Homilia II Domingo da Páscoa | Ano C

História da misericórdia

II Domingo da Páscoa, C – At 5,12-16; Sl 117; Ap 1,9-19; Jo 20,19-31

Os discípulos estavam com medo e Jesus apareceu entre eles. No texto de Jo 20,19-21 aparece por três vezes a expressão de Jesus Cristo: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19.21.26. 

Medo? De quem? Dos judeus. Contudo, eles receberam o Espírito Santo, viram as chagas gloriosas do Senhor ressuscitado e viveram de fé. A história da Igreja começa com medos para que assim vejamos a nossa fraqueza e nunca sejamos auto-suficientes, vaidosos e egoístas. Mas o Senhor vem ao nosso encontro e nos dá a paz através do seu Espírito, das suas chagas e do crescimento na fé.

De fato, nesses últimos dias temos lido na Missa o primeiro livro da história da Igreja, os Atos dos Apóstolos, o qual começa com as últimas instruções de Jesus glorioso para a sua Igreja incipiente e termina com São Paulo no centro do Império, em Roma. A segunda leitura de hoje é dos Atos dos Apóstolos (5,12-16) e nos apresenta uma visão de conjunto: união dos católicos naquele então, conversões abundantes à Igreja, sinais que levavam à fé. Talvez os próximos fragmentos de história da Igreja sejam as listas de Papas que nós temos no “Contra as Heresias”, escrito no século II, de Santo Irineu de Lyon, e a “História Eclesiástica”, escrita no século IV, de Eusébio de Cesaréia, o qual nos dá uma visão do cristianismo entre os séculos I e IV. Essas são, portanto, as três obras de história da Igreja iniciais: Atos dos Apóstolos, Contra as heresias, História Eclesiástica. Posteriormente, teremos vários livros sobre história da Igreja, entre os quais um dos mais recomendados seja a História da Igreja, em 10 volumes, cada volume com umas 600 páginas, do famoso literata Daniel-Rops (1901-1965).

Assim como a Igreja começa a partir do lado aberto do nosso Redentor, assim também a nossa vida, qual Igreja doméstica, começa no Sacramento do Batismo, no qual experimentamos o sangue e a água que joram do lado do Senhor. Na Igreja do século IV era comum que aqueles que eram batizados na Missa da Vigília Pascal utilizavam uma túnica branca até o domingo seguinte, simbolizando a vida nova para a qual estavam preparados para viver. “Oito dias depois (Jo 20,26), em um domingo, os neófitos apresentavam-se na Igreja e entregavam suas roupas brancas nas mãos da Mãe Igreja, simbolizando que a Mãe cuida da vida cristã dos filhos. Trata-se de um simbolismo muito belo no qual se vê tanto a misericórdia de Deus quanto a colaboração dos cristãos na vida nova da graça.

Depois de sabermos dessa situação histórica, não é difícil intuir porque o segundo domingo da Páscoa tenha sido chamado de “o domingo branco” (dominica in albis). Além desse desdobramento histórico, é sabido que, a partir do ano 2000, São João Paulo II instituiu para toda a Igreja a festa da divina misericórdia, decretando que esse domingo seja o domingo da misericórdia. Com esta festa se atendeu o pedido de Jesus a Santa Faustina Kowalska: “Desejo que a Festa da Misericórdia seja refúgio e abrigo para todas as almas, especialmente para os pecadores. Nesse dia estão abertas as entranhas da minha Misericórdia. Derramo todo o mar de graças nas almas que se aproximarem da fonte da minha Misericórdia. A alma que se confessar e comungar alcançará o perdão das culpas e castigos. Nesse dia estão abertas todas as comportas divinas, pelas quais fluem as graças… Desejo que seja celebrada solenemente no primeiro domingo depois da Páscoa. A humanidade não terá paz enquanto não se voltar à fonte da minha Misericórdia” (Diário n.699). De fato, este domingo está enriquecido com a indulgência plenária, segundo a mesma Igreja (Decreto da Penitenciaria Apostólica, 2002), nas condições habituais: confissão, comunhão, participar da festa (obra indulgenciada), rezar nas intenções do Papa e desapego dos pecados.

O quadro de Jesus misericordioso faz jus ao Evangelho de hoje, no qual Jesus convida Tomé a colocar as mãos nas suas chagas, pois, de fato, na imagem, Jesus apresenta-se com suas chagas gloriosas e tendo misericórdia de todos. Podemos dizer várias vezes durante o dia de hoje: “Jesus, eu confio em vós!”

A história da Igreja é a história das misericórdias de Deus, em meio aos medrosos e corajosos, luzes e sombras, virtudes e pecados. A história de cada um de nós é também a história da misericórdia de Deus. Confiemos no Senhor no dia de hoje, e sempre. Ele é misericordioso, ele há de nos salvar, ele nos dará as graças para que lutemos e vençamos as batalhas através das quais chegaremos ao céu.

Padre Françoá Costa
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