Homilia do Pe. Françoá Costa – VI Domingo do Tempo Comum – Ano B

Queres?

Queres? Quero. Com essas palavrinhas foram resolvidos os problemas do leproso (cf. Mc 1,40-41). Também nós podemos perguntar a Jesus: queres? Procuremos escutar a resposta. Mas será que pode ser que ele não queira o que eu estou pedindo e que me parece tão importante? É possível. Aquilo que julgamos bom para nós e pedimos insistentemente, Deus, na sua omnisciência, poderia não estar de acordo. Desta maneira, não nos concederá determinada coisa ou talvez atrase a concessão da mesma.

E nem adianta viver na ilusão. Não faz muito tempo escutei a história daquela senhora, diabética quase ao extremo, que acreditava tanto nas curas de Deus que afirmou a outra pessoa o seguinte: – “Jesus me curou, já não sou diabética?” A sua amiga respondeu-lhe: – “puxa vida, pena que ele se esqueceu de dar-lhe um pouco de cor, pois você está muito pálida; vejamos se realmente está curada: vá tomar um café com muito açúcar.” A diabética afirmou: – “não, eu ainda não posso”.

Estou a afirmar que Deus não cura? Não. Claro que o Senhor cura, liberta e faz milagres. E não obstante, pode ser que em determinados momentos ele não o queira e permita que padeçamos porque ele sabe que tal sofrimento será para o nosso bem e para a glória de Deus: “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” (Jo 11,4). Infelizmente, alguns grupos cristãos têm satanizado toda e qualquer enfermidade, as doenças viriam do diabo e por isso seria preciso curar-se de qualquer jeito. Um dos grandes perigos dessa maneira de ver o sofrimento é a vinda do ateísmo. Explico-me: as pessoas que frequentam esses tipos de seitas, quando abrem os olhos e percebem que há anos vêm pedindo cura e, paradoxalmente, não recuperam a saúde desejada, podem vir a perder a fé em Deus. Mas, deixemo-lo claro: essas pessoas acreditam num Deus que não parece ser exatamente o Deus que é Pai e Filho e Espírito Santo. Tenho medo de que, com o passar do tempo, essa grande onda de curas e de milagres venha a desembocar num ateísmo cada vez maior e num secularismo que já não conhece a mensagem cristã, cujo centro é justamente o mistério da cruz que eclode no domingo da ressurreição.

Mas o fato é que no caso do leproso de hoje, Jesus quis a sua cura. Por quê? Ora, naquele homem enfermo, Jesus Cristo viu um “projeto de apóstolo”. E assim foi! “Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com ele” (Mc 1,45). O ex-leproso converteu-se então num mensageiro do Evangelho. Neste caso, a cura dele também foi para a glória de Deus!

Em suma, tanto a nossa enfermidade quanto a nossa cura podem ser para o nosso bem e para a glória de Deus. Ele, que tem a visão de todas as coisas e conhece o mais íntimo de nós mais que nós mesmos, sabe o que será melhor no nosso caso concreto. Daí que devemos abandonar-nos confiadamente nas mãos do Bom Deus.

Jesus também poderia perguntar a você: Queres? Queres seguir-me de verdade? Queres buscar-me de verdade ou será que queres tão somente aquilo que eu posso te oferecer? As perguntas entram numa clara lógica de conversão. A cura do leproso não foi apenas uma cura do corpo, mas principalmente da alma: ele tornou-se uma testemunha do Senhor. Jesus quis curá-lo, mas ele – o leproso – também quis seguir o Senhor de verdade.

Conta-se que certa vez a irmã de Santo Tomás de Aquino perguntou-lhe qual era o segredo da santidade. O santo respondeu sem hesitar: – querer! Caso nós percebemos que não vamos para frente na extirpação de tal ou qual vício ou no progresso em determinada virtude, perguntemo-nos a nós mesmos: será que eu quero? A graça de Deus não nos falta, o problema não pode está aí; o problema está na debilidade da nossa resposta aos apelos de Deus. Lembro-me daquele espanhol, professor renomado, que confessou aos seus alunos: – “Eu parei de fumar. O que eu fiz? Lutei para nem sequer pensar no cigarro”. Esse homem QUERIA de fato deixar de fumar!

Queres, meu filho? Queres, minha filha?

Pe. Françoá Costa

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros