Profeta
Acabamos de escutar que “nenhum profeta é bem recebido na sua própria terra”. E por quê? Eu acho que não se pode responder a essa pergunta se antes não se sabe o que é um profeta. Como você imagina o imagina? Às vezes se pensa que o profeta é um ser absorto em contemplação, um tanto distraído, num estado de exaltação mística que o faz praticamente alienado da terra; outras vezes, como um sujeito estranho, com umas roupas estragadas, barbas sem fazer, uma pessoa que vive denunciando e gritando contra tudo aquilo que é oposto à causa de Deus; a terceira imagem que me vem à mente é a de um homem que parece que tem uma bola de cristal para adivinhar o futuro, profeta acaba sendo alguém que sabe o futuro. Pura imaginação! Eu nunca vi nenhuma dessas três imagens na vida real, contudo conheço vários profetas: cada cristão, pelo batismo, é sacerdote, profeta e rei!
Há algum tempo, você e eu refletimos o evangelho juntos e talvez você tenha observado que um dos nossos objetivos, talvez o principal, é encontrar nas páginas do evangelho o próprio Jesus Cristo que vem ao nosso encontro no nosso cotidiano. Trata-se de buscar força, exemplo e luz para a vida do cristão normal. No evangelho, Cristo nos encontra e nós o encontramos. Jesus participa do nosso dia-a-dia, no qual não acontece praticamente nada espetacular. Dentro desse realismo evangélico, profeta é qualquer cristão: esse homem ou essa mulher, pai ou mãe de família, jovem ou ancião, criança ou adolescente, que se veste normal, com amigos normais, em pleno uso de suas faculdades mentais e que, com a sua vida e com a sua palavra, anunciam Jesus Cristo no mundo de hoje no próprio ambiente. Profeta é você, profeta sou eu.
O profeta é uma pessoa que foi introduzida no Mistério de Cristo através do Batismo, que “viu” – com os olhos da fé – o Pai e o Filho e o Espírito Santo, e entendeu o plano de Deus para a humanidade e para cada ser humano. Depois dessa proximidade com Deus, o cristão-profeta se dedica a anunciá-lo convencido de que seguir o desígnio de Deus é o que realmente realiza o ser humano em quanto tal. Essa visão sobrenatural do profeta pode produzir, e de fato produz, verdadeiros choques na cultura atual cuja visão materialista, hedonista e naturalista se vê denunciada. No entanto, a denúncia é uma conseqüência do anúncio. Eu acho que não deveríamos descrever como tarefa principal do profeta a denúncia, mas o anúncio. Nós somos anunciadores e edificadores. O cristão não é um desmancha-prazer, um destruidor de coisas boas, um amargado com vontade de amargar a vida dos outros. Se um filho de Deus chega a destruir algo é simplesmente como consequência do anúncio de edificação. Como os fundamentos nem sempre estão prontos para receber o evangelho, eles caem, mas imediatamente se construirá e se fará um edifício muito mais forte e belo que o anteriormente edificado.
Neste sentido, entende-se a frase do Senhor quando diz que o profeta não é aceito na sua própria terra e, no entanto, Jesus não diz que isso tenha que ser sempre assim. O cristão, onde quer que esteja deve procurar conquistar todos para Cristo com o seu humanismo, o anúncio do Evangelho e o poder da graça. E se o profeta e sua mensagem não forem aceitos? Pelo menos fez a sua parte. Aplicar-se-á a frase do Senhor de que não é aceito, mas não se dedicará a sentir-se vítima dos demais e a reclamar; simplesmente sacudirá a poeira dos seus pés contra aqueles que não querem receber o seu anúncio e se dedicará a outros. Além do mais, com paz, com serenidade e com um sorriso nos lábios, deixará o caminho aberto caso queiram voltar a buscar a verdade de Deus junto a ele, profeta de Cristo.
Uma última consideração: um profeta de Deus diz sempre a verdade. Procurará dizê-la sempre com graça humana e sobrenatural, mas a dirá! Uma coisa é a simpatia para dizer as coisas, outra é enganar. Desses últimos profetas estamos fartos: eles deveriam falar em nome de Deus e não falam, leigos que tem vergonha de dizer que são católicos, sacerdotes que não tem coragem de falar que utilizar anticoncepcional é pecado, jornalistas que disfarçam a verdade com meias mentiras. Não! Assim não se é profeta! Não podemos ser como cães que não ladram.
Pe. Françoá Costa