Homilia do Padre Françoá Costa – I Domingo da Quaresma – Ano C

Otimismo na luta

 

G. K. Chesterton, converteu-se ao catolicismo em 1922. Para esse ilustre escritor inglês a Igreja Católica era um autêntico milagre porque se mantêm otimista em meio ao pessimismo generalizado. Escrevendo sobre o otimismo, ele se perguntava: “Por que se publica no jornal a seguinte notícia: ‘Ontem um pedreiro caiu do andaime e morreu’? Não seria mais inteligente e, sobretudo mais consolador anunciar: ‘Ontem 68.224 pedreiros no país não caíram do andaime’? De fato, por pouco que se pense, dada a fragilidade dos andaimes e o distraído que os homens são, é muito mais extraordinário que 68.224 não caiam  do andaime que um só tenha caído.”

O otimismo deveria estar sempre presente na nossa luta para agradar ao bom Deus. Alguns se queixam de que ser santo é muito difícil, que lutam sem nada conseguir, que voltam a cair nos mesmos pecados. Mas talvez não pensam que Deus os tem protegido sempre durante as tentações e de que seguir o Senhor é verdadeiramente belo. Precisamos ser mais otimistas! Jesus Cristo também foi tentado, não pela sua própria concupiscência, pois Jesus Cristo não tinha o pecado original. Cristo quis ser tentado – como explica Santo Tomás de Aquino – para trazer-nos o auxílio em nossas tentações; para que sejamos cautelosos, assim nenhum santo, por mais que o seja, confie em si mesmo nem se julgue imune de toda e qualquer tentação; para dar-nos o exemplo ao instruir-nos como devemos vencer as tentações do demônio; para que tenhamos confiança em sua misericórdia que sempre nos socorre em todas as nossas necessidades.

No nosso caso, Santo Afonso Maria de Ligório diz que “Deus permite as tentações em primeiro lugar, para que através delas conheçamos melhor a nossa debilidade e a necessidade que temos da ajuda de Deus para não cair (…); em segundo lugar, Deus permite-as para que cada um aprenda a viver desprendido das coisas materiais e deseje mais fervorosamente chegar à contemplação de Deus no céu (…); e, em terceiro lugar, para nos enriquecer de méritos (…)”.

Uma fé ardente no Senhor e uma luta constante através da oração e da penitência são os remédios contra toda e qualquer tentação. Por outro lado, a tentação ainda não é pecado, pecado é consentir na tentação. Podemos, ademais, demonstrar muito amor a Deus enquanto somos tentados. Inclusive, depois de vencidos numa determinada tentação, deveríamos perguntar-nos se nós lutamos de verdade para não ofender a Deus que nos ama tanto. Essa luta, mais intensa ou menos intensa, mostra também o nosso amor ao Senhor: pouco ou muito, o amor a Deus existe em nós e é ele que deve fazer com que nos distanciemos do pecado.

São Lucas e São Mateus deixaram muitos pormenores sobre o jejum e as tentações de Jesus Cristo (cf. Lc 4,1-13; Mt 4,1-11). Jesus luta contra a tentação da seguinte maneira: na força da Palavra: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Lc 4,12); na força do jejum: “Nem só de pão vive o homem” (Lc 4,4); desprezando as sugestões do demônio, ao não dar-lhe atenção: “Para trás, Satanás” (Mt 4,10); fixando-se no seu Pai do céu: “Adorarás ao Senhor, teu Deus e a Ele prestarás culto” (Mt 4,10). Aprendamos do Senhor: ler as Sagradas Escrituras, fazer penitência, orar, olhar mais para Deus e para os demais que para nós mesmos são meios eficazes na nossa luta contra as tentações.

E, por último, não sejamos ingênuos: quem se põe na boca do lobo está esperando ser comido. Não se brinca com a tentação! Alguns não querem pecar por gula, mas sempre buscam satisfazer os caprichos na comida; outros até não queriam pecar contra a castidade, mas ficam lendo porcaria, assistindo bobagem, brincando com fogo no namoro e depois… Nesse caso, vale trascrever aqui um antigo refrão: “o homem é fogo, a mulher é palha, vem o demônio e sopra”; outros, finalmente, não queriam pecar por orgulho, mas não param de falar de si mesmos. “Não nos deixeis cair em tentação”, peçamos mais uma vez ao nosso Pai do céu. Na hora da tentação não nos esqueçamos de implorar a ajuda poderosa de Nossa Senhora, pois ela roga por nós, os pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

 

Pe. Françoá Costa

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