Homilia de Mons. José Maria Pereira – IV Domingo de Páscoa – Ano C

Domingo do Bom Pastor

Depois de várias aparições de Cristo ressuscitado às mulheres, aos apóstolos, aos discípulos, hoje Jesus se apresenta como o BOM PASTOR! É um título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.

A liturgia deste domingo convida-nos a meditar na misericordiosa ternura de nosso Salvador, para que reconheçamos os direitos que Ele adquiriu sobre cada um de nós com a sua morte.

No Evangelho (Jo 10, 27-30) encontramos Jesus, o Bom Pastor, que diz: “ minhas ovelhas ouvem a minha voz. Eu as conheço e elas me seguem. Eu dou a elas a vida eterna. Elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão” (Jo 10,27-28). Unicamente o Bom Pastor protege com imensa ternura o seu rebanho e defende-o do mal, e só nele os fiéis podem ter confiança absoluta.

 De todas as imagens atribuídas a Jesus, esta, sem dúvida alguma, é a mais querida. É uma imagem que transborda em ternura, cuidado, vida, salvação, confiança, amizade e intimidade. Estas e muitas outras características permitem à ovelha reconhecer a voz do Pastor em meio a tantas outras vozes; mas permitem, também, que o Pastor reconheça e conheça as ovelhas por seu próprio nome. Tudo isso nos faz ter uma certeza: todos temos um valor particular aos olhos do Senhor.

A porta do aprisco está aberta a todos e para passar por ela existe apenas uma única condição: ter a disposição para ouvir e reconhecer a voz do Pastor. E quem aceita as condições para passar pela porta do aprisco, será sempre muito bem acolhido e encontrará o dom da Ressurreição: “Eu dou-lhes (às minhas ovelhas) a vida eterna. Elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão” (Jo 10,28). Assim afirma Jesus, que pouco antes tinha dito: “O Bom Pastor dá sua vida pelas suas ovelhas” (Jo 10, 11). João utiliza o verbo oferecer, que repete nos versículos seguintes (15.17.18); encontramos o mesmo verbo na narração da Última Ceia, quando Jesus “depôs” as suas vestes para depois “as retomar” (Jo 13, 4.12). Claro que deste modo se deseja afirmar que o Redentor dispõe com absoluta liberdade da própria vida, de modo a poder oferecê-la e depois retomá-la livremente. Cristo é o verdadeiro Bom Pastor que deu a vida pelas suas ovelhas, por nós, imolando-se na Cruz. Ele conhece as suas ovelhas e as suas ovelhas O conhecem, como o Pai O conhece a Ele e Ele ao Pai (Jo 10, 14-15). Não se trata de mero conhecimento intelectual, mas de uma relação pessoal profunda; um conhecimento do coração, próprio de quem ama e de quem é amado; de quem é fiel e de quem sabe que, por sua vez, se pode confiar; um conhecimento de amor em virtude do qual o Pastor convida os seus a segui-Lo, e que se manifesta plenamente no dom que lhes faz da vida eterna (Jo 10, 27-28). 

Ensina o Concílio Vaticano II: “A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo (LG,6). No redil entram os pastores e as ovelhas. Tanto uns como outras hão de entrar pela porta que é Cristo. “ Eu, pregava Santo Agostinho, querendo chegar até vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos Cristo: se pregasse outra coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para mim a porta para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos vossos corações. Por Cristo entro gozosamente e escutais-me ao falar dEle. Por quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com o Seu Sangue”.

“… Ele caminha à frente e as ovelhas O seguem, porque conhecem sua voz” (Jo 10,4). Ora, a Igreja é Cristo continuado! Diz São Josemaria Escrivá: “Cristo deu à Sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente de graça dos sacramentos; e providenciou para que haja pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem constantemente o caminho. Dispomos de um tesouro infinito de ciência: a Palavra de Deus guardada pela Igreja; a graça de Cristo, que se administra nos Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão ao nosso lado e sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus” (Cristo que passa, nº 34). Jesus é a porta das ovelhas! Para as ovelhas significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as ovelhas possam encontrar as pastagens que dão vida.

Para os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas.

Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão?

Cristo é o nosso Pastor! Ele conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal.

A existência humana é bem complexa para que se possa vivê-la com segurança absoluta. Jesus, porém, oferece a quem O segue a direção exata e a proteção eficaz para evitar os elementos que podem prejudicar. Afirma o Sl 23(22), 4: “ Mesmo se eu tiver de andar por um vale de sombra mortal, não temerei os males, porque estás comigo”.

O Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas: – Uma vida de oração intensa; um confronto permanente com a Palavra de Deus e uma participação ativa nos sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.

Vale a pena ressaltar as palavras do trecho da leitura de hoje (At 13, 52):  “Os discípulos, porém, ficaram cheios de alegria e do Espírito Santo”. Apesar das incompreensões e dos contrastes, de que ouvimos falar, o apóstolo de Cristo não perde a alegria, aliás é a testemunha daquela alegria que brota do ser com o Senhor, do amor por Ele e pelos irmãos.

Nesse domingo celebramos 59° Dia Mundial de Oração pelas Vocações.

Tenhamos na mente e no coração as palavras de Jesus: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita”. Estas palavras do Mestre são a expressão de um coração cheio de compaixão: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36-38).  

Mons. José Maria Pereira

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