão da Igreja. Chamar a atenção de que existem ligações interrompidas com Deus. A Igreja oferece este tempo de expectativa, Deus está próximo.
“Vigiai, não sabeis em que dia o Senhor virá”. Não se trata apenas da “parusia”, mas também da vinda do Senhor para cada homem no fim da sua vida, quando se encontrar face a face com o seu Salvador; e será esse o dia mais belo, o princípio da vida eterna! Toda a existência do homem é uma constante preparação para ver o Senhor, que cada vez está mais perto; mas no Advento a Igreja ajuda-nos a pedir de um modo especial: “Senhor, mostrai-me os vossos caminhos e ensinai-me as vossas veredas. Dirigi-me na vossa verdade, porque sois o meu Salvador” (Sl 24).
“Vigiai!” Essa palavra, no Evangelho, ressoa espera! É uma palavra que faz de nós discípulos, sentinelas ou, como disse Jesus, porteiros. Será como um homem que, partindo em viagem, deixa a sua casa e delega sua autoridade aos seus servos (Mc 13, 34).
A vida do porteiro num prédio moderno de cidade é realmente uma parábola viva para o cristão. Nunca afastar – se sem ter um substituto, fechar as portas, vigiar quem sai e quem entra, cuidar para que não haja invasão de ladrões; enfim, vigiar sempre. Sua vida é uma vida de espera, ou melhor, de “atenção”. Ficai de sobreaviso, vigiai! É viver concentrando a atenção não só da mente, mas também do coração e de toda a vida; viver tendendo para alguma coisa, prontos a captar todos os sinais que anunciam sua presença.
É muito oportuno que no início do Advento a Igreja dê um grande destaque àquelas palavras de São Paulo: Já é hora de despertardes do sono (Rm, 13, 11).
O Cristão não vive só na espera de Cristo, mas também em comunhão com Cristo, isto é, na posse daquilo que espera. Isto nos recorda o tempo do Advento.
Para manter este estado de vigília, é necessário lutar, porque a tendência de todo homem é viver de olhos cravados nas coisas da terra.
Fiquemos alertas! Assim será, se cuidarmos com atenção da oração pessoal, que evita a tibieza e, com ela, a morte dos desejos de santidade; estaremos vigilantes se não abandonarmos os pequenos sacrifícios, que nos mantêm despertos para as coisas de Deus. Diz-nos São Bernardo: “Irmãos, a vós, como às crianças, Deus revela o que ocultou aos sábios e entendidos: os autênticos caminhos da salvação. Aprofundai no sentido deste Advento. E, sobretudo, observai quem é Aquele que vem, de onde vem e para onde vem; para quê, quando e por onde vem. É uma curiosidade boa. A Igreja não celebraria com tanta devoção este Advento se não contivesse algum grande mistério”
Procuremos afastar os motivos que impedem a acolhida do Senhor:
– os prazeres da vida: a pessoa mergulhada nos prazeres fica alienada… No domingo, dorme… passeia… pratica esportes… mas não sobra tempo para a Missa.
– trabalho excessivo: a pessoa obcecada pelo trabalho esquece o resto: Deus, a família, os amigos, a própria saúde…
Como desejo me preparar para o Natal desse ano?
Apenas programando festas, presentes, enfeites, músicas?
Preparemos numa atitude de humildade e vigilância a chegada de Cristo que vem: “vivendo nessa esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e em paz”. Ele vem agora, e espera resposta. Ele virá sem falta. A quem encontrará disposto?
Fiquemos vigilantes! Porém, não vigiar apenas com as forças humanas, mas na oração para que Deus nos ajude a estar vigilantes!
Mons. José Maria Pereira