Homilia Quarta-Feira de Cinzas | Ano C

Três coisas importantes para o dia de hoje

Quarta-feira de Cinzas – C – Joel 2,12-18; Sl 50/51; 2 Cor 5,20 – 6,2; Mt 6,1-6.16-18

[Resumo: oração, jejum e penitência encontram sentido na Santa Missa, momento profundamente interior, já que o sacrifício interior do Senhor Jesus dá sentido aos seus sacrifícios exteriores.]

Assim como o povo de Israel passou 40 anos no deserto e 400 anos na escravidão, no Egito; assim como Elias caminhou por 40 dias rumo à montanha sagrada e Jesus ficou 40 dias em oração ao seu Pai; assim também cada um de nós passará 40 dias realizando as obras da Quaresma: oração, jejum e esmola. São Josemaria Escrivá também tinha uma maneira bem clara de dizer essas obras: “Primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em “terceiro lugar”, ação” (Caminho, 82).

“Rasgai vossos corações” – nos diz o profeta Joel (2,13) –, mas rasgai-o através da mortificação, da penitência, de uma entrega generosa ao Senhor e através do trato íntimo com Deus na oração. Rasguem os seus corações no Sacramento da Reconciliação, não esperem que chegue a Semana Santa para confessar-se (pode acontecer que não dê tempo… as filas podem ficar enormes!). “Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação” (2 Cor 6,2). Nesta quaresma é bom fazer o de sempre – oração, jejum e esmola –, porém, com maior fervor.

É preciso dedicar um tempo para estar com o Senhor, para conversar com ele. Ele falará aos nossos corações, nos instruirá. É muito aconselhável meditar a Paixão de Cristo, quem através do exercício semanal da Via Sacra. Santo Tomás de Aquino dizia que “a paixão de Cristo é suficiente para informar toda a nossa vida. Quem quiser viver perfeitamente, basta que despreze aquilo que Cristo na Cruz desprezou e deseje aquilo que Ele na Cruz desejou”. Na Paixão do Senhor encontraremos o exemplo de caridade, paciência, humildade, obediência, desprendimento, pobreza, temperança etc. Imitemos a Cristo, nosso único modelo; foi assim que muitos dos nossos irmãos foram santos: eles imitaram a Cristo.

Sem esvaziar o significado original do “jejum”, plenamente válido, vamos ampliá-lo a todas aquelas mortificações que nós fazemos no dia-a-dia e que contribuem à felicidade dos outros. Exemplos de mortificação: sorrir também quando não se tem muita vontade, ceder o lugar para uma senhora de idade no ônibus, não pegar sempre o bife maior da frigideira, ficar alguma vez sem um café da manhã, levantar na hora certa e sem demora, deixar de comer alguma coisa gostosa ou pelo menos comer menos da mesma, não ser caprichoso na comida (comer também aquilo que não se gosta), entre outras. Todas as nossas mortificações terão o tamanho do nosso amor para com o nosso Deus e Senhor. Aceitemos – e essa é penitência assaz agradável a Deus – aqueles sacrifícios que nós não buscamos, mas que são-nos oferecidos no dia-a-dia: as contradições, as dores de cabeça, a doença que nós achamos inoportuna etc.

A palavra “esmola” pode ser traduzida pelo empenho que nós colocamos em servir aos outros. É uma luta constante, já que o nosso egoísmo muitas vezes não nos permite pensar nos demais. Como se não bastasse o egoísmo, vem também o orgulho – bradando que não quer servir – e a preguiça – que impede a execução do bem apreendido pela inteligência e desejado pela vontade. Esmola será visitar aquela pessoa que vive sozinho há muito tempo, atender com paciência os chatos, compreender os outros em suas fraquezas sem julgá-los temerariamente, ajudar uma pessoa que pede no semáfora (nem sempre, porque senão será você a pedir no semáforo daqui há pouco!), atender carinhosamente os seus pais quando eles mandarem algo, ou seja, servir!

No espírito da quaresma, é preciso rezar, fazer penitência e dar esmolas de maneira discreta, sem querer aparecer, com grande humildade e desejo de servir. Nesse sentido, penso que seria muito interessante que nesta quaresma vivamos intensamente a Santa Missa. Explico o porquê desse propósito: o tempo quaresmal tem tudo a ver com a paixão, morte e ressurreição do Senhor, ou seja, com a Santa Missa. Exatamente, pois a Missa é a Páscoa de Cristo, porém de maneira sacramental. Na paixão de Cristo, o mais importante não são os sacrifícios exteriores, mas a obediência e amor de Jesus Cristo ao Pai. Portanto, se entrarmos na Santa Missa, isto é, o sacrifício do Senhor, vamos valorizar a interioridade, o silêncio, a reflexão, a realidade de estarmos no calvário com Cristo enquanto participamos da Missa.

Nesse sentido, queria indicar a você que, além dos domingos e dias santos, fosse a mais alguma Missa durante a semana, pelo menos durante esse tempo de Quaresma. Sem o sentido da obrigação, discretamente e com muito amor a Deus. Ao ir à Missa, procure chegar pelo menos uns 5 minutos antes e mentalize a verdade de fé de que você se encontrará, dentro de poucos minutos, diante do Calvário; de que este fato deve influenciar a sua maneira de tomar parte na Missa. Ao começar a Missa, tente viver os ritos atentamente, para isso procure pensar – porque é assim mesmo – que você está em companhia de Nossa Senhora, de São João e de muitas outras pessoas no Calvário. Lembre-se que aquele evento histórico, acontecido há mais de 2 mil anos, foi eternizado e, pelas palavras da consagração do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo, e pela ação do Espírito Santo, está verdadeiramente presente no nosso tempo histórico.

Efetivamente, se tivéssemos olhos para ver, nós os abriríamos e veríamos milhares e milhares de anjos e santos desfrutando da presença de Deus que sofre no Calvário para redimir-nos, para salvar-nos das garras do demônio, do pecado e da morte. Entrar na Santa Missa de verdade, fazendo-a “centro e raiz da sua vida espiritual”, é o caminho para caminhar junto com Elias nesses 40 dias e ficar com Cristo, igualmente por 40 dias.

Padre Françoá Costa
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