Homilia do Padre Françoá Costa – XI Domingo do Tempo Comum – Ano C

Contrição e conversão

 

Puxa vida! Como essa mulher chorava! “As suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume” (Lc 7,38). Isso sim que é arrependimento. Jesus disse que os “seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor” (Lc 7,47). A esse tipo de arrependimento a Igreja chama contrição porque está movido pelo amor, diferente da atrição, arrependimento movido pelo temor. A contrição limpa totalmente a alma, purifica-a e faz com que fluam os propósitos de uma vida nova.

A história da Igreja está cheia de famosos pecadores que se converteram ao Senhor, um dos mais conhecidos pelas suas próprias Confissões – livro clássico que vale a pena ser lido – é Santo Agostinho. Foi esse santo quem deixou escrita aquela frase tão conhecida e citada: “fizeste-nos, Senhor, para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti”. É verdade, o coração humano não poderá encontrar repouso senão no Senhor. Bento XVI, ao chegar a Portugal, no começo da sua visita, sentenciou: “a relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade na sua estrutura cognitiva, tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética. A consciência é cristã na medida em que se abre à plenitude da vida e da sabedoria, que temos em Jesus Cristo”.

Geralmente, os convertidos mostram ser pessoas fervorosas. Às vezes são pessoas que conheceram os abismos do pecado e do demônio, que desceram até aos abismos da morte espiritual e, por tanto, ao serem libertadas do diabo e do pecado, sabem valorizar a graça de Deus que lhes alcançou: ser cristão, ser católico; poder confessar-se com frequência; participar do Sacrifício de Cristo Salvador em cada Santa Missa; conversar com Deus na oração; viver uma vida limpa, honesta, livre das cadeias do mal e do pecado.

A contrição que os conversos manifestam me ajuda a pensar na sinceridade do meu amor para com Deus. Eu acho que nós, católicos “de sempre”, deveríamos aprender algo do fervor dos conversos. Sem dúvida, quando a vida de fé vai madurando se vê mais e melhor; não obstante, nunca podemos afastar-nos do nosso primeiro amor, dessa visão das coisas que nos foi concedida e que mudou o rumo da nossa vida. Não nos esqueçamos daquelas palavras do Espírito Santo: “trabalhai na vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2,12).

Aquela mulher percebeu algo do amor de Deus para com ela, viu também que tinha ofendido a esse Deus tão bom e amável e, diante dessa evidência, não pode fazer outra coisa que derramar abundantes lágrimas. O ato de contrição nos leva a perceber que “Deus é amor” (1 Jo 4,8.16) e que nós ofendemos a alguém que só quer o nosso bem e a nossa felicidade; em segundo lugar, que não podemos fazer nada a não ser pedir perdão, chorar e implorar misericórdia no sacramento da confissão. É muito oportuno recordarmos aquelas palavras do Papa Francisco que tanto nos consolam: o Senhor “nunca se cansa de perdoar, mas nós às vezes cansamo-nos de pedir perdão. Não nos cansemos jamais, nunca nos cansemos! Ele é o Pai amoroso que sempre perdoa, cujo coração é cheio de misericórdia por todos nós”.

Além disso, peçamos a Deus que nos livre da atitude do fariseu que, além de ter sido pouco educado– não ofereceu água a Jesus para lavar os pés, não lhe deu o ósculo, não ungiu a cabeça de Cristo –, começou a julgar aquela pobre mulher. Infelizmente, às vezes, em lugar de alegrarmo-nos por um irmão que se converte, começamos a julgá-lo; essa atitude não é cristã. Precisamos ser mais acolhedores e alegrar-nos mais com os outros, celebrar festivamente o fato de que uma pessoa se aproxima do Senhor. Ele é o nosso Deus e quer sempre o nosso bem.

 

Pe. Françoá Costa

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