Homilia de Mons. José Maria Pereira – IV Domingo de Páscoa – Ano A

Domingo do Bom Pastor!

Neste Quarto Domingo de Páscoa, no qual a Liturgia nos apresenta Jesus como BOM PASTOR, celebra-se o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Em cada continente, as comunidades eclesiais invocam, em sintonia ao Senhor, numerosas e santas vocações para o sacerdócio, para a vida consagrada e missionária e para o matrimônio cristão e meditam sobre o tema que tem sido proposto pelo Papa. Nesse ano de 2023, o Santo Padre propôs o tema “Vocação: graça e missão”.

Depois de várias aparições de Cristo Ressuscitado às mulheres, aos apóstolos, aos discípulos, hoje Jesus se apresenta como o BOM PASTOR! É um título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.

Na primeira leitura (At 2,14-41) ouvimos o discurso de Pedro, no dia de Pentecostes. Ele se dirige à multidão dos judeus que não tinham ainda se convertido; explica-lhes o sentido da morte de Cristo, prepara-os para a fé e a conversão. O pescador da Galileia está fazendo sua primeira experiência como pescador de homens: “Naquele dia se uniram a eles cerca de três mil pessoas…” (Cf. At 2, 41).

No Evangelho (Jo 10, 1-10) ouvimos a palavra do próprio Cristo que nos fala em primeira pessoa: Eu sou o Bom Pastor: Eu sou a Porta. É uma catequese sobre a missão de Jesus: conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota a vida em plenitude. “Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que O segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais são afinal as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida. Procuremos, portanto, alcançar essas pastagens, onde nos alegraremos na companhia dos cidadãos do Céu. Que a própria alegria dos bem-aventurados nos estimule. Corações ao alto, meus irmãos! Que a nossa fé se afervore nas verdades em que acreditamos; inflame-se o nosso desejo pelas coisas do Céu. Amar assim já é pôr-se a caminho. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim” (São Gregório Magno).

O Evangelho de São João, no décimo capítulo, descreve-nos as características peculiares da relação de Cristo Pastor com o seu rebanho, uma relação tão estreita que jamais alguém poderá raptar as ovelhas da sua mão. De fato, elas estão unidas por um vínculo de amor e de conhecimento recíproco, que lhes garante o dom incomensurável da vida eterna. Ao mesmo tempo, a atitude do rebanho em relação ao Bom Pastor, Cristo, é apresentada pelo Evangelista com dois verbos específicos: ouvir e seguir. Estas palavras designam as características fundamentais daqueles que vivem o seguimento do Senhor. Antes de tudo, a escuta da sua Palavra, da qual a fé nasce e se alimenta. Só quem presta atenção à voz do Senhor é capaz de avaliar na própria consciência as justas decisões para agir segundo Deus. Por conseguinte, da escuta deriva o seguir Jesus: agimos como discípulos depois de ter ouvido e aceite interiormente os ensinamentos do Mestre, para os viver na quotidianidade.

O Bom Pastor aparece numa atitude de ternura com as ovelhas… Ele as conhece, as chama pelo nome, caminha com elas e estas O seguem. Elas escutam a sua voz, porque sabem que as conduz com segurança.

Em contraste com o Pastor, aparece a figura dos ladrões e dos bandidos. São todos os que se apresentam como Pastor, ou até falam em nome de Cristo, mas procuram somente vantagens pessoais. Além do título de Bom Pastor, Cristo aplica-Se a Si mesmo a imagem da porta pela qual se entra no aprisco das ovelhas que é a Igreja. Ensina o Concílio Vaticano II: “ A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo (LG,6). No redil entram os pastores e as ovelhas. Tanto uns como outras hão de entrar pela porta que é Cristo. “ Eu, pregava Santo Agostinho, querendo chegar até vós, isto é, ao vosso coração, prego-vos Cristo: se pregasse outra coisa, quereria entrar por outro lado. Cristo é para mim a porta para entrar em vós: por Cristo entro não nas vossas casas, mas nos vossos corações. Por Cristo, entro, gozosamente, e escutais-me ao falar dele. Por quê? Porque sois ovelhas de Cristo e fostes compradas com o Seu Sangue”.

Diz Jesus: “E depois de conduzir para fora todas as que são suas, ele caminha à frente e as ovelhas O seguem, porque conhecem sua voz” (Jo 10,4). Ora, a Igreja é Cristo continuado! Diz São Josemaria Escrivá: “Cristo deu à Sua Igreja a segurança da doutrina, a corrente de graça dos Sacramentos; e providenciou para que haja pessoas que nos orientem, que nos conduzam, que nos recordem constantemente o caminho. Dispomos de um tesouro infinito de ciência: a Palavra de Deus guardada pela Igreja; a Graça de Cristo, que se administra nos Sacramentos; o testemunho e o exemplo dos que vivem com retidão ao nosso lado e sabem fazer das suas vidas um caminho de fidelidade a Deus” (Cristo que passa, nº 34). Jesus é a porta das ovelhas! Para as ovelhas significa que Jesus é o único lugar de acesso para que as ovelhas possam encontrar as pastagens que dão vida.

Para os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas.

Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão?

Cristo é o nosso Pastor! Ele conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal. “Eu sou o Bom Pastor. Conheço as minhas ovelhas, isto é, eu as amo, e minhas ovelhas me conhecem” (Jo 10, 14). É como se quisesse dizer francamente: elas correspondem ao amor daquele que as ama. Quem não ama a verdade, é porque ainda não conhece perfeitamente.

Por isso, nesta passagem do Evangelho, o Senhor acrescenta imediatamente: “ assim como o Pai me conhece, eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas” (Jo 10, 15). Como se dissesse explicitamente: a prova de que eu conheço o Pai e sou por ele conhecido, é que dou minha vida por minhas ovelhas; por outras palavras, este amor que me leva a morrer por minhas ovelhas, mostra o quanto eu amo o Pai.

Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquece de continuar sua viagem até o fim.

Suas ovelhas encontram pastagem, pois todo aquele que o segue na simplicidade de coração é nutrido por pastagens sempre verdes. Quais são afinal as pastagens dessas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? Sim, o alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem cessar, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida.

A existência humana é bem complexa para que se possa vivê-la com segurança absoluta. Jesus, porém, oferece a quem O segue a direção exata e a proteção eficaz para evitar os elementos que podem prejudicar. Afirma o Sl 22(23): “ Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei; estais comigo…”.

O Divino Pastor é quem pode, realmente, ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).

Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três coisas: – Uma vida de oração intensa; um confronto permanente com a Palavra de Deus e uma participação ativa nos sacramentos, onde recebemos a vida, que o Pastor nos oferece.

Nesse domingo, ao celebrarmos o 60° Dia Mundial de Oração pelas Vocações, é válido ressaltar que uma vocação se realiza quando se sai da própria vontade fechada e da própria ideia de autorrealização, para se imergir noutra vontade, a de Deus, deixando-se guiar por ela. Também neste tempo, no qual a voz do Senhor corre o risco de ser abafada entre tantas vozes, cada comunidade eclesial está chamada a promover e cuidar das vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. De fato, os homens têm sempre necessidade de Deus, também no nosso mundo tecnológico, e haverá sempre necessidade de Pastores que anunciem a sua Palavra e façam encontrar o Senhor nos Sacramentos.

O tema e o lema do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, nesse ano de 2023, foram inspirados no Documento Final do Sínodo dos Bispos. O tema se pauta na fundamentação de que “a vocação aparece realmente como um dom da graça e de aliança, como o mais belo e precioso segredo de nossa liberdade”, segundo o Documento Final, nº 78. Já o lema “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24, 32 – 33) recorda a trajetória dos discípulos de Emaús. Ao escutar a Palavra de Deus o coração arde e os pés se colocam à disposição para anunciar a Boa Nova.

Confiemos os nossos propósitos e as nossas intenções à Virgem Maria, Mãe de todas as vocações, para que com a sua intercessão suscite e ampare numerosas e santas vocações ao serviço da Igreja e do mundo.

Mons. José Maria Pereira

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