Outro milagre, uma nova ação teândrica
Sábado, II Semana da Páscoa, C, – At 6,1-7; Sl 32; Jo 6,16-21
Jesus anda sobre as águas (Jo 6,16-21): outro milagre: Segundo Santo Tomás de Aquino, milagres são os argumentos da fé que Jesus ensinava (S. Th. III, 44, 1c). Conectado ao tema dos milagres, há um tema clássico na teologia que não podemos omitir: as chamadas “ações teândricas”. Jesus Cristo tem um poder divino por ser Deus e um poder humano por ser homem. Num segundo momento, devemos considerar também que o seu poder humano pode ser natural, isto é, aquilo que pode enquanto ser humano como qualquer outro homem poderia realizar; mas também pode ser um poder sobrenatural no sentido de que a sua humanidade é instrumento da divindade para realizar obras humanas exclusivas de Deus. Nesse caso, seu poder humano é “potência instrumental” para que Deus atue sobre as realidades humanas. A esse tipo de ações, isto é, enquanto a humanidade santíssima de Cristo é “instrumento da divindade” e por isso, entre outras coisas, perdoa pecados, anda sobre as águas e ressuscita mortos, chamamo-las “ações teândricas”. Trata-se de ações nas quais Deus (Theos) e o homem (Anthropos) agem juntos.
As ações teândricas são realizações típicas de Jesus Cristo e são permanentes e definitivas como a encarnação. Não se pode confundir tais ações com “onipotência”, propriedade própria da divindade: Jesus é onipotente por sua divindade, não pela sua humanidade. Esse poder teândrico do Messias lhe corresponde enquanto homem, ou seja, sua natureza humana serve como instrumento da divindade; as ações teândricas é mais uma manifestação de que ele veio para instaurar o Reino . A palavra que expressa essa realidade afirma a união do divino com o humano – Deus (Θεός), homem (άνδρος); ações teândricas são aquelas nas quais concorrem o divino e o humano: evidentemente, andar sobre as águas não é uma ação própria dos seres humanos, mas para Jesus realizar essa ação, ele necessita de sua humanidade.
É nesse sentido que falamos que a humanidade de Cristo é “instrumento” de sua divindade. Leiamos Santo Tomás: “Chama-se instrumento aquilo que é movido por um agente principal, mas isso não impede que possa ter além disso uma operação própria que provém de sua forma, como foi dito a respeito do fogo. Portanto, a ação do instrumento como tal não é distinta da do agente principal, mas pode ter uma operação distinta, enquanto é tal coisa. Por isso, a operação da natureza humana de Cristo, enquanto é instrumento da divindade, não é distinta da operação divina, pois a salvação é obra única da humanidade e da divindade de Cristo. Mas a natureza humana de Cristo, tem uma operação própria distinta da divina” (S. Th. III, 19, 1c).
Quão maravilhoso é o mistério de Jesus Cristo, nosso único Senhor e Salvador! Procuremos com a nossa mente e o nosso coração entender e amar cada vez mais aquele que tudo fez por nós, Jesus Cristo.
Padre Françoá Costa
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