Homilia do Padre Françoá Costa – XVII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

Oração dominical

Das três leis do astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630), a segunda nos diz que os planetas, em suas elipses, movem-se mais rapidamente quando estão mais próximos ao sol que quando se movem no extremo das órbitas. Na vida espiritual, também é assim: movemo-nos mais rapidamente quanto mais perto estamos do Senhor, nosso Sol, através da oração, dos sacramentos, das boas obras.

Ao pedido “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1), Jesus responde ensinando-lhes o Pai-nosso, a oração do Senhor (oratio Domini) ou oração dominical, por referência ao Dominus, Senhor. Os cristãos dos primeiros séculos tinham um respeito tão grande pela oração dominical, pelo Pai-nosso, que se tratava de uma oração que só era revelada aos que queriam ser cristãos e no curso do catecumenato ou preparação para a recepção do Sacramento do Batismo. Ao começo da quaresma, os que desejavam ser batizados se inscreviam nos livros da Igreja e entravam na luz (fotizomenoi), a partir desse momento começava um tempo de preparação imediata que durava toda a quaresma e que consistia em participar de várias catequeses e serem exorcizados; era uma espécie de retiro espiritual. Na quinta semana da quaresma se dava assim chamada traditio symboli, ou seja, a entrega e a explicação do Credo. No domingo anterior à Páscoa, tinha lugar a entrega e a explicação do Pai-nosso, a Traditio orationis. A cada traditio, entrega, correspondia uma reditio, a recitação, por parte do batizando, da oração que lhe fora entregue. Na Vigília Pascoal os que iam ser batizados faziam, voltados ao ocidente (símbolo das trevas), a apotaxis, ou seja, a renuncia ao demônio e às suas pompas; depois, voltados ao oriente (região da luz) eles faziam a syntaxis, a adesão a Cristo. Finalmente eram batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Já eram cristãos!

Que bonito observar que a oração do Pai-nosso é realmente a oração dos filhos de Deus e, que, por tanto, propriamente falando, só a reza bem e com toda a sua significação aquele que é batizado. Um não-batizado poderia recitá-la, mas não teria a mesma eficácia nem a mesma capacidade de chegar ao coração de Deus que no caso de um batizado. O Pai-nosso é a oração dos filhos dele, de Deus.

Há vários comentários sobre o Pai-nosso. São Cipriano, por exemplo, aconselhava no seu tratado sobre essa oração, rezar considerando-se “sub conpectu Dei stare”, ou seja, sob o olhar amoroso de Deus. Além desse conselho, façamos também como Santa Teresinha do Menino Jesus: saborear em espírito de contemplação cada uma dessas palavras que saíram da boca de Jesus começando por considerar que Deus é Pai. Estar próximo dele, chamá-lo de Pai, amá-lo, garantir-nos-á uma velocidade impressionante no caminho rumo à santidade. Dessa maneira, seremos como um planeta na própria órbita girando sempre rápido em torno ao Sol.

Pe. Françoá Costa

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