Homilia do Padre Françoá Costa – XXII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Prestigio profissional

É lícito sentar-se nos primeiros lugares? Não será falta de humildade? Jesus propõe que quando formos convidados a alguma celebração, um casamento, não ocupemos os primeiros lugares, mas, ao mesmo tempo, nos ensina como “chegar a ocupar o primeiro lugar”. Como? Não estou traindo a letra da Sagrada Escritura. Leiamos novamente: “Mas, quando fores convidado, vai tomar o último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, passa mais para cima. Então serás honrado na presença de todos os convivas” (Lc 14,10).

Como eu gostaria que houvesse muitos bons católicos ocupando os primeiros lugares! Logicamente, não se pode começar pelo primeiro, é preciso começar pelo “último lugar”. De fato, nenhum trabalhador chega numa empresa querendo dominar toda a situação logo no primeiro dia. Seria uma insensatez! No entanto, o bom trabalhador tem que ter a intenção de progredir, de que um dia lhe digam: “passa mais para cima, ocupa um cargo melhor, vou aumentar o seu salário”. Geralmente essas coisas acontecem, quando o profissional em questão é um bom trabalhador. O trabalho bem feito granjeia-lhe certo prestigio profissional que, para falar verdade, é ótimo.

Como a Igreja gostaria que houvesse muitos bons cristãos ocupando os primeiros lugares! Quando se procura ocupar o primeiro lugar para servir melhor às pessoas não só não se comete um pecado de orgulho, mas se faz um favor à sociedade. É questão de trabalhar bem, por amor a Deus, com o desejo de servir a todos, com pontualidade, sendo amável para com todos, sem servilismos nem falsidades. Com essa intenção de servir e de colocar a Cruz de Cristo em todas as atividades humanas não só é lícito desejar ocupar o primeiro lugar, mas constitui para o católico um dever. Cristo enviou-lhe a anunciar o Evangelho, esse anúncio não pode estar condicionado a fazer umas missões nos países africanos, por exemplo, incompatíveis com a profissão atual e que não passam de sonhos irrealizáveis. A evangelização se faz no dia-a-dia, a cada hora e em qualquer ambiente onde nos encontramos.

A corrupção política, a falta de respeito à vida desde a sua concepção até o seu término natural, a perversão dos costumes sociais é culpa nossa, dos cristãos. É porque não quisemos de alguma maneira ocupar os primeiros lugares, que outros, com idéias corrompidas, chegaram ao poder e aos cargos que tem uma influência em toda a sociedade. Formou-se então uma opinião pública errada e uma estrutura de pecado na sociedade na qual vivemos. Dediquemo-nos, cada um, a trabalhar bem, com competência profissional e chegaremos a ter prestígio. Dessa maneira, ainda que não aceitem Aquele em quem acreditamos, pelo menos nos aceitarão pela nossa perícia humana. Estabelecidos nos primeiros postos, mostraremos e proporemos – sem violência – o verdadeiro bem que realiza a pessoa humana criando uma sociedade na qual se pode respirar melhor.

Que o médico seja um bom médico; o arquiteto, um bom arquiteto; o policial, um bom policial; o padre, um bom padre; o agricultor, um bom agricultor; o político, um bom político. Todos, com prestígio profissional (também o padre no seu ministério sacerdotal) e um amor a Deus grande no coração, juntos tem a missão de evangelizar a través de qualquer ocasião que se apresente, a começar pela própria família e profissão. Somente assim se resolverá o problema da sociedade. Não! Os sacerdotes não devem candidatar-se nos partidos políticos para resolver os problemas atuais. Será que não existem outros homens capazes, com uma mente cristã e que – e isso é muito importante – entendam de política, de verdade?

É urgente que muitos cristãos ocupem o primeiro lugar. Nós, os sacerdotes, estamos dispostos a ajudar os outros fiéis, não a que subam na vida através da Igreja, mas a formar a inteligência e a vontade no amor de Cristo para que os homens e as mulheres de Deus, no meio da sociedade, atuem em conseqüência. Trata-se de que os cristãos através das coisas que tem no dia-a-dia sirvam a Deus e a Igreja sem servir-se de Deus e da Igreja para as próprias glórias humanas. Os sacerdotes os ajudam pregando a Palavra de Deus com máxima fidelidade, administrando os Sacramentos (especialmente a Confissão e a Eucaristia), dando direção espiritual, promovendo palestras de formação a vários níveis para ajudar os católicos a agirem de maneira coerente com a sua fé enquanto realizam as próprias tarefas profissionais.

Meus irmãos, nós, ministros do Senhor, já estamos convencidos – com o Concilio Vaticano II (cfr. LG 11 e 31) – de que a vocação do fiel leigo é, em primeiro lugar, no meio das atividades temporais e não nos movimentos e pastorais paroquiais. Logicamente, se lhes sobra tempo, ou melhor, conjugando o primordial com o secundário (que também é importante), ajudarão nas atividades da paróquia. E como estamos convencidos, queremos ajudar a todos a viver a própria vocação guardando a ordem interna das coisas.

Pe. Françoá Costa

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