Setenta vezes sete é igual a sempre
Terça-feira – III Quaresma – C – Dn 3,25-43; Sl 24; Mt 18,21-35
Não precisa ser muito bom em matemática para descobrir que setenta vezes sete é igual a “sempre!” Como? Claro que sim, se 70×7=490, então 70×7=sempre. Está bem: concedemos que esta lógica matemática não é exatamente perfeita, mas também concedemos que na lógica de Cristo a conta está bem feita. É preciso perdoar sempre porque agrada a Deus, porque os primeiros beneficiados somos nós mesmos e porque, finalmente, é um grande bem fraterno-social.
Perdoar agrada muito a Deus porque nos faz semelhantes a ele. Deus perdoa sempre! Não importa quantas vezes peçamos perdão e nem importa se são os pecados de sempre, se estamos arrependidos o Senhor nos perdoará. É o que experimentamos no sacramento do perdão e da alegria, na confissão. Nós somos os primeiros a aproveitar-nos da graça de perdoar. O perdão atrai o olhar misericordioso de Deus rumo a nós e nos faz serenos no dia-a-dia. Uma pessoa que sabe que não tem inimigos vive em paz. Como saber que eu não tenho inimigos? É simples, é só não considerar ninguém como inimigo. Talvez os outros possam até considerar-nos seus inimigos desde algum ponto de vista. O problema é deles! Nós, da nossa parte, não consideramos ninguém como nosso inimigo. A bondade do coração cristão é o melhor remédio para curar os males do coração alheio. Mais cedo ou mais tarde, os outros pensarão: “Por que mexer com uma pessoa que só quer o meu bem?”.
O perdão muda um ambiente nebuloso por um ambiente iluminado, constrói relações de amizade e sociais. Quando há compreensão e perdão entre amigos, essa amizade perdura apesar dos pesares. Os nossos amigos são pessoas como nós, com virtudes e defeitos; se nós, porém, não compreendermos que eles nem sempre se comportaram virtuosamente é sinal de que ainda não somos bons amigos. Até Deus permite que nós erremos, deixa que pequemos, isto é, Deus respeita até o mau uso da nossa liberdade e… continua nos amando, nos perdoando. Nós não podemos sufocar as pessoas sendo intransigentes e insuportáveis; ao contrário, devemos compreender quem está no erro sem minimizar as exigências da doutrina e da moral cristã.
Sempre assisto prazerosamente aquele belíssimo filme de Fred Zinnemann, baseado no livro de Robert Bolt, sobre S. Tomás Moro, “Um homem que não vendeu a sua alma”. Uma das primeiras cenas é aquela conversa entre um cardeal pouco escrupuloso que ironiza a confiança de Tomás Moro na oração da seguinte maneira: “então, você gostaria de governar um país com orações?”. Tomás lhe responde decididamente: “sim, gostaria”. Poderíamos parafrasear essa ideia: construir as relações sociais sob o perdão? E respondamos com toda paz: sim, é possível
Padre Françoá Costa
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