Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – XXV Domingo do Tempo Comum (Ano A)

Parábola dos trabalhadores da vinha

Mt 20,1-16

Caros irmãos e irmãs

No Evangelho deste Domingo, Jesus conta aos seus discípulos a parábola dos trabalhadores da vinha. A parábola fala de um proprietário de vinha que saiu a contratar trabalhadores para a sua vinha.  Saiu logo de manhã cedo e contratou alguns que encontrou, prometendo dar a eles, no fim do dia, o pagamento de um denário, o que equivale a uma moeda de prata, que era o salário normal para um dia de trabalho. Este proprietário saiu novamente na hora terceira e contratou mais outros que estavam na praça, com a mesma promessa de dar a eles o que fosse justo. Saiu de novo à hora sexta e à hora nona e contratou mais outros, com a mesma promessa: pagaria o que fosse justo.  Já quase no fim do dia, à décima primeira hora, que corresponde ao horário das cinco da tarde, saiu e encontrou outros que estavam ainda na praça sem trabalho, uma vez que ninguém os convocara, e os mandou também para a sua vinha.

A oração canônica da Igreja, rezada pelo clero, pelos religiosos e religiosas e por leigos mais integrados na oração litúrgica, é dividida ao longo do dia em quatro horas:  prima, terça, sexta e noa.  Essa divisão é retirada do modo de contar o tempo usado pelos judeus.  À semelhança dos gregos e dos romanos, eles dividiam o dia, do amanhecer ao entardecer, em doze horas.  Mas, na prática, depois das primeiras horas do dia, falavam apenas em hora terceira, das nove ao meio-dia; hora sexta, do meio-dia às três da tarde; e hora nona, das três ao fim da tarde.  Jesus se refere a essas horas na parábola que nos conta, em conformidade com o Evangelista São Mateus.

Os homens que estavam na praça, aguardavam possíveis convites para trabalho.  Na Palestina, a praça era uma espécie de bolsa de trabalho.  Muitos que estavam desempregados iam cedo à praça com suas ferramentas e esperavam até que viesse alguém para contratá-los. O fato de alguns permanecerem nesse lugar até às cinco da tarde, demonstra que estavam ansiosos por encontrar alguma ocupação. A jornada de trabalho naquela época era de 12 horas, iniciava às seis da manhã, e era concluída às 6 da tarde, não sendo mais possível trabalhar após este horário.

A parábola nos diz que, ao findar o dia, o patrão mandou o seu administrador efetuar o pagamento aos trabalhadores, começando pelos últimos. E eles receberam um denário. Depois vieram os outros, que tinham começado a trabalhar desde cedo. Vendo como tinham sido pagos os da última hora, ficaram na esperança de receber mais. Porém receberam apenas o denário que lhes tinha sido prometido. Naturalmente, reclamaram contra o patrão que pagava o mesmo valor aos que tinham trabalhado apenas uma hora e a eles que tinham suportado o peso do cansaço e do calor do dia inteiro.

E vem então a explicação do proprietário da vinha a um dos que reclamavam:  “Meu amigo, não estou sendo injusto para contigo.  Não tínhamos combinado que receberias um denário?  Toma o que é teu e vai em paz.  Se eu quero dar a este último o mesmo que te dei, não tenho o direito de fazer com o meu dinheiro o que eu quiser?  Ou estás vendo de maus olhos o bem que eu estou fazendo?”  (Mt 20,13-15).

A queixa que os primeiros operários expressam reflete a mentalidade de inveja que normalmente domina o coração do homem. O invejoso, quando vê alguém feliz, se entristece com a sua alegria. Mas o patrão, através de Jesus, denuncia a inveja que tal queixa esconde. O proprietário cumpre a justiça, entregando o que fora estabelecido com os primeiros: receber o denário habitual de uma jornada de trabalho, mas, além disso, ele se compadece dos últimos. Se eles recebessem proporcionalmente aos seus méritos, não receberiam o suficiente para seu sustento e o de suas famílias.  O proprietário é generoso com os últimos sem ser injusto com os primeiros.

A parábola é dirigida aos fariseus, povo observante da lei de Moisés, mas eram pessoas incapazes de assimilar conceitos como o amor e o perdão, fechavam o caminho de Deus aos pobres, ignorantes, pecadores, publicanos e marginalizados; e criticavam Jesus porque acolhia esses pecadores, como fez com Maria Madalena, com o publicano Zaqueu e muitos outros que encontrou em seu caminho.  Assim age Deus: oferece a todos um espaço em seu Reino de salvação. Este Reino é um dom oferecido por Deus a todos, sem qualquer exceção.

Cristãos da primeira hora ou da última hora são filhos amados do mesmo Pai. O dom de Deus destina-se a todos, por igual. A parábola nos convida a perceber que Deus oferece gratuitamente a salvação a todos, aos primeiros e aos últimos.  Os últimos são os pecadores que Jesus veio buscar e que, convidados por Ele, entram no âmbito da misericórdia de Deus.  Um caso que se pode destacar como um sinal do amor gratuito do Senhor, como o dos operários da última hora, foi o Bom Ladrão, que conseguiu acesso ao Reino de Deus no último instante. A ele Jesus disse: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43).

Também muitos outros santos tiveram este privilégio.  É o caso, por exemplo, do próprio São Mateus. Antes de ser chamado por Jesus, desempenhava ele a profissão de publicano e, por este motivo, era considerado um pecador público. Mas tudo mudou quando Jesus disse a ele: “Segue-me” (Mt 9,9).  O então publicano, considerado o último, converteu-se imediatamente em discípulo de Cristo, pregando o evangelho até o martírio.  Ele é, portanto, o exemplo das duas realidades: não só se converteu, mas também foi o que trabalhou até o fim, ganhando do Senhor a graça de merecer morrer por sua causa.  Também o apóstolo São Paulo experimentou a alegria de sentir-se chamado pelo Senhor a trabalhar em sua vinha. Mas como ele mesmo confessa, foi a graça de Deus que atuou nele, essa graça o fez passar de perseguidor da Igreja a apóstolo dos povos (cf. Fl 1,22).

Esta parábola mostra a gratuidade e universalidade da salvação porque Deus é bom e generoso.  Este denário oferecido pelo patrão aos seus operários, representa a vida eterna, dom que Deus reserva para todos.

Chama a nossa atenção nesta parábola que o dono de uma vinha, precisando de operários, saiu de casa diversas horas do dia para chamar trabalhadores para a sua vinha (cf. Mt 20,1-16). Não saiu apenas uma vez. Na parábola Jesus diz que ele saiu pelo menos cinco vezes: ao alvorecer, às nove, ao meio-dia, às três e às cinco da tarde.  Havia tanta necessidade de operários na sua vinha que ele passou quase todo o tempo em busca de operários. Podemos dizer que este patrão representa Deus e é Ele que também vem ao nosso encontro e nos convida a trabalhar na sua vinha. Mas, também esta deve ser a nossa missão, sair incansavelmente ao encontro daqueles que ainda não conhecem a vinha do Senhor. Cabe também a nós convidar mais pessoas para fazer parte desta vinha.   

Peçamos a intercessão da Virgem Maria, para que saibamos corresponder com dignidade e alegria o convite do Senhor que a todo momento nos chama a segui-lo; e que possamos estar entre os bons e fiéis operários da sua vinha.  Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Mosteiro de São Bento-RJ

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