É bom recordar que Jesus é Deus e Homem
Quinta-feira, II Semana da Páscoa, C, – At 5,27-33; Sl 33; Jo 3,31-36
Jesus vem do alto e trás as realidades do céu até nós. Ele é a segunda pessoa da Santíssima Trindade, ou seja, uma das três divinas Pessoas, que são um só Deus. Ele entende das coisas do alto e vem para no-las ensinar.
Quiçá seja interessante voltar a recordar categoricamente: Jesus é a segunda Pessoa da Trindade, porém em duas naturezas: a natureza divina e a natureza humana. Ou seja, ele é perfeito Deus e perfeito Homem. Afirmar a perfeita divindade e a perfeita humanidade de Jesus tem, para santos, como Atanásio, e para toda a Tradição, uma importância soteriológica, isto é, no relevo no plano da salvação de Deus. De fato, o centro da fé cristã é a encarnação do Verbo enquanto ordenada à salvação do homem: Deus se fez homem para que o homem fosse divinizado. Sem dúvida, é essa perspectiva soteriológica que faz Atanásio pensar no mistério da Trindade. Já que a nossa vida divina consiste na participação da própria vida de Deus por meio do Espírito Santo, é lógico afirmar que essa salvação não seria possível se Cristo não fosse Deus, mas ele não seria Deus se o Verbo não fosse divino.
Bernard Sesboüe, em seu Ensaio sobre a redenção e a salvação, observa que o nome “Jesus” significa “Javé salva” e que esse dado é primordial no estudo da soteriologia, porque Jesus, ele mesmo, toda a sua pessoa encarnada, é Salvação. É em torno ao seu nome salvador (cf. At 4,12) que todos os demais conceitos soteriológicos – redentor, justificador, mediador etc. – devem convergir. De fato, a soteriologia é, portanto, o ponto de partida de toda a cristologia: como Jesus nos salvaria se ele não fosse, na unidade de uma única Pessoa, o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem, tal como a Tradição cristã sempre confessou de maneira precisa e especulativa? Mais ainda, a salvação de Jesus estrutura toda a fé cristã e toda a Sagrada Escritura.
A soteriologia é o centro da dogmática. A Eucaristia, por exemplo, sendo o centro da estrutura da teologia sacramentária, é o memorial da morte do Senhor (cf. 1 Cor 11,26). São Paulo é consciente de que basta anunciar o Cristo crucificado (cf. 1 Cor 2,2) e de que o núcleo da pregação cristã é a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Cristo (1 Cor 15,3-4) a ser entregue por Tradição. Nesse contexto de salvação, a Igreja sempre confessará a fórmula do Concílio de Niceia (ano 325) ao dizer que crê em um “só Senhor, Jesus Cristo, Filho único de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, da mesma substância (homousios) do Pai, por quem tudo foi feito”. Portanto, quando a Igreja utiliza a palavra “substância” quer dizer simplesmente que o Filho possui a mesma natureza ou essência do Pai, isto é, que o Filho é igual ao Pai, é Deus como o Pai é Deus .
Padre Françoá Costa
Instagram: @padrefcosta