Homilia do Pe. André Luís Buchmann de Andrade – XXII Domingo do Tempo Comum – Ano b

Honrar o Senhor de verdade.

“Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos” (Mc 7,6).

Idéias principais: Honrar o Senhor com os lábios, mas também e principalmente com o coração e as obras. A doutrina católica não é uma coleção de preceitos humanos.  Praticar a inveja é não honrar o Senhor.

I. Honrar o Senhor com os lábios, mas também e principalmente com o coração e as obras.

De nada adiantaria dizermos que acreditamos em Deus, mas termos inveja dos dons que Ele dá aos outros.

Cristo, Nosso Senhor, elenca no Evangelho de hoje uma série do que chama de impurezas que saem do interior do homem. Tratamos agora de uma delas, a saber, a inveja.

Todos sabemos que é um dos sete pecados capitais, isto é, pecados que dão origem a muitos outros.

Nós a achamos muito feia nos outros, sobretudo se é a nós direcionada, mas nunca assumimos que somos invejosos. Talvez porque não notamos as suas sutilezas dentro do nosso coração. A inveja sabe ser “humilde” e “discreta” dentro de nós.

A inveja não se limita a querer ter algo igual ao que o outro tem. Não se trata de querer ter um carro igual ao de um vizinho, um telefone igual ao de um parente, uma casa igual à de um amigo. A inveja caracteriza-se por querer ter o que o outro tem, deixando-o sem possuir. Mas como a própria inveja sabe que o seu “hospedeiro” não pode fazer isso de forma literal, pois se assim o fizesse a pessoa iria para a cadeia acusada de roubo, vai achando subterfúgios discretos a fim de que sua atuação sutil seja mais aceita.

Em vez de tomar o desejado carro do vizinho, o que seria um crime, o invejoso passa a criticá-lo dizendo que ele só quer se mostrar, que ele não tem idade para usar um veículo daquele modelo, ou que ele não precisa de um transporte daquele tamanho. Já que o invejoso não consegue tomar o carro, vai minando a boa fama de dono do carro.

Isso acontece com as propriedades materiais, mas também com as qualidades intelectuais, psicológicas e espirituais dos invejados.

Os invejosos querem ter a inteligência dos invejados, ou a sua bondade, ou a sua formação acadêmica, ou os seus dotes musicais, ou alguma outra característica sua. Como não conseguem, então, começam com certos comportamentos infantis que são as risadinhas, as fofocas, as calúnias, ou o colocar o invejado numa espécie de quarentena que nada mais é do que uma tentativa de neutralizar os tantos dons que a pessoa tem.

Admirar os dons dos outros não é pecado. Pelo contrário, é virtude. Querer ser, em alguns aspectos, parecido com determinadas pessoas também não é pecado; no máximo seria falta de criatividade. Podemos muito bem querer ser como o Cristo – justamente aí se encontra a criatividade do cristão – como alguns santos em determinados âmbitos da nossa vida, ou como as pessoas boas que conhecemos. O que seria de repudiar é a conduta daqueles que querem para si a virtude de outrem, aniquilando as qualidades dele. Ele não tem direito de ser assim tão bom. Eu tenho de ter as qualidades dele. Assim pensa o invejoso.

Ser invejoso é entristecer-se pela felicidade alheia.

II. A doutrina católica não é uma coleção de preceitos humanos.

Como dissemos a inveja é um dos pecados capitais. A doutrina católica não é um conjunto de idéias inventadas por eclesiásticos, ou uma coleção de preceitos humanos, mas é a verdade de Cristo que deve ser vivida por todos.

Se a Igreja ensina que a inveja é um pecado capital é  porque foi o próprio Cristo quem a listou como impureza que sai do interior do homem e que dá origem a tantos outros pecados.

Dificilmente assumimos que somos invejosos. Raramente confessamos que somos invejosos. Mas muitas das nossas impaciências, muitas das nossas brigas, muitas mortes, muitas calúnias têm raiz na inveja.

Desde o começo da humanidade foi assim. O demônio, com inveja da felicidade do homem e da mulher no paraíso terrestre, fez com que já que ele não vivia esta felicidade, os dois também não a vivessem. Adão e Eva ficaram com inveja de Deus e quiseram ser iguais a Ele. Resultado: perderam a felicidade que tinham e não conseguiram ser iguais a Deus. Perderam o que tinham e não conseguiram o que queriam.

O pior de tudo isso não é o fato de existirem pessoas ruins, invejosas, que falam mal dos outros, que fazem o mal para os outros. O pior de tudo é que há pessoas que se colocam na boca do leão, ou seja, deixam-se comandar e pautam sua vida pelas ordens dos invejosos.

Os invejosos, na verdade, são pessoas inseguras que vestem a pele de autoritarismo para dominar pessoas mais frágeis que eles.

Um invejoso, de fato, nunca conseguirá nada com uma pessoa feliz, segura e equilibrada.

Tem gente que dá muita atenção aos invejosos. E entra no seu jogo. É um prato cheio para eles se deliciarem.

III. Praticar a inveja é não honrar o Senhor.

Não sejamos invejosos e não façamos o jogo dos invejosos.

Diante de um invejoso demonstrar medo, raiva ou insegurança é o que eles querem e precisam.

Estes dias passei diante de uma loja e vi numa porta um vaso com pimentas vermelhas e fiquei pensando que a pessoa que pôs aquilo na porta está dizendo claramente ao invejoso: “tenho medo da sua inveja e estou tentando me proteger”.

Nunca devemos dar este recado aos invejosos. Nosso comportamento deve ser a boa educação, a paciência, mas evitando a dependência, a confidência e a proximidade ou intimidade desnecessária.

As amizades nocivas devem ser evitadas. Se agíssemos com esta prudência não precisaríamos de pimentas, de figas ou fitas vermelhas.

Se existem invejosos bem sucedidos é porque na outra ponta da corda da vida existem pessoas ingênuas que se deixam sujeitar.

O medo atrai desgraças. A insegurança provoca males.

Quem vence o medo e a insegurança vai se tornando a cada dia mais dono de si.

Vencer a insegurança é um ótimo remédio para os invejosos e para os que têm receio de ser invejados.

O invejoso quando adquire segurança e equilíbrio em sua vida, deixa de invejar. O invejado, quando consegue ser uma pessoa com segurança, com boas raízes, com bons alicerces, deixa de ter medo.

Quem tem inveja dos outros enxerga através de lentes enfumaçadas, empoeiradas, embaçadas.

Havia uma mulher que todos os dias, durante o café da manhã, olhava pela janela da cozinha, e comentava com o marido que a vizinha não sabia lavar roupa branca, pois a deixava sempre amarelada.

Um belo dia a mulher que reclamava impressionou-se com a brancura dos lençóis da vizinha e disse ao marido: “Finalmente a vizinha aprendeu a lavar roupa branca!” E qual não foi a sua surpresa ao ouvir o que o seu marido lhe disse: “Não é nada disso. Hoje eu acordei bem cedo e limpei a vidraça da cozinha”.

Temos de ter cuidado quando só vemos defeitos nos outros. Pode ser a “humilde” inveja disfarçada de reclamação.

Que Nossa Senhora, humilde servidora de Deus e do próximo, nos ajude a sermos seguros na prática do bem e perseverantes na caridade.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

Pe. André Luís Buchmann de Andrade

 

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