Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – III Domingo do Advento – Ano C

Caros irmãos e irmãs,

Neste terceiro Domingo de Advento, conhecido como domingo “Gaudete”, a Liturgia da Palavra nos convida à alegria. O Advento é um tempo de compromisso e de conversão, para preparar a vinda do Senhor, mas a Igreja nos faz antecipar o júbilo do Natal já próximo. Como de fato, o Advento é também tempo de alegria, porque desperta nos corações dos fiéis a expectativa da vinda do Salvador. Este aspecto jubiloso está presente nas leituras bíblicas deste Domingo, bem como o tema da conversão em vista da manifestação do Salvador, anunciado por João Batista.

O convite do Apóstolo São Paulo aos fiéis de Tessalônica: “Irmãos, andai sempre alegres” (1Ts 5,16), exprime bem o clima litúrgico deste domingo “Gaudete”, expressão oriunda da palavra latina com que começa o canto de entrada da Santa Missa, segundo o gradual monástico: “Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete…” é uma exortação feita por São Paulo aos Filipenses, mas também endereçada a cada um de nós: “Alegrai-vos sempre no Senhor.  De novo eu vos digo: Alegrai-vos…” (Fl 4,4-5).  O tema da alegria aparece ainda como uma súplica ao Senhor na oração da coleta: “…daí chegarmos às alegrias da salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia”.

E neste cenário de alegria e festa é que somos conduzidos ao encontro com o Senhor que está para chegar. Ele vem para dar uma vida nova ao seu povo e nos conduzir à terra prometida.  Alegria porque também muito em breve estaremos celebrando o Natal do Senhor! Uma celebração que, por si só, nos remete à alegria, já manifestada no momento da anunciação do anjo a Maria: “Alegra-te, cheia de graça, porque o Senhor está contigo”.  A causa da alegria em Maria é a proximidade de Deus.  E João Batista, ainda não nascido, saltará de alegria no seio de Isabel ante a proximidade do Menino Jesus, o Messias que está para chegar.

O anjo dirá aos pastores, homens simples que vigiavam o rebanho durante a noite: “Eu vos anuncio uma grande alegria” (Lc 2,10). E acrescenta: “Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor”.  O Salvador que esperavam era o Messias.  Para eles o anúncio do nascimento do Salvador foi causa de alegria.  Em meio a tantas luzes que dissipam as trevas, podemos também lembrar de outra passagem do livro do profeta Isaias que disse: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). E exulta de alegria ao anunciar: “Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado” (Is 9,5).

Já na primeira Leitura temos um convite insistente à alegria. O trecho começa com esta expressão: “Alegra-te, filha de Sião! …Exulta e rejubila-te com todo o teu coração, filha de Jerusalém!” (Sf 3,14), que é semelhante à do anúncio do anjo a Maria: “Ave, cheia de graça!” (Lc 1,26). O motivo pelo qual a filha de Sião pode exultar é este: “O Senhor, está no meio de ti” (Sf 3,15.17). O profeta Sofonias deixa entender que esta alegria é recíproca: somos convidados a alegrar-nos, mas também o Senhor se rejubila pela sua relação conosco; com efeito, o profeta escreve: “Ele rejubila-se por causa de ti, e renova-te o seu amor e exulta de alegria por ti” (v. 17).

A alegria que é prometida neste texto tem o seu cumprimento em Jesus, que se encontra no seio de Maria, a “Filha de Sião”, e assim estabelece a sua morada no meio de nós (cf. Jo 1,14). Com efeito, vindo ao mundo Ele nos concede a sua alegria, como Ele mesmo confia aos seus discípulos: “Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11).  O amor de Deus por nós não só perdoa as nossas faltas, mas provoca a conversão, nos transforma e nos renova. Daí o convite à alegria: Deus está no meio de nós, nos ama, e, apesar de tudo, insiste em fazer caminho conosco. 

O Evangelho vem na sequência daquele que refletimos no domingo passado: o profeta João Batista indica, com pormenores concretos, como proceder para percorrer esse caminho de conversão e preparar a vinda do Senhor.  A primeira parte do Evangelho (v. 10-14), nos apresenta uma pergunta: “O que devemos fazer?”. Sugere uma abertura à proposta de salvação que vem de Deus. João Batista propõe, então, três atitudes concretas para quem quer fazer a experiência de conversão e de encontro com o Senhor.  Recomenda a sensibilidade às necessidades de quem nada tem e a partilha dos bens; aos publicanos, pede que não explorem, que não se deixem convencer por esquemas de enriquecimento ilícito, que não despojem ilegalmente os mais pobres; aos soldados, pede que não usem de violência, que não abusem do seu poder contra fracos e indefesos. João Batista põe em relevo os “crimes contra o irmão”: tudo aquilo que atenta contra a vida de um só homem é um crime contra Deus; quem o comete, fecha o seu coração e a sua vida à proposta de salvação que Cristo veio trazer.

Na segunda parte do Evangelho (v. 15-18), João Batista anuncia a chegada do batismo no Espírito Santo, contraposto ao batismo “na água” realizado por João, que é apenas uma proposta de conversão; mas o batismo ministrado por Jesus consiste em receber essa vida de Deus que atua no coração do homem, transforma o homem velho em homem novo, capaz de partilhar a vida e amar como Jesus. Faz-se, aqui, referência a essa transformação que Cristo operará no coração de todos os que estão dispostos a acolher a sua proposta. Começará, para eles, uma nova vida, uma vida purificada, uma vida de onde o pecado e o egoísmo foram eliminados, uma vida segundo Deus.

João Batista indica que devemos seguir o Cristo com fidelidade e coragem. E proclama com determinação: “Eu batizo-vos com a água, mas eis que virá Outro, mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias” (v. 16). Observamos a grande humildade de João, ao reconhecer que a sua missão consiste em preparar o caminho para Jesus. Afirmando “Eu batizo-vos com a água”, quer dar a entender que a sua unção é simbólica. Com efeito, ele não pode eliminar nem perdoar os pecados: batizando com a água, ele só pode indicar que é necessário mudar de vida.

Esta é a razão pela qual podemos prosseguir nosso itinerário com alegria, como nos exortou a fazer o apóstolo Paulo, porque a nossa salvação já está próxima. O Senhor vem! Com esta consciência empreendemos o itinerário do Advento, nos preparando para celebrar com fé o extraordinário acontecimento do Natal do Senhor. Vigilantes na oração, procuremos também preparar o nosso coração para acolher o Salvador que virá para nos mostrar a sua misericórdia e para nos doar a salvação.

Esta vinda de Deus, que se fez menino e nosso irmão, para permanecer conosco e compartilhar a nossa condição humana, se traduz em alegria.  Somos chamados à alegria por estar se aproximando a sua chegada. Ele está próximo e em breve o Cristo estará conosco no Natal. Só o pecado nos afasta dele, porém, mesmo quando nos afastamos, Ele não deixa de nos amar e continua próximo de nós com a sua misericórdia e disponibilidade a perdoar e nos acolher no seu amor. E este já é um grande motivo de alegria: saber que o Senhor está sempre conosco.

Efetivamente, a alegria só é completa quando reconhecemos a sua misericórdia, quando nos tornamos atentos aos sinais da sua bondade e realmente sentimos que esta bondade de Deus está conosco, e agradecemos aquilo que recebemos dele todos os dias.

Como foi possível constatar, a liturgia deste dia nos exorta à alegria, mas também nos exorta à conversão. Abramos o nosso espírito a este convite; corramos ao encontro do Senhor que vem, invocando e imitando a Virgem Maria que, silenciosa e orante, esperou e preparou a Natividade do Redentor, que vem ao mundo para nos proporcionar a alegria e a paz.  Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ

 

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