Roteiro Homilético – IV Domingo do Tempo Comum – Ano A

RITOS INICIAIS

Salmo 105, 47

Antífona de entrada: Salvai-nos, Senhor nosso Deus, e reuni-nos de todas as nações, para dar graças ao vosso santo nome e nos alegrarmos no vosso louvor.

Introdução ao espírito da Celebração

O carnaval é para muitos sinónimo de alegria. Mas podemos perguntar: onde se encontra de facto a verdadeira alegria e felicidade?

Na liturgia de hoje o Senhor vai falar-nos da bem-aventurança, da felicidade que todos buscamos.

Irmãos, para podermos escutá-Lo, vamos preparar o nosso coração, limpando-o do pecado.

Oração colecta: Concedei, Senhor nosso Deus, que Vos adoremos de todo o coração e amemos todos os homens com sincera caridade. Por Nosso Senhor…

Liturgia da Palavra

Primeira Leitura

Monição: O profeta Sofonias anima o povo de Israel a procurar a Deus. Só os de coração humilde encontrarão repouso no Senhor.

Sofonias 2, 3; 3, 12-13

3Procurai o Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos. Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis protecção no dia da ira do Senhor. 12Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que buscará refúgio no nome do Senhor. 13O resto de Israel não voltará a cometer injustiças, não tornará a dizer mentiras, nem mais se encontrará na sua boca uma língua enganadora. Por isso, terão pastagem e repouso, sem ninguém que os perturbe.

Estas palavras do profeta preparam o caminho das Bem-aventuranças que Jesus havia de proclamar solenemente como o código de felicidade do seu Reino (cf. Evangelho de hoje). No povo messiânico só haverá lugar para os humildes, os pobres em espírito, os que têm o coração desprendido de todos os recursos humanos e que põem toda a sua confiança no Senhor, que é o seu refúgio; estes são os chamados ‘anawim, os pobres de Yahwéh. Estes constituem o «resto de Israel» (v.13) que se salvará da ruína e que virá a ser o núcleo da restauração do povo.

12 «Humilde e pobre»: Os LXX traduziram por manso e humilde (praüs kai tapeínos), que passou a ser uma ser expressão estereotipada da pregação de Jesus, bem ao gosto de S. Mateus (cf. Mt 5, 3.5; 11, 29; 21, 5).

Salmo Responsorial Salmo 145 (146), 7.8-9a.9bc-10 (R. Mt 5, 3 ou Aleluia)

Monição: O salmo exalta os cuidados de Deus com os humildes e os que sofrem.

Refrão: Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus.

Ou: Aleluia.

O Senhor faz justiça aos oprimidos,

dá pão aos que têm fome

e a liberdade aos cativos.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,

o Senhor levanta os abatidos,

o Senhor ama os justos.

O Senhor protege os peregrinos,

ampara o órfão e a viúva

e entrava o caminho aos pecadores.

O Senhor reina eternamente.

O teu Deus, ó Sião,

é Rei por todas as gerações.

Segunda Leitura

Monição: O orgulho fecha-nos a Deus e à Sua graça. Por isso Deus escolhe o que é fraco aos olhos dos homens para realizar as Suas obras grandiosas.

Coríntios 1, 26-31

Irmãos: 26Vede quem sois vós, os que Deus chamou: não há muitos sábios, naturalmente falando, nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos. 27Mas Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; 28escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, 29a fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. 30É por Ele que vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus, justiça, santidade e redenção.31Deste modo, conforme está escrito, «quem se gloria deve gloriar-se no Senhor».

S. Paulo ataca as divisões dentro da comunidade na sua raiz: o apego ao prestígio dos pregadores correspondia a uma procura orgulhosa da sabedoria humana. O que tem valor diante de Deus não é a ciência, a retórica, a eloquência. E a prova disso está em que Ele, em Corinto, chamou à fé não precisamente os mais sábios, os mais influentes e mais nobres, mas, na sua maior parte, a gente simples e modesta. Isto deixa ver como diante d’Ele o que vale não é a ciência, o poder, ou a estirpe, mas a graça e a escolha divina, que recai sobre os que Lhe agradam pela humildade. Assim, ninguém pode gloriar-se diante de Deus de ter sido chamado ao Reino de Deus (v. 29): «quem se gloria deve gloriar-se no Senhor» (segundo uma citação livre de Jr 9, 22-23), não nos seus dotes, porque tudo recebeu de Deus (v.31).

Aclamação ao Evangelho

Mt 5, 12a

Monição: As bem aventuranças opõem-se frontalmente à mentalidade mundana reinante. Vamos ouvir com atenção o que Jesus nos diz no evangelho. É Ele que tem razão.

Aleluia

Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa.


Evangelho

São Mateus 5, 1-12a

1Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos 2e Ele começou a ensiná-los, dizendo: 3«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. 4Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 5Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. 11Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.12aAlegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

As oito bem-aventuranças, a que se junta uma nona (v. 11) a reforçar a oitava, constituem como o frontispício do Sermão da Montanha (Mt 5 – 7), «a expressão mais perfeita da mensagem evangélica, um dos mais altos cumes do pensamento humano, talvez o mais elevado» (G. Danieli); com razão disse Gandhi: «foi o discurso da montanha que me reconciliou com o cristianismo». As bem-aventuranças, expressas na terceira pessoa do plural, têm em Mateus um carácter solene e universal, dirigidas a todas as pessoas e a todos os tempos, não apenas aos ouvintes imediatos. Elas condensam a grande novidade do Evangelho, em contraste flagrante com o próprio pensamento religioso judaico então vigente, para já não falarmos do espírito mundano e hedonista do paganismo de então e do de agora. Elas não são a expressão de qualquer espécie de «ressentimento» dos pobres e desafortunados em face dos poderosos, dos ricos e satisfeitos, mas são antes um grito de protesto e de provocação lançado ao conceito de felicidade baseada na posse das riquezas, no gozo dos prazeres, na força, no poder e na fama. De modo nenhum elas são uma «ética para uso dos débeis», mas são um ideal de vida para almas fortes e generosas, uma ética que, quando vivida a sério, é capaz de renovar as pessoas e a sociedade; como o demonstra a vida dos santos. Chamamos a atenção para a motivação da felicidade em cada uma das bem-aventuranças: «porque…»: a felicidade não está na pobreza, na aflição, na perseguição, mas no seguimento de Jesus, pobre, aflito, manso, faminto e sedento, misericordioso, puro, pacificador, perseguido, o que dá direito ao gozo daspromessas de Cristo.

3 «Bem-aventurados». Esta tradução (em vez de «felizes») vinca a ideia de que o Senhor promete a felicidade na bem-aventurança eterna e, ao mesmo tempo, já nesta vida, ao dizê-la do presente: «deles é» (não diz «deles será»). Mas não se trata de uma felicidade qualquer: é uma felicidade incomparável, interior e profunda, embora ainda não possuída de modo perfeito e completo na vida terrena. As bem-aventuranças têm uma dimensão escatológica e actual: correspondem a um futuro já iniciado.

«Os pobres em espírito». Como bom catequista, Mateus não deixa de especificar «em espírito», para que fique bem claro que não é o caso de uma mera situação económico-social, mas de uma atitude interior de humildade diante de Deus, de reconhecimento da própria carência de méritos e da absoluta necessidade da misericórdia de Deus para ser salvo. O desprendimento dos bens e a austeridade de vida são uma consequência desta atitude de espírito própria de quem se apoia não nos bens criados, mas só em Deus. Ao dizer «em espírito» (tô pneûmati), e não, como no v. 8, «de coração» (tê kardía: no seu íntimo, diante de Deus, em contraposição com o exterior), a expressão conota um sentido dinâmico, de acção, e portanto uma pobreza que corresponde a uma opção, isto é, uma «pobreza voluntária». É de notar que a expressão de Mateus é uma expressão religiosa coincidente com a dos textos de Qumrã (cf. 1QM, 14, 7: ‘anawê rûah).

4-5 A ordem destes versículos não é transmitida da mesma maneira em todos os manuscritos, por isso a fórmula que aparecia antes nos catecismos tem outra ordem que corresponde a uns poucos de manuscritos gregos e à Vulgata, diferente da que temos aqui; pensa-se que a ordem original teria sido alterada, a fim de facilitar a memorização e a compreensão, juntando frases semelhantes, dado o paralelismo entre os pobres e os humildes (os mansos) e entre os que choram (os aflitos) e os que têm fome e sede.

«Os que choram», isto é, os aflitos. A consolação dos que estão aflitos é um dos bens messiânicos (Is 61, 1-3; cf. Lc 4, 1ss) que Jesus garante aos seus discípulos (cf. Jo 16, 20-22). A consolação é uma forma emotivamente concreta de designar a salvação esperada e trazida por Cristo (cf. Lc 2, 25; Act 3, 20; 2 Tes 2, 16-17). O verbo na passiva «serão consolados» é uma forma reverente de se referir a Deus como agente, sem ter de o nomear (passivum divinum), equivalente a «Deus os consolará».

«Os mansos», tradução que consideramos preferível à adoptada e proposta por um com um bom número de exegetas. Com efeito, se bem que a tradução «os humildes» corresponda ao hebraico (‘anawîm: pobres) da passagem paralela do Salmo 37, 10-11 (mas traduzido pelos LXX por praeîs: mansos, e assim também pela Vulgata e Neovulgata: mansueti), a verdade é que a mansidão é uma noção que tem grande relevo em Mateus, pois o próprio Jesus se apresenta como «manso e humilde» (Mt 11, 29), na linha das profecias de Is 42, 1-4 citada em Mt 12, 18-21 e de Zac 9, 9 citada em Mt 21, 5. Por isso não nos parece que em Mateus a 1ª e a 3ª bem-aventuranças sejam simplesmente equivalentes; «mansos» são os humildes, mas com um matiz particular: são os que vencem o mal com o bem, não com a violência, mas com o perdão e com a bondade, como se insiste no mesmo sermão da montanha (Mt 5, 21-26.38-42.43-48; 6, 12.14-15). Estes são, não apenas os que são afáveis, ou simplesmente os não violentos, mas especificamente os que sofrem serenamente e sem ira, ódio ou abatimento, as perseguições injustas e as contrariedades. «Possuirão a terra» (prometida como herança), isto é, «a pátria celeste», figurada na terra prometida ao povo eleito (cf. Hebr 4, 2, 11; 11, 10.16; 12, 22; 13, 14).

6 «Fome e sede de justiça», isto é, uma fome mais espiritual do que material, pela especificação: de justiça. Estamos assim diante duma noção de natureza religiosa, central no discurso da montanha (cf. 5, 10.20; 6, 1.31.33): a submissão à vontade de Deus e aos seus desígnios de amor, uma vida justa, inocente, santa e perfeita (cf. 5, 48).

7 «Os misericordiosos»: o tema da misericórdia é central no Evangelho, pois dela o homem é extremamente necessitado e também está muito presente em Mateus; com efeito, Jesus é cheio de misericórdia (cf. 9, 36; 9, 9-13; 12, 1-7) para com os necessitados que a Ele clamam (cf. 9, 27; 15, 22; 17, 15; 20, 30.34); e esta tem de ser a atitude do discípulo para obter a misericórdia divina (cf. 6, 14-15; 18, 23-35); e é pelas obras de misericórdia que todos hão-de ser julgados sem apelo (cf. 25, 31-46).

8 «Os puros de coração», dado o contexto dos ensinamentos de Jesus, não se trata de uma simples pureza ritual que satisfaz uma série de requisitos externos para se estar em condições de realizar actos de culto (recordem-se as prescrições de Lv 11 – 16 relativos a alimentos, nascimento, actividade sexual, doença e morte), mas de uma pureza moral que não fica hipocritamente em exterioridades farisaicas (cf. Mt 23, 25-26), mas vai, na linha da pregação dos profetas (cf. Is 1, 15-16; 29, 13; Salm 24, 3-4; 51, 12; Prov 22, 11), até ao mais profundo do interior da pessoa, onde nascem os desejos e as intenções (cf. Mt 15, 1-20; 5, 28; 12, 34). A pureza do coração é fundamentalmente a rectidão total dos pensamentos, das palavras e das acções, não apenas as boas intenções, segundo o Salmo 24, 3-4, que parece estar na base desta bem-aventurança (cf. Tg 4, 8; 1 Tim 1, 5; 2 Tim 2, 22; Hebr 10, 22). Não se limita à castidade, mas pressupõe-na e exige-a de modo particular, para se entrar em comunhão com Deus – para «ver a Deus» (cf. Hebr 12, 14; Apoc 22, 3-4; 1 Jo 3, 3; Catecismo da Igreja Católica, nº 2517-2533).

9 «Os que promovem a paz». Alguns exegetas preferem a tradução pacíficos, indicando o espírito conciliador, sereno, tolerante, indulgente e paciente (cf. Tg 3, 3-18), mas a maioria pensa que se trata não só dos pacíficos, mas daqueles que se empenham em activamente promover a paz entre os homens (e também – podíamos acrescentar – a paz dos homens com Deus, fundamento sério de toda a paz no mundo); estes «serão chamados…», uma expressão semítica que corresponde a «serão de verdade filhos de Deus» (cf. Mt 5, 45).

10 «Os que sofrem perseguição por amor da justiça» (cf. 1 Pe 3, 14), isto é, ao fim e ao cabo, por causa de Jesus (cf. Mt 10, 24-28), por viver piamente (cf. 2 Tim 3, 12). Esta «justiça», como na 4ª bem-aventurança, não é a justiça dos homens, mas corresponde à plena adesão à vontade de Deus, numa vida recta e santa.

11-12 Depois das 8 bem-aventuranças anteriores, que formam um bloco (uma inclusão marcada pela fórmula «porque deles é o reino dos Céus»: vv. 3.10), há aqui uma ampliação e uma aplicação directa aos ouvintes da 8ª e última bem-aventurança.

Finalmente quero chamar a atenção para a observação de Bento XVI na sua recente obra, Jesus de Nazaré, ao introduzir o tema das bem-aventuranças: «As bem-aventuranças não raramente são apresentadas como a alternativa do Novo Testamento a respeito do Decálogo, por assim dizer a mais elevada ética dos cristãos ante os mandamentos do Antigo Testamento. Com tal concepção distorce-se totalmente o sentido das palavras de Jesus. Jesus sempre pressupôs como evidente a validade do Decálogo (ver, por exemplo, Mc 10, 19; Lc 16, 17); no Sermão da Montanha são assumidos e aprofundados os mandamentos da segunda tábua, mas não são abolidos (Mt5, 21-48)…».

Sugestões para a homilia

Bem aventurados

Bem aventurados os pobres

Verão a Deus

Bem aventurados

Deus quer-nos felizes já na terra e, depois, para sempre no Céu. O sofrimento existe no mundo por causa do pecado do homem, que trouxe consigo todas as desgraças. Jesus veio salvar-nos, libertando-nos do pecado: não nos tirou os sofrimentos, mas ensinou-nos a aproveitá-los para nosso bem e para salvação dos que nos rodeiam.

A felicidade encontra-se em Deus e só nEle. Santo Agostinho exclamava depois da sua triste experiência longe de Deus: «Senhor fizeste-nos para Ti e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansa em Ti» (Confissões 1,1).

Já na terra podemos ser felizes se procuramos a Deus, se O amamos de verdade. Carlos IX, rei de França, perguntava um dia ao grande poeta, Torcato Tasso:

-Quem achas que é a pessoa mais feliz?

-Deus, sem dúvida.

-Já sei. Mas dos homens cá na terra, quem é mais feliz?

-O homem mais feliz? Quem esteja mais perto de Deus.

Tinha razão o poeta.

Santa Teresa de Ávila conta no livro da sua vida muitos dos sofrimentos físicos e morais que lhe foram aparecendo no decorrer dos anos e, a certa altura, exclama: Senhor, ou sofrer ou morrer. Sem o lastro do sofrimento a sua alma voaria para Deus, separando-se do corpo. Os santos foram as pessoas mais felizes, mesmo no meio das contradições da vida.

As bem aventuranças do Evangelho falam-nos da felicidade, que podemos encontrar já na terra. Não está nas riquezas, nos prazeres da vida, nas glórias humanas. Deus quer-nos felizes e indica-nos o caminho, para não nos deixarmos iludir pelos vendedores de promessas.

As bem aventuranças chocam frontalmente com a maneira de pensar em moda. Mas Jesus tem razão. Só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6, 69). Ao desejar a felicidade os homens, sem saber, estão à procura de Deus, que é o bem e a beleza infinita e a fonte da verdadeira alegria.

As bem aventuranças são um resumo do Evangelho. «Ensinam-nos qual o fim último a que Deus nos chama: o Reino, a visão de Deus, a participação na natureza divina, a vida eterna, a filiação, o repouso em Deus» (Cat.I. Católica, 1726)

Bem aventurados os pobres

Tantos homens de hoje continuam a pensar que o dinheiro, a riqueza os torna felizes. Em vez de adorar o verdadeiro Deus, adoram a casa, o automóvel, as comodidades. O cristão aprendeu de Jesus a usar as coisas terrenas, que são boas porque dadas por Deus, mas sem se deixar prender a elas, sem pôr nelas a sua segurança. Por isso Jesus diz: «bem aventurados o pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus».

Outra ilusão de felicidade para o homem do nosso tempo é a ambição das glórias humanas, a cobiça do poder e domínio dos outros. Jesus lembra também: «bemaventurados os mansos (os humildes) porque possuirão a terra». E convidou-nos a aprender com Ele: «Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis o descanso para as vossas almas» (Mt.11,29)

É aos humildes que Deus Se revela: «Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos» (Mt 11,25). O orgulho fecha os corações a Deus, porque estão cheios de si mesmos.

Deus resiste aos soberbos e dá a Sua graça aos humildes. A explicação do ateísmo e do agnosticismo, que nega a possibilidade de conhecer para além das ciências experimentais, está o orgulho do homem que se fia apenas no que pode tocar. Acaba por ser como a toupeira, que não vê e só conhece o que palpa na sua toca escura.

A fé é como os olhos para a alma. Leva a fiar-nos em Deus e naquilo que Ele ensina, abre-nos horizontes novos e maravilhosos, dá-nos a possibilidade de contemplar a beleza à nossa volta e dá sentido a toda a vida humana.

A fé abre o nosso coração para a esperança, que nos leva a abandonar-nos em Deus que nos tornou Seus filhos e cuida de nós a todo o momento. Que até os cabelos da nossa cabeça tem contados (Cf. Mt 10, 30), que está atento aos mais pequenos problemas da nossa vida.

Se vivemos como filhos de Deus andaremos sempre felizes mesmo no meio das dores e sofrimentos. Porque sabemos «que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus» (Rom 8, 28).

Mesmo as perseguições por causa de Jesus serão para nós caminho de felicidade já na terra e, depois, um dia no céu. Disso nos falam os mártires de todos os tempos. Os primeiros cristãos, condenados à morte pelos imperadores romanos, iam para a arena a cantar. Isso impressionava as multidões pagãs embrutecidas pelos espectáculos sanguinários. Foi assim que muitos descobriram as belezas do cristianismo.

A esperança leva a gozar antecipadamente a felicidade que nos foi prometida. Como a criança que está já muito contente quando a mãe lhe promete o brinquedo que sonhava. S. Paulo lembra: «os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que se manifestará em nós» (Rom 8, 18) Se vivemos com os olhos na eternidade as agruras deste mundo não poderão roubar-nos a alegria.

Se olhamos para Jesus crucificado entendemos o valor do sofrimento por amor de Deus e aprendemos a não ter medo dos sacrifícios que Deus nos pede e daqueles que voluntariamente fazemos por Seu amor.

Verão a Deus

«Bem aventurados os puros de coração, porque verão a Deus». Para ver a Deus, para conhecê-Lo cá na terra e contemplá-Lo um dia no Céu, temos de purificar o coração, limpá-lo do pecado, sobretudo da impureza.

Muitos não acreditam porque têm o coração e os olhos cobertos de lama.

Um dia um jovem universitário perguntava a S. Josemaria:

-Padre, tenho um amigo que não tem fé. Que posso fazer por ele?

-Foi baptizado?

-Sim, Padre.

-Recebeu formação cristã, de pequeno?

-Sim, padre.

-Olha, leva-o a confessar-se e virá de lá com uma fé muito grande.

O passarito com as asas enlameadas não pode voar para as alturas. Se temos os olhos sujos de lama não podemos ver. Nem abri-los sequer muitas vezes.

A pureza da alma e do corpo prepara-nos para entender as verdades da fé, para captar mais facilmente as coisas espirituais. S. Paulo diz que «o homem animal(animalizado) não capta aquelas coisas que são do Espírito de Deus, porque para ele são loucura e não as pode entender» (1 Cor.14). Acaba por ser como o filho pródigo reduzido a guardar porcos. Todo sujo e cheio de fome desejava matar a fome com as bolotas que os porcos comiam.

Vamos pedir a Jesus que saibamos entender as bem aventuranças, deixar-nos guiar por elas. Que saibamos ter fome e sede de justiça, de santidade. Que saibamos ser misericordiosos para com todos. Que saibamos semear a paz à nossa volta.

Que saibamos viver a sério como filhos de Deus, abandonando-nos totalmente nEle, pondo nEle a nossa segurança. Foi assim que viveu Nossa Senhora. Foi assim que viveu S. José. Eles são para nós modelos práticos para vivermos as bem aventuranças.


Liturgia Eucarística

Oração sobre as oblatas: Apresentamos, Senhor, ao vosso altar os dons do vosso povo santo; aceitai-os benignamente e fazei deles o sacramento da nossa redenção. Por Nosso Senhor…

Monição da Comunhão : O Senhor é o amigo sempre tão perto de nós, fonte de paz, de segurança, de alegria.

Salmo 30, 17-18

Antífona da comunhão: Fazei brilhar sobre mim o vosso rosto, salvai-me, Senhor, pela vossa bondade e não serei confundido por Vos ter invocado.

Ou: Mt 5, 3-4

Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra prometida.

Oração depois da comunhão: Fortalecidos pelo sacramento da nossa redenção, nós Vos suplicamos, Senhor, que, por este auxílio de salvação eterna, cresça sempre no mundo a verdadeira fé. Por Nosso Senhor…

Ritos Finais

Monição final

Agradeçamos a Jesus este encontro que nos proporcionou, as luzes que recebemos e a força para encontrar a alegria no dia a dia da nossa vida.

Homilias Feriais

4ª SEMANA

2ª feira, 4-II: S. João de Brito: Os males que vêm por bem.

Narraram o que havia sucedido ao possesso e o que se passara com os porcos. Começaram então a pedir a Jesus que se retirasse do seu território.

Jesus é rejeitado porque morreram dois mil porcos em troca da cura de um espírito imundo (cf. Ev). Pelo contrário, David aceita todas pedradas e insultos que lhe são dirigidos como permitidas por Deus: «foi o Senhor quem lho ordenou» (Leit).

Só a fé nos fará descobrir a mão de Deus por detrás daquilo que humanamente consideramos males. Aproveitemos bem as contrariedades desta vida para podermos ser felizes na outra. S. João de Brito dedicou-se às missões, partindo para a Índia e ofereceu a sua vida pela salvação daqueles povos.

3ª feira, 5-II: S. Águeda: Agrademos ao Senhor.

Sam 18, 9-10. 14. 24-25. 30- 19, 4 (Mc 5, 21-43

Pois dizia consigo: Se eu, ao menos, lhe tocar nas vestes, ficarei curada.

Jesus curou esta mulher, porque viu a sua grande fé (cf. Ev). David chora amargamente a morte do seu filho, esquecendo o grande triunfo militar (cf. Leit).

Nós podemos agradar a Jesus constantemente, quando nos esforçamos por cumprir a vontade de Deus, quando participamos na Eucaristia, quando o recebemos na Comunhão, quando fazemos oração ou realizamos os nossos trabalhos. S. Águeda agradou ao Senhor pela sua virgindade e coragem no martírio, sofrido nas primeiras perseguições.

Celebração e Homilia: Celestino Correira Ferreira

Nota Exegética: Geraldo Morujão

Homilias Feriais: Nuno Romão

Sugestão Musical: Duarte Nuno Rocha

Fonte: Celebração  Litúrgica

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