O mundo e nós
Quarta-feira, 7ª semana da Páscoa, C – At 20,28-38; Sl 67; Jo 17,11-19
Hoje estamos diante da relação com o mundo que é necessário, porém, por vezes, tensa. Por causa de tudo isso, Jesus reza por nós: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno” (Jo 17,15). O concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Lumen Gentium”, sobre a Igreja, no número 31, trabalhou essas relações dos leigos com o mundo afirmando que lhes é própria a índole secular. Sendo assim, como se pode perceber, a secularidade pode ser algo positivo.
E, contudo, ao falar da “índole secular” não será difícil conectar essa expressão com outras semelhantes, tais como secularidade e secularismo. Evidentemente, uma secularidade da qual se quisesse excluir Deus já não poderia ser a secularidade dos leigos, a qual defendemos. Secularidade não é secularismo, o qual exclui Deus por sua própria natureza e definição, pois trata-se de um humanismo ateu.
Enquanto o secularismo quer retirar a Deus da sociedade, a secularidade cristã quer que essa mesma sociedade tenha lugar para Deus, fá-lo respeitando a autonomia das realidades criadas. Analogamente, ao que se diz sobre a secularidade e o secularismo, se pode afirmar da laicidade e do laicismo.
A laicidade é algo que todos os leigos católicos devem ter, esta poderia encontrar a sua expressão na “mentalidade laical”, conforme explicava São Josemaria Escrivá: é preciso respeitar a justa autonomia das realidades seculares. Quando o leigo age com liberdade e responsabilidade pessoais, respeitando os outros e as suas opiniões na resolução dos distintos problemas temporais, sem misturar a Igreja em questões partidárias (por exemplo, políticas), pode-se afirmar que tal leigo tem uma verdadeira mentalidade laical . Esta mentalidade, ao respeitar a justa autonomia das realidades temporais, sabe que “autonomia” não é “independência” de Deus: as coisas criadas sempre serão o que são, isto é, criadas, e, portanto, pressupõem a existência de Deus e dependem dele. Contudo, como Deus quis colocar na sua criação leis pelas quais devem reger-se, os cristãos respeitam essas mesmas leis, a justa autonomia de tal maneira de funcionar.
O laicismo, ao contrário, defende, como no caso do secularismo, uma atuação na qual, se não se nega totalmente a Deus, o qual não contaria para nada. Enfraquece-se, desta forma, a verdade de que também a Igreja como sociedade é sujeito de direitos que devem ser respeitados. Um tal laicismo intolerante é muito comum nas atuais sociedades democráticas, as quais querem que não tenhamos nenhuma expressão pública do que somos na sociedade como um todo e, por vezes, chegam a negar a ética natural. Nós somos enviados ao mundo (Jo 16,18), nós somos mundo criado por Deus para evangelizar o mundo. Certamente, à medida em que todos os seres humanos estiverem aos pés de Jesus Cristo não se exclui, tampouco, uma sociedade confessionalmente católica, a qual não poderia deixar de respeitar a liberdade individual dos demais seres humanos que não se confessam católicos, uma vez que a fé nunca se impõe a ninguém.
Padre Françoá Costa
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