Homilia do Padre Françoá Costa – XII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Seleção ruinosa!

Há palavras da Sagrada Escritura que são muito agradáveis ao ouvido: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sal 22), “Vinde a mim, vós todos os que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28), “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13), “Tu, que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente (…)” (Sal 90). Outras, ao contrário, são menos agradáveis: “Não podeis servir a Deus e à riqueza” (Mt 6,24), “Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8,33), “vai, vende tudo o que tens e dá-os aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me” (Mc 10,21). Poderíamos continuar fazendo uma lista, mas já é suficiente. Talvez, uma dessas palavras incômodas do Evangelho é a de hoje: renúncia. Jesus pede como exigência para segui-lo o renegar-se a si mesmo, tomar a cruz de cada dia, perder (doando) a vida pelo Reino (cfr. Lc 9,23-24).

Essa tendência de selecionar o que mais gostamos na Bíblia, deixando de lado o que nos incomoda, poderia aplicar-se à doutrina da Igreja, expressão fiel do Evangelho. Pode-se até aceitar que Deus é uno e trino, que Jesus Cristo é Salvador, que Maria é Mãe de Deus e sempre Virgem; mas a dificuldade se mostra quando se fala da doutrina da Igreja sobre o respeito à vida desde a sua concepção natural até o seu término natural, da doutrina católica sobre a castidade, ou ainda, da obrigatoriedade de participar da Missa todos os domingos e dias santos. Como é importante aceitar toda a doutrina cristã e influenciar na sociedade, desde o cargo profissional que se ocupa, para que haja um ambiente mais humano e cristão nesse mundo!

Fazer uma seleção dentro da Sagrada Escritura e da Doutrina da Igreja não está bem! Seguir a Cristo é uma decisão com muitas conseqüências e que conforma toda a existência. Nós não podemos criar o nosso próprio código doutrinal e ético e depois apresentá-lo como se fosse doutrina de Cristo e de sua Igreja. Não! Ou se aceita ou não se aceita!

Outra coisa bem diferente é dispor-se a caminhar com Cristo aceitando tudo o que ele pede, mas, ao mesmo tempo, encontrar dificuldades à hora de realizar essa doutrina na própria vida. Ter dificuldades, e até mesmo pecar, é a pura realidade, dura realidade, do ser humano nesta terra. No entanto, se depois de um pecado seja ele qual for, nos arrependemos de coração, procuramos fazer uma boa confissão e um bom propósito de lutar para ser santos, para agradar o nosso bom Deus, fiquemos tranqüilos. Isso não é hipocrisia, é simplesmente o conhecimento de si mesmo unido à confiança no amor e no perdão de Deus. O que não pode acontecer é que por não conseguirmos fazer as coisas bem, digamos que o bem está mal e que o mal está bem.

Há um ditado que diz que quem não vive como pensa, acaba pensando como vive. Que Deus nos livre dessa ruptura nas nossas vidas. É preciso ser coerentes! A partir do momento que decidimos seguir a Cristo, aceitemos tudo o que ele nos propõe. Digamos-lhe que é difícil e que cairemos se ele não nos ajudar. Jesus nos entenderá. Não podemos seguir a Cristo mantendo as nossas próprias idéias, quando essas são errôneas. Além do mais, Jesus Cristo não é uma idéia, é uma Pessoa.

Isso pode ser duro para escutar e para pregar no mundo atual, mas é preciso acreditar que as pessoas desejam a verdade, o bem e a autêntica beleza. Jesus Cristo não muda a sua doutrina! Quando Jesus falou da Eucaristia, os seus ouvintes acharam que era uma doutrina muito dura e inadmissível. Qual foi a resposta de Jesus? Não retirou nenhuma só letra daquilo que tinha dito (cfr. Jo 6,60-67). A Igreja não pode falsificar o Evangelho porque nós somos fracos e nem sempre conseguimos vivê-lo, é o Evangelho quem tem que fortalecer-nos e modificar-nos.

Pe. Françoá Rodrigues Figueiredo Costa

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