Ajudados por Nossa Senhora
Hoje é o dia da Padroeira do Brasil e das crianças. Coloquemos sob a proteção de Nossa Senhora todas as crianças do Brasil e do mundo, e cada um de nós, pois “se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 18,3). O Evangelho de hoje é aquele das bodas de Caná (Jo 2,1-11) e, ao escutarmos o conselho de Maria, “fazei o que ele vos disser” (J0 2,5), não só entendemos que a devoção a Nossa Senhora nos conduz sempre a Jesus, mas também aprendemos a acolher o Evangelho com um renovado ardor, também no que se refere ao fato da nossa filiação divina e do nosso “ser criança”. É importante que cada um de nós se transforme numa criancinha, aos pequenos está prometido o Reino. Pode vir à nossa mente aquelas palavras de Nicodemo a Jesus: mas, “como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?” (Jo 3,4). Talvez a historinha abaixo nos ajude a ver a complexidade do assunto.
Eram uma vez, dois vizinhos. O primeiro comprou um coelho como bichinho de estimação para os filhos. Quando os filhos do outro vizinho viram o animalzinho, foram correndo aos seus pais e pediram que comprassem um bicho para eles. O pai da família acedeu e comprou um pastor alemão. Pra quê? Então, os dois vizinhos se enfrentaram numa discussão:
– puxa vida, ele vai comer o meu coelho.
– como você pensar uma coisa dessas. Imagine só: os dois animais são filhotes, eles vão crescer junto e serão amigos. Não se preocupe, dou a minha palavra, eu entendo de animais.
O outro vizinho parece que se convenceu e, com o passar do tempo, se viu que o dono do pastor alemão tinha razão. Os dois animais iam crescendo juntos e era normal ver o cachorro e o coelho compartindo terreno. As crianças estavam felizes. Mas, um belo dia, o dono do coelho foi, com a família, passar o final de semana na fazenda. Saíram na sexta-feira. O coelho não foi. No domingo, aconteceu algo que causou dor e indignação em todos: de repente, o cachorro aparece com o coelhinho sujo de terra, arrebentado e entre os dentes, o coelho estava totalmente morto. Imagine a reação do dono do cachorro: irado, espancou o cachorro, quase matou o animal. E agora, o que fazer quando o vizinho chegar? Pensaram, pensaram, e encontraram uma solução: deram um banho no coelho pra lá de morto, secaram-no com o secador da mãe e o colocaram na “casinha do coelho”, no quintal do vizinho.
Quatro horas depois, os vizinhos chegaram. As crianças gritaram! Descobriram horrorizadas! Cinco minutos depois, estava o dono do coelho à porta do dono do cachorro. Assustado, lívido, parecia que tinha visto pelo menos uns dois fantasmas.
– vizinho, o que aconteceu?
– o coelho… o coelho…
– Mas, o que aconteceu com o coelho?
– Morreu!
– Morreu? Se ontem tinha tão bom aspecto…
– Morreu na sexta-feira e as crianças o tinham enterrado no quintal, mas… apareceu na casinha.
– na sexta-feira?
Quem ler essa historinha estará de acordo comigo que o protagonista é o cachorro. Imagine só: o pobre animal que, desde sexta-feira, procurava em vão pelo amigo de infância, o coelho. Depois de muito farejar descobre o corpo. Morto. Enterrado. O que ele faz? Provavelmente com o coração partido, desenterra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos. Talvez estivesse até chorando, quando começou a ser espancado. O cachorro é o herói!
E o homem continua achando que um banho, um secador de cabelos e um perfume disfarçam a hipocrisia, o animal desconfiado que existe dentro de nós. Julgamos os outros pela aparência, mesmo que tenhamos que deixar esta aparência como melhor nos convir: maquiada. Perdemos a inocência pelo pecado e a recuperamos pela graça. Nossa Senhora nos ajudará a guarda-la para que sejamos essas crianças que Deus quer, ou seja, sempre pequenos diante do Deus incomensurável, sempre discípulos diante do Divino Mestre, sempre necessitados diante do Todo-poderoso, sempre filhos diante dum Pai bondoso.
Lembremo-nos que Nossa Senhora apareceu nas águas do rio Paraíba em 1717, em São Paulo. A partir daquele dia nunca mais deixou de ajudar o Povo brasileiro, de consolá-lo e de conduzir cada pessoa ao Coração de Jesus. Ela quer que sejamos bons filhos, virtuosos, compreensivos, santos e que um dia lhe demos um abraço no céu. “Fazei tudo o que ele vos disser”, é o conselho da nossa querida Mãe do céu. Dessa maneira seremos crianças diante de Deus, venceremos essa capacidade que temos de julgar os outros sem muita misericórdia e aprenderemos a compreender os demais.
Pe. Françoá Costa