Homilia do Padre Françoá Costa – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano B

Fazer bem para servir melhor

 

As ações de Jesus causavam admiração naqueles que o seguiam. Isso porque “Ele fez bem todas as coisas” (Mc 7,37). Jesus é aquele que nos dá a salvação, ou seja, ele nos dá o perdão dos pecados, a graça de ser filho de Deus e membro da Igreja. Todo o Cristo é Salvador: ele e suas ações. Até o choro do Menino Jesus era salvador! Assim como Jesus Cristo foi generoso para com o gênero humano na hora da sua Paixão e Ressurreição, também o foi antes dessa grande ação pascoal.

Já que cada uma das ações do Salvador foi salvadora, é preciso afirmar que ele colocou em cada uma dessas ações o empenho em oferecê-las cheias de obediência e amor ao seu Pai. Assim como o sacrifício de Abel foi perfeito, Jesus Cristo, o Novo Abel, ofereceu ao Pai um sacrifício perfeito em todas as suas ações e em todas as suas dimensões. É justa a exclamação do povo: “Ele fez bem todas as coisas”.

Nós também, incorporados a Cristo, podemos colaborar efetivamente na salvação operada por Cristo uma vez por todas. Com as nossas pequenas ações cotidianas podemos ajudar o Senhor a salvar os nossos semelhantes. Mas será preciso também que ao oferecê-las ao Senhor sejam quais sacrifícios de Abel: perfeitos.

Quais são essas ações cotidianas? As relações profissionais, o trabalho bem feito, a vida de família, as nossas diversões, o nosso tempo dedicado aos demais, o tempo de estudo, pegar um ônibus para ir ao trabalho ou dele vir, um sorriso, um aperto de mão, fazer uma comida gostosa para a família, rezar, fazer esporte etc. Tudo pode ser santificado, pois desde que o Filho de Deus assumiu a nossa humanidade tudo pode e deve ser elevado ao plano de Deus. Como gostavam de dizer alguns Padres da Igreja: o Filho de Deus se fez homem para que o homem se tornasse filho de Deus! E nós poderíamos continuar: o Filho de Deus assumiu a nossa humanidade para que tudo o que é da nossa humanidade possa ser santificado e oferecido ao Pai. Todo trabalho humano honesto e toda e qualquer outra atividade humana que um cristão possa realizar pode e deve ser santificada, oferecida a Deus.

Como é importante que façamos as coisas bem feitas e por amor a Deus. Não nos esqueçamos de que o nosso prestígio profissional é muito importante, não para alimentar o nosso orgulho, mas para sermos coerentes e autênticos. Uma pessoa que reza muito e trabalha mal não está sendo coerente com a sua fé. O cristão, no seu ambiente profissional, deve procurar ser o melhor. Essa competência profissional lhe granjeará um nome e uma posição que podem servir-lhe como uma espécie de isca de pescador. Ou seja, as outras pessoas verão nele um homem de bem, um bom trabalhador, competente, responsável e, ao saber que se trata de um católico, admirará cada vez mais o cristianismo que tem essa capacidade de formar homens e mulheres tão capazes. Isso atrai! E não pense o leitor só em profissões consideradas em maior estima pelas pessoas, mas em toda e qualquer profissão honesta. Nesse sentido, é muito importante que resgatemos também o valor do trabalho que realizam as esposas e mães no lar. É um trabalho feito com muito amor, desgastante, mas, sem essa presença feminina e acolhedora os nossos lares não seriam tão agradáveis e serenos.

“Santifiquemos o trabalho, santifiquemo-nos no trabalho e santifiquemos os outros através do trabalho” fazendo tudo bem feito e por amor a Deus e, com certeza, estaremos imitando o Senhor que dedicou trinta anos a viver silenciosamente com a sua família, trabalhando.

Essa ideia tão conhecida hoje em dia foi difundida pelo Fundador do Opus Dei (Obra de Deus), São Josemaria Escrivá (1902-1975), que, a partir do ano 1928, teria como tema constante de sua pregação o anúncio de que todos os cristãos podem e devem ser santos, precisamente através do trabalho. Falava da chamada à santidade e ao apostolado no meio do mundo, nas circunstâncias e nas ocupações da vida ordinária (trabalho profissional, atividades culturais e sociais, matrimônio e vida de família etc.). Deste núcleo brota uma espiritualidade fundamentada no sentido da filiação divina, na identificação com Jesus Cristo – com uma atenção particular aos seus anos de trabalho em Nazaré – e na consciência da íntima conexão, por virtude da graça, entre o divino e o humano, entre a comunhão com Deus e o desempenho da própria tarefa e do próprio trabalho profissional no seio da sociedade civil.

No fundo desta mensagem encontra-se uma decidida afirmação do caráter vocacional da existência cristã, uma aguda percepção da capacidade santificadora do Batismo e uma profunda compreensão da compenetração entre criação e redenção, que impulsiona a ser “comtemplativos no meio do mundo”, mais ainda, a “amar o mundo apaixonadamente”. O trabalho profissional é considerado como realidade querida por Deus e incorporada, em virtude do decreto divino, à obra da redenção, que, presente no tempo, desemboca na eternidade. A espiritualidade apresenta-se como perspectiva de luz que incita a pôr de manifesto a riqueza do conjunto da mensagem cristã. Dizia São Josemaria: “Aí onde estão as nossas aspirações, o nosso trabalho, os nossos amores – aí está o lugar do nosso encontro cotidiano com Cristo. É no meio das coisas mais materiais da terra que nos devemos santificar, servindo a Deus e a todos os homens. Na linha do horizonte, meus filho, parecem unir-se o céu e a terra. Mas não: onde de verdade se juntam é no coração, quando se vive santamente a vida diária…” (homilia Amar o mundo apaixonadamente, 8-X-1967).

 

Pe. Françoá Costa

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros