Candidatos ao sacerdócio: fragilidade afetiva e direção espiritual

Entrevista com Dom José María Yanguas, bispo espanhol

ROMA, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – A formação nos seminários, com seus desafios e características atuais, a importância do acompanhamento espiritual e questões como a fragilidade física e afetiva estavam entre os temas discutidos durante o curso de La formazione spirituale nei seminari, realizado na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, de Roma, de 7 a 11 de fevereiro.

O bispo de Cuenca (Espanha), José María Yanguas, interveio neste evento acadêmico sobre o tema da fragilidade afetiva. Sobre este assunto, ZENIT o entrevistou.

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ZENIT: Quais devem ser os pilares da formação espiritual, hoje, nos seminários?

Dom José María Yanguas: O candidato ao sacerdócio deve procurar adquirir virtudes como a sinceridade e a simplicidade, com uma rejeição instintiva da vida dupla, de tudo o que é falso, inautêntico, artificial; o espírito de trabalho; o sentido da amizade, sincera e aberta, generosa e sacrificada, chave para viver o sacerdócio e dentro de uma comunidade; o espírito de serviço, necessário para quem escolhe doar-se de forma incansável a todos; o vigor do ânimo e a capacidade de sofrimento, esse “aguentar”, poderíamos dizer, para não se curvar diante das dificuldades e obstáculos, para saber trabalhar a longo prazo, sem esperar o sucesso fácil e imediato e não se desanimar diante de possíveis fracassos.

Também é claro que o candidato ao sacerdócio deve ter a necessária formação teológica e moral, canônica, litúrgica e pastoral; possuir uma experiência viva do Deus que se revela a nós em Cristo, experiência que se cultiva no diálogo vital da oração pessoal, pública ou privada; sentido sobrenatural, que leve a julgar tudo à luz de Deus; bondade e senso de paternidade, que leva a tratar todos com sincera e madura cordialidade; otimismo sobrenatural, que infunda nos fiéis a alegria e a confiança.

Além disso, também é necessário o sentido de responsabilidade, criatividade e espírito de liderança, de quem se esforça, de mil maneiras, em oferecer a Palavra de Deus aos seus irmãos, em aproximá-los das fontes da graça, que são os sacramentos, em guiá-los pelos caminhos de uma vida autenticamente cristã. Estas não são as únicas “virtude” da formação sacerdotal, pelas quais você me pergunta, mas estas não deveriam faltar.

ZENIT: Qual deve ser o papel do diretor espiritual durante a formação dos seminaristas?

Dom José María Yanguas: É um trabalho que toca o mais íntimo e pessoal do sujeito. Esta tarefa, portanto, requer extrema delicadeza, de modo que os candidatos se sintam acolhidos, compreendidos, valorizados; requer humildade e sentido de Igreja, para não formá-los à própria imagem e semelhança; exige o respeito às peculiaridades de cada um, com a segurança de que não existem duas almas iguais e de que não existem receitas de indiscriminada aplicação universal; fortaleza para corrigir, quando for necessário; ciência moral e conhecimento da vida espiritual; atenção ao que Deus pode pedir aos diversos candidatos; esmero em facilitar a sua sinceridade; prudência para conduzi-los por um caminho inclinado; a paciência para acompanhar os ritmos de crescimento, às vezes tão diferentes, de cada um…

ZENIT: E no que diz respeito à fragilidade emocional, sobre a qual o senhor falou no evento acadêmico da Universidade de Santa Cruz?

Dom José María Yanguas: Este assunto não é algo específico da formação sacerdotal. A fragilidade, imaturidade, inconsistência de ânimo estão presentes em muitos dos nossos jovens e adolescentes. Essa fragilidade se manifesta como falta de harmonia entre as esferas intelectual, volitiva e afetiva da pessoa, criando instabilidade, mudanças frequentes de humor, comportamentos guiados pelos “caprichos”, incumprimento dos compromissos adquiridos, desilusões após entusiasmos repentinos, estados depressivos sem nenhuma razão além das pequenas e inevitáveis falhas, incapacidade de manter-se ou resistir diante de obstáculos, dificuldade em tomar decisões verdadeiras. As pessoas afetivamente frágeis precisam ser o centro das atenções, ser reconhecidas e valorizadas, e facilmente confundem sentimento com amor verdadeiro.

ZENIT: É apenas uma questão de sentimentos?

Dom José María Yanguas: Claro que não. Esta é a inadequada integração do mundo afetivo na pessoa como um todo, enquanto a maturidade pessoal, no entanto, é o resultado de um desenvolvimento harmonioso das capacidades propriamente humanas. A imaturidade afetiva não é apenas uma questão da esfera dos sentimentos; supõe certamente imaturidade intelectual e volitiva.

Se o variado mundo dos sentimentos e emoções, muitas vezes confuso, prevalece sobre o intelecto e a vontade, necessariamente se cai no sentimentalismo, permitindo que sejam os sentimentos que decidam sobre a verdade ou o erro e que sejam eles o único motor dos nossos atos. A razão perde a capacidade de discernimento e a vontade se enfraquece. A vida da pessoa fica, então, em poder dos sentimentos, variáveis, mutáveis, muitas vezes superficiais, sendo que o comportamento precisa ser dirigido pela inteligência e governado pela vontade.

Se o sentimentalismo permeia a vida de piedade, esta correrá um sério risco quando os sentimentos, experiências e emoções que a sustentam não estiverem presentes. Acaba-se confundindo a vida de piedade com o sentimento.

ZENIT: Que características da época atual podem levar a essa fragilidade afetiva que atinge os homens do nosso tempo?

Dom José María Yanguas: Essa fragilidade é facilitada por um ambiente que nega as verdades absolutas, os valores fortes, os modelos de conduta; um ambiente cultural em que a distinção entre o bem e o mal é incerta, em que o verdadeiro é confundido com o útil ou prático. Isso torna impossível uma autêntica educação ou formação; não existem modelos, falta uma ideia clara do que significa ser humano.

ZENIT: Esse fator certamente é um desafio para a formação dos seminaristas de hoje…

Dom José María Yanguas: Exatamente. Portanto, é necessário propor aos candidatos ao sacerdócio, com força renovada, o modelo de Cristo Sacerdote, Bom Pastor; motivá-los com essa imagem, de modo que, à sua luz, tudo tenha sentido: tanto sua formação como a construção da própria personalidade.

(Carmen Elena Villa)

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