Homilia do Padre Françoá Costa – Assunção de Nossa Senhora

Assunção, festa da esperança

Esperamos conseguir do Senhor o que Maria, sinal glorioso da Igreja, já conseguiu. Esperamos estar completos, corpo e alma, com o Senhor. Ao contemplar a Mãe de Deus de maneira tão gloriosa no dia de hoje, os nossos corações se enchem de luz e de esperança. Deus cuida de nós e nos conduz cada vez mais à sua vida divina.

Os Padres da Igreja, especialmente a partir de S. João Damasceno e S. Germão de Constantinopla, pregavam abertamente a existência da incorruptibilidade do corpo de Nossa Senhora. A festa da Dormição de Nossa Senhora foi celebrada primeiramente em Jerusalém. Mas para os antigos, “dormição” não significava necessariamente ausência de morte. Defensor da Assunção de Nossa Senhora na Idade Média foi o assim chamado “Pseudo-Agostinho” (século IX). Baldo de Ubaldi, no século XV, também foi um grande defensor desta verdade de fé. Finalmente, o Papa Pio XII definiu solenemente o dogma da Assunção no dia 1 de novembro de 1950 através da Constituição “Munificentissimus Deus”. Inclusive o nome desta constituição deixa claro que se trata de uma graça de Deus “munificentissimus”, isto é, generosíssimo.  Uma graça tal que é um privilégio: Maria recebeu o privilégio de que nela fosse antecipado aquilo que acontecerá com todos os eleitos.

O Papa sentencia “que é dogma divinamente revelado: que a Imaculada Mãe de Deus e sempre Virgem Maria, ao término de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória do céu”. É interessante que antes do Papa definir o quarto dogma sobre Nossa Senhora, ele recorde os outros três: Mãe de Deus, sempre Virgem (antes, durante e depois do parto), Imaculada. Pio XII não diz se Maria, antes de ser elevada ao céu, morreu ou não: isso continua como tema aberto à livre discussão teológica, isto é, pode-se defender uma ou outra coisa. O que todos devem reter como doutrina de fé solenemente definida é que ela, Nossa Senhora, foi elevada em corpo e alma aos céus, antecipadamente, como privilégio.

Quanto à morte de Nossa Senhora, parece muito mais acertado afirmar que ela realmente morreu e somente depois teria sido elevada aos céus. Por um lado, quando os antigos Padres falavam de “dormição” eles falavam também de morte. De fato, não é difícil encontrar textos na patrística que transmitam uma dormição de Jesus na Cruz referindo-se à sua morte real. Por outro lado, o desejo de imitar a Cristo que estava no coração de Nossa Senhora faz com que seja mais conveniente que ela imite o seu filho também nisso e se una, desta maneira, ao valor redentor do seu mistério de cruz.

Mas, como dizíamos antes, a Assunção de Nossa Senhora é sinal de esperança para nós. O Concílio Vaticano II afirmou: “Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10)” (Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, nº 68).

A esperança é virtude sobrenatural, teologal, uma disposição plantada pelo Senhor na nossa alma que nos une a ele através da vontade, do desejo. Esperamos em Deus e nos auxílios (graças) que ele nos concede para alcançá-lo. Temos a firme esperança de chegar ao céu, à bem-aventurança eterna. É nesse sentido que a Assunção de Maria nos anima a continuar com os olhares fixos na meta: uma como nós conseguiu aquilo que nós conseguiremos. O nosso caminho rumo ao céu já foi selado por uma da nossa raça. Assim como ela chegou lá por graça, também nós chegaremos. Além do mais, temos que ser pessoas prontas a preparar os caminhos da esperança nos outros e, consequentemente, da alegria: há um futuro promissor fundado na fidelidade de Deus para com o seu povo. Por isso um filho de Deus não pode ser pessimista, negativo e mal humorado; ao contrário, a esperança que traz no peito o leva a estar sempre alegre… Apesar dos pesares.

Pe. Françoá Costa

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