Homilia Quarta-Feira X Semana do Tempo Comum | Ano C

Guardem a Tradição, não a revoguem

Quarta-feira, 10ª semana do Tempo Comum, C – 1Rs 18,20-39; Sl 15; Mt 5,17-19

Hoje Jesus se coloca na linha da tradição veterotestamentária: “Não vim revogá-los [Lei, Profetas], mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17). Jesus é judeu, cresceu como um judeu e aprendeu a Lei de Israel, amou os profetas do seu Povo e ama a cada um de nós. Ao mesmo tempo, ele veio para continuar a revelar quem é Deus ao revelar-se a si mesmo, ou seja, completar a revelação do Antigo Testamento. Quando Jesus veio, “chegou a plenitude dos tempos” (Gl 4,4), completou-se tudo o que Deus queria dizer à humanidade com vistas à sua salvação. A Tradição da Igreja nada mais é do que a transmissão desse depósito da Fé. Nesse sentido, cada um de nós deve colocar-se do lado de Jesus e não revogar a Tradição, não ser revolucionário, mas conservar o ensinamento dos Apóstolos, o qual é doutrina do próprio Jesus.

Não tem como ser católico sem ser da Tradição e, consequentemente, sem ser tradicional não se é um cristão fiel. Efetivamente, já dizia o Apóstolo ao primeiro grupo de cristãos aos quais ele escreveu lá pelo ano 54 d. C.: “Guardai as tradições que vos ensinamos oralmente ou por escrito” (2 Ts 2,15). E se alguém não quisesse seguir as tradições, o mesmo São Paulo aconselhava: “Que vos afasteis de todo irmão que leve vida desordenada e contrária à tradição que de nós recebestes” (2 Ts 3,6). Foi ainda apoiando-se na Tradição que Paulo nos transmitiu o grande dom da Eucaristia e da Páscoa do Senhor (1 Cor 11,23-32; 1 Cor 15,3-7). Também o Apóstolo-Teólogo, São João, deixou bem claro que Jesus fez muito mais do que se tinha escrito sobre ele (Jo 20,30; 21,25) e que nos foram transmitidas oralmente (Tradição). Mais ainda, o próprio Jesus disse claramente que após a sua ida ao Pai, o Espírito Santo nos ensinaria as coisas a partir daquilo que ele, Jesus de Nazaré, nos dissera (Jo 14,26; 15,26-27).

É por isso que a Igreja Católica sabe que a Palavra de Deus não é um livro, mas o próprio Jesus Cristo (Jo 1,1-14), ele é a Fonte da nossa salvação; esta fonte, porém, chega a nós através de dois grandes rios caudalosos, a Tradição e a Escritura. Estes dois veículos de transmissão da única Fonte são interpretados pelo Magistério da Igreja, particularmente pelo Papa (Lc 22,32). Tradição, Bíblia e Magistério não são três pernas de um único banquinho. As pernas da nossa Fé são a Tradição e a Escritura, rios através dos quais nos chega Jesus-Fonte (Palavra); o Magistério é o intérprete autorizado da Tradição e da Bíblia e, portanto, não é correto colocá-lo no mesmo nível da Sagrada Tradição e da Sagrada Escritura. O Magistério está a serviço da Palavra de Deus. Cada um de nós se transforme também em servo da Palavra, pois, desta forma, não procuraremos alterar o dom precioso que o Senhor nos deu: a fé e a salvação.

Padre Françoá Costa
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