Homilia Pe. André Luís Buchmann de Andrade – Solenidade da Assunção de Maria

“A minha alma engrandece o Senhor, e se alegrou o meu espírito em Deus, meu Salvador, pois, ele viu a pequenez de sua serva, eis que agora as gerações hão de chamar-me de bendita. O Poderoso fez por mim maravilhas e Santo é o seu nome!”

 

Idéias principais: A Assunção faz parte das quatro prerrogativas de Nossa Senhora. Maria morreu ou não? O Dogma da Assunção.

I. A Assunção faz parte das quatro prerrogativas de Nossa Senhora.

Desde pequenos, sabemos, pelo Catecismo que nos foi ensinado, que os quatro Dogmas Marianos ou as quatro prerrogativas de Nossa Senhora são a Sua Imaculada Conceição, a Sua Plenitude da Graça Divina, a Sua Virgindade Perpétua e a Sua Gloriosa Assunção aos Céus.

Estas prerrogativas não foram invenções da Igreja, mas constatações teológicas de uma realidade presente na Mãe do Salvador.
Imaculada Conceição: Maria foi concebida sem o pecado original e sem a sua influência. Nós todos nascemos com este pecado.

Plenitude da Graça: na oração da Ave-Maria dizemos que Nossa Senhora é cheia de Graça. Começou Sua vida em graça de Deus, desde a Sua concepção, e continuou em graça de Deus sempre. Quem peca volta-se contra Deus e pertence ao demônio. Como poderia em algum momento pertencer ao demônio a Mãe do Deus verdadeiro que se fez Homem verdadeiro?
Virgindade Perpétua: Maria foi Virgem antes, durante e depois do parto. Talvez alguém julgue que é uma coisa impossível até de pensar. Mas se Deus pode fazer com que uma pessoa seja imaculada desde a sua concepção, pode fazer com que a pessoa seja cheia de graça, será que não pode fazer com que seja sempre virgem? Não acreditar na Virgindade Perpétua de Maria não é só faltar com o respeito a Ela, mas é ir contra Deus, Autor desta maravilha.

A Assunção de Maria é o quarto Dogma e o mais tardio na sua declaração.

II. Maria morreu ou não?

Desde o início da Igreja se falava ou da morte ou da dormição de Nossa Senhora. São duas vertentes de um só acontecimento. Alguns diziam que Maria foi acometida de um sono profundo e, então, foi elevada em corpo e alma ao Céu. Outros diziam que morreu e que também foi em corpo e alma para a glória. Estes dois pensamentos ressaltavam que assim como Nossa Senhora teve a Sua pureza preservada na Virgindade, assim como era da mesma carne de Jesus, o Filho de Deus, foi preservada da corrupção da morte e – dormindo ou morrendo – foi elevada imediatamente ao Céu em corpo e alma.

A elevação de Maria ao Céu sempre fez parte da fé da Igreja.

 Era mais comum antigamente se defender a posição dos que pensavam que Maria dormiu. Os que defendiam tal idéia diziam que Nossa Senhora, não tendo o pecado original, não poderia ter a sua conseqüência que é a morte. Tinha de ser preservada.

Depois que Pio IX proclamou o Dogma da Imaculada Conceição intensificou-se a discussão entre os Teólogos a respeito do fim da vida terrena de Maria. Muitos começaram a afirmar que Maria não poderia ter morrido, uma vez que a morte é o castigo pelo pecado. A discussão tornou-se tão acirrada que Pio XII não quis incluí-la na proclamação da Assunção.

Da proclamação do Dogma da Assunção em diante os teólogos começaram a defender a idéia da morte de Maria pelo fato de que até Jesus morreu e, portanto, não haveria nenhum inconveniente em aceitar a morte de Sua Mãe.

As duas idéias podem ser defendidas, ainda que não ao mesmo tempo.

III.O Dogma da Assunção.

O Papa Pio XII, ao definir a Assunção como Dogma de fé, não desceu, sabiamente, aos pormenores da morte ou dormição da Virgem Santíssima.

O Dogma da Assunção consiste em afirmar que Maria foi elevada em corpo de alma ao Céu e lá já se encontra como Jesus que depois de Ressuscitado e da Sua Ascenção está também desta maneira.

Maria está inteira no Céu. Maria vive, não está morta.

Os Santos esperam a ressurreição da carne. Maria está viva no Céu.

Portanto, mesmo com a proclamação do Dogma da Assunção, permanece a liberdade de quem queira pensar como os antigos que falavam simplesmente da dormição da Virgem ou pode-se pensar como a Teologia mais atual que aceita a morte de Maria.

Convém ainda notar que nas línguas latina existe uma sutil diferenciação terminológica, que não existe em outros idiomas e que é, a saber, aquela entre Ascenção e Assunção. Não seria a mesma coisa, ou seja, a subida em corpo e alma ao Céu? Olhando de fora ou superficialmente pode parecer a mesma coisa. Mas Ascenção é a de Cristo, e Sua subida ao Céu se deu por Seu poder divino, por Sua natureza divina. Ele subiu ao Céu. Com Maria o que aconteceu foi a Assunção, isto é, ela foi atraída ao Céu. Não subiu por poder próprio. Foi elevada por Deus, atraída por Deus. Sutis diferenças que nos fazem entender melhor a realidade.

Santo Afonso Maria de Ligório fala das três coisas que tornam a morte uma experiência nada agradável — o apego à Terra, o remorso dos pecados e a incerteza da salvação — e de como podemos evitá-las imitando o exemplo de Maria Santíssima. [note] Para entender melhor a questão recomenda-se a leitura de S. Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria [/note]

Se Maria morreu ou dormiu, cada um escolha o que melhor aprouver para sua devoção. Mas podemos dizer, conforme ensina Santo Afonso e conforme a experiência de vida que temos, que Maria não estava apegada à Terra e, em conseqüência, a morte para Ela não seria amarga. Remorso pelos pecados Ela não precisaria ter, pois nunca os cometera e tampouco a incerteza da Salvação eterna. Maria sabia em que terreno estava pisando e estas incertezas e amarguras não as torturaram na hora da morte.

Que Deus nos conceda, por intercessão de Maria Santíssima, que vivamos nesta vida de tal modo desapegados de tudo e de todos e somente apegados a Ele, que possamos partir cantando sob a luz do olhar d’Ela.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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