Homilia do D. Henrique Soares da Costa – VII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Lv 19,1-2.17-18

Sl 102

1Cor 3,16-23

Mt 5,38-48

Caríssimos irmãos no Senhor, mais uma vez estamos reunidos para a santa Eucaristia dominical, na qual encontramos o Ressuscitado, alimentamo-nos da sua palavra e nutrimo-nos do seu Corpo sagrado. Com efeito, ele está conosco, ele nos fala, ele se dá a nós, totalmente! Ouvir o Senhor, alimentar-se dele – pensem bem -, significa abrir-se para ele porque nele cremos. É isto crer, meus caros: viver abertos de verdade para o Senhor, deixando que ele plasme a nossa vida, ilumine os nossos caminhos, vá invadindo e transformando toda a nossa existência.

Se pensarmos bem, é a uma atitude assim que a Palavra de Deus hoje nos convida. O Senhor Deus nos diz: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”; depois, no Evangelho, insiste: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” Em outras palavras: Sede como o vosso Deus, deixai-vos invadir por ele, transformar por ele! Deixai que ele seja o lastro, o alicerce, o fundamento, o rumo da vossa vida! Crer nele e deixar-se invadir por ele e ir assumindo seus sentimentos, seus pensamentos, seus desígnios. Observai como na primeira leitura o Senhor Deus afirma: “Eu sou o Senhor!” Se eu sou o Senhor para vós, sede santos como eu, tende um coração como o meu: não guardes ódio no coração, não te vingues, repreende o teu próximo com bom coração, ama de verdade o próximo como a ti mesmo!

Compreendeis, caríssimos? Não podemos dizer que Deus é o Senhor e, ao mesmo tempo, vivermos do nosso modo, como se nós próprios fôssemos o nosso Deus! Alguém que viva do seu modo, seguindo seus próprios critérios, alguém que se julgue o senhor do bem e do mal e veja, analise, julgue e aja de acordo com seus próprios pensamentos, gostos e prioridades, independente da vontade de Deus – e essa vontade de Deus não é teórica, distante, mas nos aparece nas Escrituras interpretadas pela Igreja com a autoridade de Cristo – alguém assim, mesmo que dissesse que acredita, não crê de verdade, não exprime na vida que Deus é seu Senhor! Ah, caríssimos, que há tantos crentes de nome e ateus de vida! Há tantos, como diz o Apóstolo, “que se comportam como inimigos da Cruz de Cristo. O seu fim será a perdição; o seu deus, é o ventre; e sua glória, eles a põem na própria ignomínia, já que só levam a peito as coisas da terra” (Fl 3,18-19). Viver na vontade do Senhor, abertos ao Senhor, àquele Deus Santo que se manifestou como Poder, Santidade, Sabedoria e Salvação na fraqueza, na maldição, na loucura e na perdição da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

     A mesma ideia aparece na segunda leitura de hoje: vede como São Paulo nos convida ter plena consciência de que não nos pertencemos: “Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” Somos santuário de Deus, isto é, somos templo, morada do seu Santo Espírito, aquele Espírito que Jesus morto e ressuscitado derramou em nossos corações desde o nosso Batismo. Então, como poderíamos viver do nosso jeito? Como poderíamos seguir a lógica da moda, da maioria, do mundo atual? Como poderíamos abraçar a louca e tola sabedoria do mundo atual? Que palavras claras e escandalosas as do Apóstolo: “Ninguém se iluda: se algum de vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez para se tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de Deus!” O que significam tais palavras? É preciso deixar nossa lógica mundana para abraçar a lógica de Deus; e esta lógica – nunca esqueçamos, nunca deixemos de repetir – manifestar-se-á sempre e somente na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo! Era isto que o nosso bendito Salvador dizia no Domingo passado e continua a dizer neste hoje: a nossa religião tem que superar a dos escribas e fariseus! Lembram de oito dias atrás? “Se a vossa justiça, isto é, se o vosso modo de praticar a religião, de cumprir os preceitos, não for maior que a justiça dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus!” Em que nossa prática deve ser maior? No modo de viver a religião: um modo interior, nascido do amor a Deus e aos irmãos; um amor que deixa de verdade Deus entrar, habitar em nós como num templo, nos questionar, nos transformar; uma prática da religião suscitada, sustentada, impulsionada, animada pelo Santo Espírito! Observai, amados no Senhor, como Jesus chama atenção não primeiramente para a letra do preceito, mas para o espírito, a intenção, a motivação com a qual se realiza o preceito: “Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente” – é justo, era a medida da justiça da Lei de Moisés e ainda hoje é a medida de todos os tribunais do mundo. Este preceito não é de vingança; é de justiça: um olho por um olho, um dente por um dente! “Eu, porém, vos digo: não só justiça, mas misericórdia, generosidade, porque vosso Deus é assim!” “Ouvistes o que foi dito: amarás a quem te ama, não tens obrigação para com teus inimigos. Eu, porém vos digo: amai a todos, amai sem esperar recompensa, porque o coração do vosso Pai no céu é assim!” Abri-vos, pois, irmãos meus, abri-vos para Deus, aquele Deus que vos deu tudo quando vos deu o Filho Único, o Amado, até a morte e morte de cruz!

Caríssimos, vivemos num mundo no qual o homem se colocou como o centro. Até mesmo na Igreja há pessoas que pensam num cristianismo à medida do homem e do gosto das modas atuais. Há cristãos, há teólogos que pensam assim: “Se fizermos como o mundo espera, vamos atrair o mundo para a Igreja; se fizermos adaptações no cristianismo e na Igreja ele se tornará atraente…” Não! É Cristo quem atrai, é Cristo crucificado e ressuscitado o critério! Não se trata de atrair para a Igreja, mas para o Jesus vivo e verdadeiro, com toda a sua verdade, com todo o seu amor, com toda a sua exigência que nos liberta, nos tira de nós e nos dá a vida em abundância! O resto é pensamento humano, vazio e estéril! Repito, caríssimos: o centro é Cristo Jesus que nos leva ao Pai: é ele o critério, é ele a medida, é ela a única verdade! Quando nos deixamos transformar por ele somos livres de verdade e de verdade damos glória a Deus. Nunca esqueçais, amados meus: “Tudo vos pertence, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. A ele a glória pelos séculos. Amém.

Henrique Soares da Costa

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