Domingo de Ramos
Mt 26,14-27
Caros irmãos e irmãs
Neste último domingo da quaresma, celebramos o domingo de Ramos e, com ele, temos a abertura da Semana Santa que é a grande semana de fé cristã, o tempo litúrgico mais forte, mais rico em conteúdo e de maior intensidade religiosa de todo o ano cristão, porque nela celebramos os mistérios centrais de nossa fé: a morte e a ressurreição de Cristo. E a Liturgia nos oferece dois evangelhos: o da entrada de Jesus em Jerusalém (cf. Mt 21,1-11) e o Evangelho em que Jesus é condenado e crucificado no Calvário, no qual contemplamos a paixão e a morte de Jesus.
A entrada de Jesus em Jerusalém é recordada nas igrejas com a bênção dos ramos e a procissão; a leitura da paixão e morte de Cristo ocorre na celebração da missa. Isso tem uma razão histórica. Em Roma, não havia a Semana Santa. Celebrava-se no sexto domingo da quaresma a Paixão e Morte de Cristo e, no domingo seguinte, a Páscoa do Senhor. Somente no século XI é que a Procissão de Ramos, costume nascido em Jerusalém, chegou a Roma, e esta cerimônia passou a fazer parte da liturgia romana.
Juntamente com os seus discípulos e uma multidão crescente de peregrinos, Jesus sobe da planície da Galileia para a Cidade Santa, onde entra montado em um jumento, ou seja, um animal próprio das pessoas simples do campo, e além disso, um jumento que não lhe pertencia, mas que havia sido emprestado para esta ocasião. O evangelista São João nos narra que, num primeiro momento, os discípulos não compreenderam esta atitude de Jesus. Apenas posteriormente, após a Páscoa, ao perceber que ele, com sua atitude, estava cumprindo o anúncio dos profetas e as prescrições contidas na Palavra de Deus. O livro do profeta Zacarias já dizia: “Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei que chega sentado na cria de uma jumenta” (Zc 9,9).
A entrada em Jerusalém é testemunho da herança profética no coração daquele povo que estava a espera do Messias. É, ao mesmo tempo, verificação e confirmação do Evangelho, por Ele anunciado. Como de fato, o Messias devia revelar-se precisamente como tal rei: manso, montado num jumento, no potrinho de uma jumenta. Com essa entrada de Jesus em Jerusalém, é Ele aclamado pela multidão: “Hosana! Bendito seja o que vem em nome do Senhor” (Mc 11, 9). Esta palavra faz parte do rito da festa dos tabernáculos, durante o qual os fiéis caminham ao redor do altar, tendo nas mãos alguns ramos compostos de palmas, mirtos e salgueiros.
Pois bem, com as palmas nas mãos, as pessoas elevam este clamor diante de Jesus, e o identificam como aquele que vem em nome de Deus. Esta expressão tornou-se, há muito tempo, a designação da chegada do Messias. Com esta aclamação, o povo reconhece que Jesus verdadeiramente vem em nome do Senhor e traz a presença de Deus para junto do homem. Este brado de esperança de Israel, esta aclamação a Jesus durante o seu ingresso em Jerusalém, tornou-se na Igreja exaltação de todos os fiéis para aclamar o Cristo presente na Eucaristia, para uma vez mais, estar conosco. Neste domingo de Ramos, devemos também reviver, de maneira litúrgica, aquele acontecimento profético. Repetimos as mesmas palavras pronunciadas pela multidão quando Jesus entrou em Jerusalém. Seguramos nas mãos os nossos ramos e aclamamos o Cristo que vem.
E no decorrer da liturgia da Santa Missa, temos ainda o relato da paixão de Jesus, onde são descritos os sofrimentos que culminaram com a sua morte. O Domingo de Ramos é a única ocasião, além da Sexta-Feira Santa, em que se lê o Evangelho da Paixão de Cristo no curso de todo o ano litúrgico. Neste relato, o evangelista São Mateus, em conformidade com a sua narração, vê na paixão de Jesus o caminho do justo sofredor e, ao mesmo tempo, o começo de um novo mundo.
Também o evangelista São Mateus ressalta com insistência em seu evangelho que tudo o que está acontecendo com Jesus foi previsto pelos profetas. No decorrer da última Ceia, Jesus já havia dito: “O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele” (Mt 26,24). O mesmo ocorre quando, no Jardim das Oliveiras, no momento em que os guardas se aproximam para prender o Cristo como se fosse um bandido. Neste momento ele diz: “…tudo isto aconteceu para se cumprir o que os profetas escreveram” (Mt 26,56).
Um outro ensinamento apresentado pelo evangelista São Mateus está na não violência, ao narrar a frase de Jesus dirigida a Pedro, que tinha empunhado a espada para defender o seu Mestre: “Guarda a espada na bainha! Pois todos os que usam a espada pela espada morrerão” (v. 52). Este acontecimento deixa para nós mais uma lição do Cristo, pois a sua missão é dar a vida pelo irmão e jamais agredi-lo.
Em um mundo que associa às vezes a vingança ou mesmo o ódio e a violência ao nome de Deus, esta é uma mensagem de grande atualidade e de significado muito concreto. Na hora da paixão de Jesus, este amor manifesta-se em toda a sua força. Nos últimos momentos da sua vida terrena, na ceia com os seus amigos, Jesus diz: “Como o Pai me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor… Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós” (Jo 15,9.11). Jesus quer introduzir os seus discípulos e cada um de nós, pela prática do perdão e do amor, a uma alegria plena.
Neste tempo em que celebramos a caminhada de Jesus Cristo na dor e no sofrimento, possamos também nós nos preparar para celebrar a sua Ressurreição, participar do amor de Deus que redimiu o mundo e iluminou a história. Saibamos viver este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no circuito de amor, extensivo a cada irmão que encontramos na nossa vida.
Neste domingo de Ramos, vamos nós também ao encontro de Jesus. Deixemos que ele nos guie, a fim de aprendermos do próprio Deus o modo reto de ser. É Jesus quem abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Ele mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a cruz. Também nós devemos seguir esta mesma inspiração. O Senhor conta com cada um de nós e nos chama de amigos. Só aos que se ama desta maneira é capaz de dar a vida proporcionada com sua graça. Tenhamos sempre a alegria de caminhar com Jesus, de estar com Ele e, como Simão de Cirene, o auxiliando a levar a cruz.
Possamos nestes dias participar das celebrações em espírito e devoção. É um momento propício para avivarmos a fé que dá sentido a nossa vida e assimilarmos os sentimentos próprios de uma união com Jesus Cristo. Que a Virgem Maria interceda sempre por nós e nos ensine a alegria do encontro com Cristo, o amor com que o devemos contemplar ao pé da cruz, para sermos sempre mensageiros da sua Palavra e da sua paz. Assim seja.
Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ