Homilia do Pe. Matheus Pigozz – Quinta-Feira Santa – Ano B

HOMILIA DA MISSA IN CAENA DOMINI

Caros irmãos, hoje iniciamos a celebração do Tríduo Pascal. Nessa Missa, vivemos a última ceia de Jesus com seus discípulos e celebramos a instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e o mandamento da caridade. Geralmente nas pregações é comum enfatizar da grandiosidade da Eucaristia ou do compromisso da caridade fraterna ensinado por Cristo, mas hoje vamos meditar sobre o mistério do sacerdócio, instituído por Jesus.

Vemos nos Evangelhos que o Senhor passava curando as pessoas, pregando a sua palavra, mostrando a verdade, ressuscitando mortos. Esses sinais todos indicavam sua ação na alma de quem o recebe. O homem tem vida, verdade, cura, conforto, tem sentido, se deixa Deus fazer morada nele. Mas, essa presença e atuação de Cristo nas almas, não podia ficar restrita a um tempo do passado, se não, só seus contemporâneos teriam acesso à salvação. Como poderia o homem em toda a história tocar Cristo, ouvir sua doutrina, se iluminar com sua luz, e ser liberto do poder do mal? Como poderia a criatura se relacionar com seu Deus de modo tão concreto, como poderia experimentar sua presença encarnada, seu amor pleno? Como? Nós não saberíamos responder, ou, ao menos, responderíamos de modo diferente da forma como Ele quis solucionar essa questão. Pois, o que Ele fez é muito arriscado. Não caberia em nossa matemática.

Jesus escolheu apóstolos. Esses homens são os sacerdotes, Jesus disse: “se vocês os recebem, a mim recebem”. Falou que perdoaria a quem eles dessem o perdão. Disse a eles: “dai ao povo de comer, curai os doentes”. Determinou que os sacerdotes deveriam ir aonde Ele mesmo deveria ir. Sim! Para continuar nos tocando com sua divindade de modo encarnado, de modo humano, Cristo escolhe homens e os unge, transmite seu poder e os configura a si. Isso é impressionante! Através da voz do sacerdote, Cristo suscita fé nos corações, restaura as almas, traz sua presença Eucarística, renova seus mistérios na liturgia, conforta e perdoa seu povo. Como Ele pôde fazer isso? Ele podia mandar anjos, mas, para não deixar de estar perto de nós de modo concreto e palpável, quis estar presente por meio de homens de carne e osso, homens frágeis, homens passíveis de erro, com temperamentos e defeitos, mas homens aos quais pudéssemos ouvir e falar.

Isso é um mistério de fé. Assim como a multidão via um simples montado num jumento e identificava o Messias, assim como Maria via a cruz e adorava o Ressuscitado, a Igreja durante a história vê homens ungidos e crê no sumo e eterno sacerdote Jesus que age através deles e apesar deles. Jesus não escolheu perfeitos e não escolhe perfeitos porque eles não existem. Mas não deixa de escolher e chamar homens a essa sublime missão porque nos ama e quer estar perto de nós. Uma vez ouvi falar de uma comunidade que não tinha sacerdote, num tempo de guerra, o último pároco havia morrido fazia um tempo e as pessoas pegavam a estola sacerdotal e colocavam sobre o túmulo do falecido e confessavam seus pecados. Sentiam a terrível ausência. Deus sempre está presente, mas próximo e sacramental, só pelo sacerdócio. O mundo sem o sacerdote é um mundo defasado. Uma comunidade, uma suposta Igreja, sem sacerdote é um algo incompleto. São João Maria Vianney dizia que se deixassem uma cidade sem padre por longo tempo, as pessoas adorariam as bestas. O Sacerdócio liga nossa fraqueza a Deus e traz o poder de salvação de Deus a nós, é um elo do qual devemos nos orgulhar e o qual devemos amar.

Por conta da sua unção, o sacerdote deve se empenhar com muito afinco pela perfeição cristã. Mas, como qualquer fiel, está passível de erro e precisa de se esforçar para ser santo, podendo se perder se não se vigiar e não se abrir à graça. O fiel maduro no caminho, ama e reza pelos sacerdotes, mas nunca se abala na fé por conta dos erros dos padres espalhados pelo mundo, pois crê no sacerdócio de Cristo, independente do vaso que o carrega. Também, o fiel maduro, nunca deixa de enxergar o testemunho positivo de muitos sacerdotes que entregam a vida pelo Evangelho. O Evangelho de hoje traz uma situação importante a se considerar. Diz que o diabo tinha posto o mal no coração de Judas. Judas era um sacerdote. O demônio quer a perdição e escândalo dos padres, pois sabe que muitos leigos, ao verem o vaso de barro quebrar, podem esquecer do tesouro que tem dentro. Desse modo, não devemos nos impressionar com as investidas do inimigo contra os sacerdotes querendo os confundir e os aprisionar no mal, temos todos que fazer o caminho inverso, devemos rezar diariamente pelos padres e aumentar nossa fé no sacerdócio de Cristo e agradecer a Deus por tirar homens de suas casas, de suas famílias, de seus projetos e os colocar a seu serviço para dar os sacramentos e pregar a doutrina de salvação ao seu povo.

Amemos esse mistério que é o sacerdócio! São João maria Vianney pregava assim a seus fiéis: “Sem o Sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem há de prepará-la para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no Sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. […] Depois de Deus, o sacerdote é tudo! […] Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no Céu”.

“Oh como é grande o padre! […] Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. […] Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do Céu e encerra-Se numa pequena hóstia”.

 “Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor. […] Sem o padre, a Morte e a Paixão de Nosso Senhor não teria servido para nada. É o padre que continua a obra da Redenção sobre a terra […]. Que aproveitaria termos uma casa cheia de ouro, se não houvesse ninguém para nos abrir a porta? O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo do bom Deus; o administrador dos seus bens.

Jesus confiou à Igreja, nessa noite, o tesouro do seu sacerdócio. Renovemos nossa fé nesse mistério e rezemos pela fidelidade de todos os sacerdotes para que a sã doutrina seja pregada e os sacramentos inflamem os corações dos fiéis no amor de Deus que se abaixa para chegar até a humanidade.

Que Maria, Rainha dos sacerdotes, interceda por todos nós. Amém! 

Pe. Matheus Pigozzo

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